Integrais de Beethoven são valiosas por conterem obras de diferentes fases da vida do compositor. Os estudiosos dividem sua criação musical em três períodos, e todos estão muito bem caracterizados no conjunto de sonatas para piano, no de quarteto de cordas e no de sonatas para violoncelo e piano, que serão tocados na segunda edição do festival Rio Folle Journée, que começa esta quarta-feira e vai até domingo no Rio ( veja a programação completa ).
Na fase inicial, o estilo é muito influenciado por Haydn (que foi seu professor) e outros precursores imediatos, nos moldes do classicismo, mas com lampejos do caráter enérgico que viria a aflorar no período intermediário. Neste, Beethoven faz música heróica, épica, com extensões dinâmicas e formais mais amplas do que jamais se ouvira e com profunda expressividade. É o marco inicial do Romantismo na música. Na fase tardia, toma um caráter metafísico e, em algumas obras, traz melodias e estruturas que se expandem ao ponto da abstração. É transcendental.
Ver todas as integrais do festival Rio Folle Jornée será impossível porque há recitais simultâneos. Mas, para os interessados em fazer essa incursão via CD, aí vão os mais recomendados pela crítica internacional:
QUARTETOS DE CORDAS: O Takács Quartet, da Hungria, gravou todos com louvor. São sete CDs, do selo Decca, lançados em três volumes. O Alban Berg Quartett, que toca no Rio este ano, tem duas gravações aclamadas, ambas pela EMI, de 1985 (em estúdio, numa caixa com sete discos) e de 1989 (ao vivo, com aplausos). Pela Philips, o Quartetto Italiano tem uma versão gravada entre 1967 e 1975, em dez CDs, muito indicada pela crítica, mas com andamentos um tanto lentos (profundos e reveladores para alguns, cansativos para outros). O oposto disso é o puro virtuosismo do Quarteto Emerson, em sete CDs da Deutsche Grammophon, outra forte indicação. A integral do quarteto Végh, pelo selo Astrée Naïve, também tem fãs ardorosos, mas é bom avisar que a respiração forte dos músicos é bem audível.
SONATAS PARA PIANO: O pianista austríaco Alfred Brendel fez três ciclos completos, o primeiro pelo selo Vox e os outros pela Philips. O último, gravado nos anos 1990, compõe uma caixa de dez CDs que costuma ser a primeira recomendação na lista dos críticos. Outro pianista vivo que tem uma gravação recomendadíssima é Richard Goode, pela gravadora Nonesuch, em dez CDs. Dos antigos, os intérpretes mais famosos são Artur Schnabel, na EMI, primeiro a gravar o ciclo completo, entre 1932 e 1938 (muito poético e musical, embora tecnicamente imperfeito) e Wilhelm Kempff, que tem uma gravação em som mono e outra em estéreo, pela Deutsche Grammophon. A primeira, feita entre 1951 e 1956, é mais cultuada. Nem tão velho, nem tão novo, Friedrich Gulda é outro ícone nesse repertório. Seu ciclo está em nove CDs, do selo Brilliant Classics.
SONATAS PARA VIOLINO E PIANO: O violinista Itzhak Perlman e o pianista Vladimir Ashkenazy têm uma gravação aclamada da década de 1970 pela Decca, em quatro CDs. Bem mais antiga, mas ainda muito respeitada, é a gravação de Wolfgang Schneiderhan e Wilhelm Kempff, de 1952, em três CDs da Deutsche Grammophon.
SONATAS PARA VIOLONCELO E PIANO: Alfred Brendel e seu filho Adrian Brendel fizeram recentemente uma bela gravação para a Philips. O mesmo selo tem uma versão clássica que une os gigantes russos Mstislav Rostropovich, um dos maiores nomes do violoncelo, e Sviatoslav Richter, um dos maiores do piano. A Deutsche Grammophon tem sua equivalente com Wilhelm Kempff e Pierre Fournier.
TRIOS COM PIANO: Nesse repertório, a referência máxima é o Beaux Arts Trio, do pianista alemão Menahem Pressler e do violoncelista brasileiro Antonio Meneses, que tocarão as sonatas para violoncelo e piano de Beethoven no festival. A aclamada gravação desses trios foi feita em 1980, quando o brasileiro ainda não tinha entrado no grupo. O violoncelista era Bernard Greenhouse e o violinista, Isidore Cohen. O selo é Philips.
Eduardo Fradkin - O Globo
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