domingo, 25 de maio de 2008

“Conquistei muito mais que sonhava”


O tricampeão de Roland Garros fala de suas maiores conquistas e diz que “só teve alegrias" em sua carreira. (Época, Ed. 523)


Você se arrepende de não ter encerrado a carreira no auge?
Márcio da Silva, Oscar Bressane, SP

Gustavo Kuerten – Não. Acho que me sinto bem com tudo e com todas as escolhas que fiz. Quando era número 1, tinha de continuar jogando, era meu momento. E, nos últimos anos, me dediquei a tentar jogar.

A perda recente de seu irmão (Guilherme, que tinha paralisia cerebral, em novembro de 2007) pesou na decisão de sua aposentadoria?
Mirian Lucenas, São Paulo, SP

Guga – Não. Essa idéia já vinha passando por minha cabeça e amadureceu no finalzinho do ano passado, começo deste ano.

De qual título você mais se orgulha? E qual foi o mais difícil?
Bruno Wroblewski, Jaraguá do Sul, SC

Guga – O que mais me orgulha é o de Lisboa (Masters Cup, em 2000). Foi uma conquista diferenciada, num piso que não era o saibro, meu “ganha-pão”, ganhando do (Pete) Sampras e do (Andre) Agassi em seqüência e terminando como número 1 do mundo, o que era algo quase impossível de acontecer quando o torneio começou. Posso dizer que o mais difícil foi o segundo título de Roland Garros (em 2000). Havia toda a expectativa de confirmar que eu não tinha vencido a primeira vez por sorte. Além disso, passei por jogos muito complicados até a final, quando precisei de 11 match points para conseguir ganhar (do sueco Magnus Norman, por três sets a um).

A pressão psicológica para que você estivesse sempre entre os melhores prejudicou sua atuação depois das lesões?
Janaina Cardoso, Tubarão, SC

Guga – Não. O que me atrapalhou mesmo foi essa lesão (no quadril).
“Apesar de não terem surgido outros top ten, o tênis do Brasil mudou da água para o vinho. Antes era aquilo de só passar a final de Grand Slam na TV”

Qual foi a maior alegria e a maior tristeza que você teve como tenista profissional?
Fernando Lívio Sá Centurión, Aracaju, SE

Guga – Acho que só tive alegrias em todos os momentos. Ultrapassei todos os limites e sonhos e não só na carreira, em relação à conquista de títulos, mas também no dia-a-dia do circuito profissional. Vivi sempre muito feliz. Não sei se tristeza seria a palavra certa, mas uma coisa um pouco ruim do circuito é a competitividade excessiva, que vai se tornando desgastante.

O que você acha que falta conquistar em sua vida pessoal e profissional?
Cléo Dias, Fortaleza, CE

Guga – Na minha vida profissional, conquistei muito mais do que eu poderia sonhar. Na pessoal, ainda tenho muita coisa pela frente a partir de agora. Sempre tive uma vida muito legal fora das quadras, mas minha prioridade sempre foi a vida vinculada ao tênis.

Você acredita que fez do tênis um esporte mais conhecido no Brasil?
Laíse Coelho, Belém, PA

Guga – Com certeza. Apesar de não terem surgido outros jogadores top ten, o tênis mudou da água para o vinho. Hoje em dia todo mundo conhece o esporte no Brasil, fala sobre tênis, sabe quem são os jogadores. Antes era aquela coisa de só passar a final de Grand Slam na televisão.

O que deve ser feito para tornar a prática do tênis mais comum no Brasil?
Bruno Pinheiro, Paraíba do Sul, RJ

Guga – O primeiro passo seria aumentar a capacitação dos professores de tênis para formar mais alunos, que se tornem ídolos e deixem o esporte mais popular.

Qual tenista brasileiro você acha que é hoje o mais promissor e tem chances de chegar ao topo do ranking mundial?
Felipe Alves de Souza, São José, SC

Guga – O jogador jovem que mais vem se destacando é o Thomaz Bellucci (atual número 1 do Brasil), mas não acho legal esse rótulo de “futuro destaque” para ninguém. O melhor é ter cautela e esperar.

Você pensa em algum dia dedicar seu tempo ao Avaí, seu time de coração?
Rafael Grah Nazário, Garopaba, SC

Guga – Por enquanto, prefiro ficar no papel de torcedor e não me envolver diretamente. Vou me dedicar mesmo ao tênis.

Você ficava irritado quando a imprensa falava mais sobre suas namoradas que sobre sua carreira?
Nina Monroe, Rio de Janeiro, RJ

Guga – Não (risos). Acho natural. Todo mundo que convive comigo, não só uma mulher, mas minha família e amigos mais próximos, teve de passar por uma certa adaptação.

Era possível fazer amizade com os jogadores nos torneios de tênis?
Jean Carlos, Belo Horizonte, MG

Guga – Sempre tive uma amizade legal com o pessoal do circuito, mesmo sendo um cara muito competitivo. Não tenho um “melhor amigo” para a vida que tenha vindo do tênis, mas tenho grandes amigos, como o (equatoriano) Nicolas Lapentti e o (espanhol) Carlos Moyà.

Nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, você ficou irritado com um erro do árbitro e disse que havia certa proteção a alguns jogadores, especialmente americanos. Você realmente acredita nisso?
Raphael Fozatto Florêncio, São Paulo, SP

Guga – Nem me lembro bem disso. Em geral, o que vi nestes anos é que os jogadores que estão no topo têm um tratamento diferenciado. Acho isso certo, pois são eles que fazem o circuito funcionar. É natural eu ter feito esse comentário na época. Jogava muitos torneios nos Estados Unidos, e os tops eram o Agassi e o Sampras, dois americanos. Antes teve toda uma geração americana que dominou as quadras. De alguma maneira, nas horas importantes, as decisões acabam pendendo para o lado deles, não há como não influenciar.

Que conselho você daria a um jovem que pretende ser tenista profissional?
Mateus Alexandre Castanho, Brasília, DF

Guga – Ter bastante disciplina e se identificar com o tênis, pois é um esporte que dá a você um aprendizado muito grande.

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