segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Uma viagem no tempo


Olhe bem esta foto. Você verá muitas estrelas, algumas galáxias e, lá no meio, indicado por duas linhas quase na vertical, existe um quasar. Ele quase não aparece, mas está lá. A imagem desta foto tem o tamanho aproximado da Lua Cheia no céu, mas o que a torna especial não é isso. Ela é uma visão do passado, quase um "túnel do tempo"
!Por causa da limitação da velocidade da luz (uma das bases da relatividade), a luz de galáxias e estrelas não chegam instantaneamente até nós. Quanto mais distante um objeto, mais tempo leva para chegar a luz. Até mesmo com o Sol, que está aqui ao "lado", temos um "atraso". A luz que nos chega agora partiu de lá há uns 8 minutos -- o Sol está a 150 milhões de quilômetros, ou a 8 minutos-luz de distância da Terra.
Voltando à foto, as estrelas estão por perto na Via-Láctea, as mais próximas (as mais brilhantes) estão a algumas dezenas de anos-luz, e as mais distantes, a algumas dezenas de milhares de anos-luz. Já as galáxias estão a milhões e milhões de anos-luz, o que significa que, dependendo da direção olhada, você verá uma idade diferente do universo, com as informações de cada uma das idades. Agora, olhando para o centro da foto, você verá um dos mais distantes (e antigos) objetos conhecidos do universo até o momento: o quasar CFHQS 1641+3755.
Um quasar é na verdade um buraco negro supermassivo devorando matéria no núcleo de uma galáxia. Este em específico está a 12,7 bilhões de anos-luz! Isto significa que a luz que nós vemos hoje partiu de lá quando o universo tinha 7% da idade atual. Objetos tão distantes como esse são usados para estudar os momentos iniciais do universo. Este quasar, por exemplo, é testemunha de uma época conhecida como Era da Reionização, quando as primeiras estrelas do universo se formaram e começaram a ionizar o meio interestelar. O estudo dessas estrelas é um dos assuntos mais interessantes da atualidade, pois não seria difícil de se formar uma estrela de hidrogêncio puro com mais de mil massas solares! Hoje em dia isso não é mais possível e o limite teórico está em "apenas" em 150 massas solares.
Cássio Leandro Barbosa - Pós-doutorado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e professor da Universidade do Vale do Paraíba, em São José dos Campos (SP).

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