Aos 40 anos, Steven Aman, um químico americano, começou a fazer o bem – como trabalho ambiental voluntário ou doações de sangue – e descobriu que recebeu muito mais que doou. “Jamais pensei que alguém pudesse se sentir gratificado doando, sem esperar nada em troca.” Ele se sentiu tão bem que começou a seguir o costume indígena de pegar algo que não usava e colocar num lugar onde outros pudessem pegar caso precisassem. O que ele acabou oferecendo foi algo bastante especial: o próprio rim.
Steve é o que se chama de um doador anônimo em vida (DAV), que doou seu rim para um dos milhares de pacientes que aguardam um transplante. Esse órgão esponjoso no formato de um feijão é tão precioso que há alguns anos alguém tentou leiloar seu rim pelo site ebay, nos Estados Unidos. Antes que a transação fosse abortada por ser uma negociação ilegal de órgão, os lances já tinham chegado a US$ 5,7 milhões!
Desde o início das doações de órgãos nos anos 1960 (muito depois que o mítico deus grego Prometeu sacrificou seu fígado por ter entregue a dádiva do fogo à humanidade), os especialistas médicos e psicólogos têm suspeitado da saúde mental dos doadores. A pesquisadora canadense Antonia Henderson constata: “Essas pessoas simplesmente me deixam perplexa. Qual é o benefício psicológico obtido por uma pessoa perfeitamente saudável ao se comprometer fisicamente desse modo? Um transplante de pai para filho é fácil de entender, mas doar seu rim para alguém completamente estranho! Por favor, será que alguém pode me explicar essas pessoas?”.
Altruísmo – especialmente do tipo DAV – parece contradizer as teorias dos biólogos evolutivos, conhecidas por “benefício da troca” ou “altruísmo direcionado ao parentesco”. Segundo elas, o que parece ser uma generosa boa ação é meramente uma estratégia para fazer com que os outros o ajudem também. Ou uma forma de preservar os parentes, que carregam seus genes. Steven tenta explicar. “Não fiz nada de extraordinário. Eu só queria ser um instrumento disponível, agradecido por ser usado pelo Espírito.”
Os sintomas físicos do altruísmo foram recentemente mostrados num experimento feito pelo psicólogo Ulrich Mayr, na Universidade do Oregon, nos EUA, e publicado na revista Science. Saber que seu dinheiro vai para uma boa causa ativa os mesmos centros de prazer no cérebro que são estimulados por comida e sexo. Dezenove voluntários receberam US$ 100 cada um. Sua atividade cerebral foi rastreada quando eles viram o dinheiro sendo automaticamente transferido de suas contas para um fundo de caridade. Isso ativou uma antiga parte do cérebro – o núcleo acumbens – ligada ao prazer. O efeito foi ainda maior quando eles optaram por doar o dinheiro. “O que realmente interessa é que essas áreas de prazer existem para necessidades básicas, como alimento, sexo, doces e abrigo. São as áreas que dizem a nosso cérebro o que é bom para nós”, disse Mayr.
“O resultado mais surpreendente é que esses centros básicos de prazer não respondem apenas àquilo que é bom para nós mesmos. Eles também rastreiam o que é bom para outras pessoas.” E uma vez que ninguém – nem mesmo os pesquisadores – sabia quanto dos US$ 100 aqueles voluntários decidiram guardar consigo ou doar, foi o ato de doar em si, e não a recompensa egoísta de ser reconhecido como um filantropo, que proveu a satisfação. “O fato de acharmos prazeroso pagar até mesmo os impostos obrigatórios para o bem-estar dos outros sugere fortemente a existência de um puro altruísmo”, conclui Mayr. “O que demonstra que somos capazes de nos sentir bem ao fazer a nossa parte.”
Susan Andrews
Psicóloga e monja iogue. Autora do livro Stress a Seu Favor, ela coordena a ecovila Parque Ecológico Visão Futuro.
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