quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Cientista cria ilusão de ‘sair do corpo’

Henrik Ehrsson e um voluntário durante a pesquisa (Foto: Science)
Experiência é normalmente relatada por pessoas em perigo de vida. Pesquisador acredita que feito terá implicações na medicina e na indústria.

Com apenas uma câmera de vídeo e óculos especiais, um neurocientista sueco conseguiu reproduzir artificialmente a sensação de “se ver fora do corpo” -- experimentada por pessoas em situações de perigo extremo, como acidentes de carro ou ataques cardíacos -- em pessoas totalmente saudáveis.

A sensação de estar acordado e se ver de fora de seu próprio corpo é um dos mistérios mais polêmicos da humanidade. Essa experiência normalmente acontece no meio de cenas perigosas e ameaçadoras e por isso muitos acreditam que isso indique a existência de uma outra vida após a morte. Para os neurocientistas, mesmo após inúmeros estudos, suas bases continuam incertas.

“A existência das experiências fora do corpo levantou perguntas fundamentais sobre a relação entre a consciência humana e o corpo”, afirmou o pesquisador que realizou o feito, Henrik Ehrsson, do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia.

Ehrsson colocou uma câmera filmando as costas de seus pacientes e depois os fez vestir óculos que mostravam as imagens da câmera. Ou seja, a pessoa enxergava as próprias costas, como se fosse alguém sentado atrás de si. Depois, o cientista tocava o peito do voluntário ao mesmo tempo em que fingia tocar uma região abaixo da câmera (veja foto), como se fosse o peito da pessoa de trás. A união da sensação tátil à imagem fez os participantes terem a impressão de que estavam fora de seu corpo. A experiência, de acordo eles, foi “bizarra”.

A sensação é tão real que o pesquisador decidiu levar o teste mais a fundo. Em vez de apenas tocar, Ehrsson fingiu que atingiria a pessoa virtual com um martelo. Os participantes imediatamente reagiram como se a ameaça fosse contra o corpo real.

“Essa ilusão é importante porque ela revela o princípio básico que produz a sensação de se estar fora de seu corpo físico. Isso representa um avanço signficativo, porque sentir o próprio corpo como o centro da consciência é um aspecto fundamental da auto-consciência”, explica o cientista. Para o neurocientista Peter Brugger, chefe da Neuropsicologia do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, os resultados são compatíveis com seus trabalhos na área. Brugger é um dos maiores especialistas do mundo no assunto e já identificou uma área do cérebro relacionada com esse tipo de sensação.

“Por mais de um século, as experiências fora do corpo são relatadas pela parapsicologia com detalhes entendiantes de tão repetitivos. Para mim não é uma surpresa que, apesar da preocupação antiga dos parapsicológos com o fenômeno, a tentativa de sucesso de reproduzi-lo em laboratório venha da psicologia e neurociência ‘normais’. Mais uma vez isso mostra que a parapsicologia é uma empreitada melhor definida como uma ‘busca pela alma’ do que como uma ciência empírica”.

No entanto, Brugger alerta que não foi a “experiência” de sair do corpo em si que Ehersson reproduziu, mas apenas uma ilusão. “Nenhum dos voluntários seriamente se considerou fora do próprio corpo. Todos eles falam ‘como se eu estivesse’, o que é bem diferente de quem passa por isso no cotidiano”, explica. “Novas pesquisas precisam ser feitas para investigar isso”.

Videogame extremo
Ehrsson afirma que seu feito não terá aplicações apenas na medicina, mas também na indústria. “Se pudermos projetar pessoas em um personagem virtual, para que elas sintam e respondam como se fossem mesmo uma versão virtual de si mesmas, imagine as implicações. A experiência de jogar videogames pode alcançar um outro nível, mas as coisas podem ir muito além. Por exemplo, um cirurgião poderá realizar cirurgias à distância, controlando um ‘eu’ virtual”.

G1

Nenhum comentário:

 
Locations of visitors to this page