quinta-feira, 29 de maio de 2008

Jogo de nomes

A temperatura no aeroporto era de 41º C e o interior do táxi que me conduzia a Chennai mais lembrava um forno. Perguntei ao motorista quando foi que aquela cidade do sul da Índia trocou o antigo nome de Madras. “Em 1996”, respondeu ele, secando o suor da testa. “Mas Chennai é tão quente quanto Madras.”

Há alguns anos, um guia do Museu Hermitage, em São Petersburgo, me contou uma piada sobre uma entrevista com um homem comum, já idoso, que vivera a vida inteira sem sair desta segunda maior cidade da Rússia:

– Onde o senhor nasceu?

– São Petersburgo.


– Onde estudou?

– Petrogrado.

– Onde trabalhou?

– Leningrado.

– Onde desfruta hoje de sua aposentadoria?

– São Petersburgo.

Os nomes de lugares no mundo sempre mudaram, mas, de uns anos para cá, o ritmo de mudança tem aumentado. Isso faz com que cartógrafos, desenhistas de placas, geógrafos, funcionários dos Correios, estrategistas militares e turistas sofram um bocado para se manterem atualizados.

Por trás de quase toda troca de nome está um fator político. O desmembramento da União Soviética em 15 novas repúblicas independentes constituiu um pesadelo cartográfico. A República Socialista Soviética da Tadjíquia tornou-se Tadjiquistão, e a Quirguízia agora é o Quirguizistão.

À medida que seu prestígio cresce no cenário global, a Índia se mostra particularmente empenhada em se livrar do legado lingüístico do colonialismo britânico. Bombaim, por exemplo, agora é Mumbai, Bangalore é Bengaluru. A África também está cheia de exemplos de nações que tentam se distanciar do passado colonial. O nome Rodésia homenageava Cecil Rhodes, figura importante do colonialismo britânico. Ao conquistar a independência, o país passou a se chamar Zimbábue, em homenagem ao passado africano.

Por quase 500 anos, o nome das Filipinas tem exaltado o rei de Espanha Filipe II, monarca implacável e sedento de poder que conduziu a colonização das ilhas no século 16. Esse fato deflagrou um movimento (até agora infrutífero) destinado a mudar o nome do país para Maharlika, palavra pré-colonial que significa “guerreiro”.

Em muitos casos, o desejo de romper com o passado é compreensível. No entanto, algumas mudanças podem resultar de manobras de políticos locais para disfarçar a própria incompetência ou a corrupção. Em 1984, Alto Volta virou Burkina Fasso (que significa “terra dos homens corretos”), mas pouco mudou na vida do burquinense médio, que continua hoje tão pobre como quando era voltense.

Sharada Dwivedi, co-autor de nove livros sobre o tema Mumbai/Bombaim, afirma que o nome da cidade foi alterado por motivos meramente políticos. “Nomes representam a memória coletiva e a história dos cidadãos. Mudar o nome de lugares não constitui gesto patriótico, mas uma maneira de conseguir votos.”

Há pouco tempo, passei uns dias em Cingapura. Os ônibus conduziam seus passageiros pela Victoria Street, enquanto os carros tentavam driblar os engarrafamentos em ruas chamadas Havelock, Mountbatten e Raffles. Os ventos da mudança também não afetaram Hong Kong, que ostenta uma Victoria Park Road, uma Old Bailey Street e um Aberdeen Tunnel. Cingapura e Hong Kong estão entre as economias mais bem-sucedidas da Ásia, ao mesmo tempo que aceitam o passado colonial. Talvez estejam ocupados demais para mudar de nome.

Que lugar é este?


1. Que nação asiática tem se autodenominado Myanmar desde 1989?

2. Em 1985, esse país da África Ocidental solicitou oficialmente à comunidade internacional que mudasse seu nome em inglês para outro, em francês.

3. Esta cidade vietnamita é conhecida como Cidade de Ho Chi Minh desde 1975, mas muita gente ainda se refere a ela por seu antigo nome.

4. Quando o Paquistão Oriental conquistou a independência em 1971, que nome adotou?

5. Entre as muitas mudanças recentes de nome na Índia, a velha cidade de Calcutá agora é chamada de...

6. De 1979 até 1989, que nação asiática foi chamada oficialmente de Kampuchea?

7. As Ilhas Gilbert, situadas no meio do Oceano Pacífico, optaram em 1979 pela independência da Grã-Bretanha e adotaram esse nome para designar a nova nação.

8. Esse conjunto de ilhas do Pacífico, controlado por ingleses e ranceses, foi conhecido como Novas Hébridas até se tornar independente em 1980.

9. Esse imenso país africano foi renomeado Zaire em 1971, mas, 26 anos depois, reverteu sua designação para um dos nomes anteriores, que utiliza até hoje. Qual é?

10. Após sete décadas como República da União Soviética, em 1991 a Bielo-Rússia tornou-se independente e mudou de nome. Para qual?


Respostas


1. Birmânia

2. Côte d’Ivoire, antiga Ivory Coast (Costa do Marfim)

3. Saigon

4. Bangladesh

5. Kolkata

6. Camboja

7. Kiribati

8. Vanuatu

9. República Democrática do Congo

10. Belaru


William Ecenbarger
Seleções - Maio de 2008

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