terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Olivier Messiaen, "Quarteto para o Fim dos Tempos" 1º mov.

"Quatuor pour la Fin du Temps"

"Quarteto para o Fim dos Tempos"
Para piano, clarinete, violino e violoncelo

Composta a partir de maio de 1940 no campo de prisioneiros Stalag VIIIA e executada pela primeira vez no mesmo local no dia 15 de janeiro de 1941 para 5000 prisioneiros. A partitura é encabeçada com o seguinte excerto do Apocalipse de São Jõao (10, 1-7): “Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo, quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.

A estruturação do Quatuor em oito movimentos é explicada por Messiaen da seguinte forma: “Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo Sábado divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz inalterável”.

1º mov. "Liturgie de Cristal"

- Liturgia de Cristal

O clarinete, logo suportado por salpicos assimétricos de acordes no piano, abre o andamento com uma melodia quase bucólica no que é seguido por outra de natureza idêntica ao violino, enquanto o violoncelo num registo agudo vai distendendo lânguidas notas que dão ao todo uma cor diluída, um ambiente. O diálogo entre clarinete e violino (dir-se-ia entre dois pássaros) vai decorrendo ao sabor de um sem-tempo plácido, crescendo pouco a pouco em intensidade, mas sem nunca chegar a um paroxismo. A peça não termina propriamente: como que se extingue num sopro. O que não é de todo arbitrário, pois esta é baseada numa estrutura lógica e complexa (de "cristal") que, se consumada, demoraria cerca de duas horas a tornar ao ponto de partida. Uma clara interrogação sobre a experiência moderna do tempo útil.

“Principia com o despertar dos pássaros entre três e quatro horas da manhã. Um melro ou um rouxinol solista improvisa, acompanhado por um conjunto de trilos perdidos no alto das árvores. Esta cena transposta para o plano religioso significa o silêncio harmonioso do céu”.

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