segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ninguém deve censurar a opinião

A Federação Israelita foi colocada na posição de censora ou de quem interfere ideologicamente em decisões sobre uma escola de samba, em resposta à cortesia de uma visita. O desconhecimento dos fatos pode levar a declarações como a de Adriano Silva em seu artigo "Ninguém deve censurar o Carnaval" http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81315-9555,00.html, (ÉPOCA 506/2008) que só trazem discórdia e divisão na sociedade.

No caso do carro do Holocausto da Unidos do Viradouro, a Fierj, ao receber a visita dos dirigentes da escola, não economizou elogios ao carnavalesco Paulo Barros por sua vontade de usar a arte como transformadora da sociedade e declarou que não havia qualquer conotação de racismo ou preconceito. O que havia era a inadequação do tema dentro do enredo. Não víamos como um carro repleto de cadáveres, dentro de um enredo com outras emoções de arrepiar, poderia representar uma denúncia do anti-semitismo, para que este nunca mais aconteça. Julgávamos que a população poderia não entender esta mensagem e que isto banalizaria o maior crime cometido contra a humanidade, aí sim uma situação que não desejamos. Ainda existem sobreviventes do inferno nazista ou seus descendentes de primeira geração, aí incluindo nossos pracinhas, que merecem o mais completo respeito. Solicitamos ao carnavalesco, com sua sensibilidade de artista, que percebesse que sua denúncia poderia ser confundida com a tragédia da TAM ou com outras, como o foi segundo pesquisa de jornal de grande circulação. Ficamos estarrecidos de verificar na quinta-feira à noite que a escola pretendia usar um figurante fantasiado de Hitler. Absurdo total, que nos obrigou a buscar a ferramenta da democracia. A Justiça concedeu liminar para que o desrespeito à memória dos que morreram possa ser evitado.

Só mesmo alguém que não gosta da opinião discordante é que pode enxergar uma tentativa de censura prévia, que não houve nem cogitada foi. A tentativa de colocar em nossa opinião aquilo que não pensamos é querer censurar o direito de nossa Federação de dizer o que pensa. Pretender dizer que existe uma ala da comunidade querendo deixar as feridas abertas, por conta de nossas colocações, é ofensivo. Os que criticam a Fierj censuram nosso direito de garantir o não esquecimento. Afirmar que se deve "quebrar a reserva de mercado da dor", uma insinuação ultrajante de que utilizamos a dor de forma exclusiva, só mostra o total desconhecimento do que foi o Holocausto e da dor que causou a toda a humanidade.

Não se pode aceitar, por conta de nosso cuidado em preservar a memória dos que sofreram, que pretendemos usar a tragédia como combustível de nossas vidas. O respeito à opinião deve ser garantido por aqueles que querem ser respeitados. A Fierj neste episódio só fez isto. Respeitar. E não aceita o desrespeito como contrapartida.

Sérgio Niskier
Presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj)

Nenhum comentário:

 
Locations of visitors to this page