Pablo Picasso faria 125 anos em outubro. Mas as celebrações já começaram. Pela primeira vez os dois maiores museus da Espanha, o Prado (arte clássica) e o Rainha Sofia (arte moderna) se unem para uma exposição conjunta de comemoração: "Picasso, Tradição e Vanguarda".
A retrospectiva mais completa do pintor e escultor espanhol custou 2 bilhões de euros (cerca de R$ 6 bi) e é um passeio, através de mais de cem obras, por todas as etapas do artista mais valorizado do século 20.
"Estamos diante de um momento histórico. É muito emocionante ver a evolução de Picasso nessa cronologia", afirmou a diretora do Museu Rainha Sofia, Ana Martínez Aguilar.
Picasso é o único pintor com seis museus exclusivamente dedicados a ele em vários países. É recordista de vendas, com 21 dos 100 quadros mais caros do mundo. O mais caro, Garçon a la pipe, foi vendido por US$ 104 milhões em 2004.
"Certamente, a mostra é histórica em muitos sentidos. Especialmente para interpretar a trajetória do pintor mais influente do século 20", disse a crítica de arte Carmen Farel.
Rosa e azul
A mostra dividida entre os dois museus - percurso que o visitante pode fazer a pé - descreve a carreira desde o início do século até o final da vida de Picasso em 1973 na França.
Filho de um professor de arte, Picasso nasceu em Málaga em 1881. Começou a pintar sob a influência de mestres como Velásquez e Goya, e as primeiras fases da sua carreira foram descritas como Rosa e Azul (1903 e 1907), marcados pela temática sórdida e melancólica.
Viajou à França para seguir sua formação e acabou exilado pela Guerra Civil Espanhola. Ali criou o cubismo e encontrou nos relacionamentos afetivos passionais uma fonte contínua de inspiração. Picasso pintou suas grandes paixões: mulheres, touros e a ira ante as guerras.
"Essa mostra é uma visão essencial da obra dele. A história criativa de Picasso está muito unida à história da arte do século 20", explicou o diretor do Museu do Prado, Miguel Zugaza.
Durante a primeira parte da mostra no Prado, Picasso 'visita' os clássicos que o inspiraram. No Rainha Sofia aparece o pintor em suas etapas mais modernas, considerado o melhor de sua criação no exílio.
Guernica
A exposição comemora também duas outras datas: os 25 anos da volta à Espanha do quadro mais famoso de Picasso, Guernica, e os 70 anos de sua nomeação como diretor do Prado.
Guernica representa um bombardeio militar sobre a população civil na cidade basca que deu nome ao quadro. O ataque foi um pedido do ditador Francisco Franco às tropas nazistas de Hitler para acabar com um foco de resistência republicana no ínicio da Guerra Civil Espanhola.
E Hitler aproveitou a oportunidade para treinar seus aviões de combate antes da Segunda Guerra Mundial.
Comunista confesso, Picasso recebeu a encomenda de pintar o quadro para o pavilhão espanhol da Exposição Mundial de Paris em 1937. Era o início da guerra civil, quando a Espanha ainda tinha regime republicano e começavam os ataques militares franquistas.
"Esteve cinco meses atormentado com a idéia do bombardeio, lembrando da sua familia e dos seus amigos na Espanha, sua gente da qual não tinha notícias. Sentia-se muito angustiado."
"Em um mês sofreu uma espécie de frenesi, pintando sem parar. Estava consciente de que era sua obra prima, de que Guernica já ia além da arte", disse o curador da exposição, Francisco Calvo.
Ao terminar o quadro Picasso deixou expresso oficialmente que só permitiria que Guernica viajasse à Espanha após a morte de Franco. Até 1981 ficou no Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York e desde então esteve em vários países, mas mantém sua sede definitiva no Rainha Sofia.
A mostra "Picasso, Tradição e Vanguarda" estará aberta ao público de 6 de junho até 25 de setembro, e conta com quadros de museus internacionais e colecionadores privados. Alguns deles nunca foram expostos antes na Espanha.
"Quando alguém pergunta pelo sentido da arte, Guernica serve como resposta: situar-nos e reconhecer-nos como seres humanos. Por isso Picasso foi um homem à frente de seu tempo", disse Francisco Calvo.
Os museus Casa Natal de Picasso de Málaga e Museu Picasso de Barcelona também farão, ao longo do ano, projetos comemorativos pelos 125 anos do pintor.
Anelise Infante - Madrid
BBC Brasil
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