segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um revolucionário à frente de seu tempo


"Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria ao Brasil"

Tirandentes, Joaquim José da Silva Xavier, um dia disse: "Esta terra há de ser um dia maior que a Nova Inglaterra! Mas, as suas riquezas só as poderemos alcançar no dia em que nos libertarmos do jugo dos portugueses para sermos os senhores da terra que é nossa".

Por mais ambíguo que possa parecer, em 21 de abril, comemoramos o dia do primeiro sonho de um Brasil livre da colonização portuguesa, exato dia esse em que Tiradentes, no ano de 1792, morreu enforcado. É bem verdade que a Inconfidência também beneficiou uma turma abastada que estava em débito com a coroa, já que envolvia alguns dos mais ricos e mais prestigiados homens da capitania, mas ela foi o início da mudança que pretendia a liberdade do Brasil do domínio colonial português.

De lá para cá realmente muita coisa mudou, além de Portugal não ser mais nosso inimigo. E há de se creditar parte dessa mudança, dos rumos tomados pelo país, a Tiradentes. Com a certeza de que suas idéias libertárias não foram reprimidas quando o governo resolveu destruí-las, por intermédio da violência e da forca. Ao contrário, nesse dia elas passaram a ganhar toda força necessária para serem concretizadas.

Joaquim José da Silva Xavier, nasceu em Pombal, distrito de São João del Rey (hoje Tiradentes/MG), em 1746. Com o falecimento da mãe, em 1755 e de seu pai, quando tinha 11 anos, todos os irmãos são distribuídos entre os parentes. Tiradentes ficou com seu padrinho e tio, Sebastião Ferreira Leitão, que era cirurgião, e o ensinou a prática de dentista/médico (daí o apelido) e engenheiro. Entrou para a carreira militar - pertenceu ao Regimento Dragões de Minas Gerais - e chegou a alferes muito cedo. Decidido, estudou muito com seus dois irmãos padres. Sua curiosidade o levou a estudos demográficos, geográficos, geológicos, mineralógicos. Quando morou no Rio de Janeiro, desenvolveu grandes projetos como a canalização dos rios Andaraí e Maracanã para melhoria do abastecimento de água - porém seus projetos não eram concluídos por falta de deferimento do governo, o que fazia com que seu desejo de liberdade crescesse. Mas, ao envolver-se na Inconfidência conspirando contra a Coroa portuguesa, foi preso, em 1789, no Rio de Janeiro.

Incofidência Mineira toma forma

A Inconfidência começou a tomar forma quando, no século XVIII, começava a rarear o ouro nas minas brasileiras, enfraquecendo o pacto colonial, estabelecido, em 1750. Por esse pacto a Capitania Mineira - o descobrimento e a exploração do ouro e das pedras preciosas definiram a forma de ocupação dessa capitania - pagaria a quantia fixa de cerca de 1.500 quilos do metal precioso por ano. Os impostos foram uma das maneiras da metrópole transferir para si as riquezas da colônia. O mais comum era o dízimo - cobrado por um contratador (que pagava ao Real Erário uma determinada soma em troca do que arrecadaria por sua própria conta). Com o declínio da produção de ouro, o valor não vinha sendo alcançado. Assim o governo resolveu recorrer a impostos extraordinários - derramas.

Além disso, o ideal liberal-burguês estava presente em vários países freqüentados pelos jovens brasileiros que lá iam estudar. As colônias inglesas da América do Norte haviam se auto-proclamado independentes, desde 1776. A literatura, também cheia de ideais de Rosseau, Voltaire e Montesquieu, foi importante, fazendo refletir os membros da classe dominante e pequena burguesia mineira, que se sentiam prejudicados pelo monopólio real e, em especial, pela exaustiva cobrança de impostos.

Tiradentes era um homem inconformado com as regras estabelecidas por Portugal. Os amigos pediam que ele não se envolvesse em questões tão delicadas mas ele, decidido clamava: "Têm Vossas Mercês aqui todo este povo açoitado por um só homem, e nós todos a chorarmos como negros. E de três em três anos vem um, e leva um milhão; e os criados levam outro tanto; e como hão de passar os pobres filhos da América? Se fosse outra nação já se tinha levantado!".

Em Ouro Preto, o projeto dos conspiradores defendia a livre produção, com divergências políticas sobre o sistema de governo - Federativo ou Monárquico constitucionalista. Algumas propostas tinham sido levantadas: a capital seria transferida para São João del Rei, ficando em Vila Rica uma universidade a ser fundada - a primeira do Brasil. Definiu-se a adoção da bandeira com o lema Libertas quae será tamem e o início do levante foi marcado para o dia da cobrança da derrama. Na condição de grandes proprietários e intelectuais de elite, membros influentes na sociedade passaram a propagandear a conspiração, que chegou a repercutir no Rio de Janeiro.

Entre os mais importantes inconfidentes estavam militares, escritores de renome, poetas famosos, magistrados e sacerdotes, como: Francisco de Paula Freire de Andrade, José Álvaro Maciel, Carlos Toledo e Melo, José da Silva Rolim, Inácio de Alvarenga Peixoto (um dos principais intelectuais do grupo), Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Domingos Vidal Barbosa, José Resende da Costa, José Aires. João Dias da Mota, Luís Vaz de Toledo Piza, Domingos de Abreu Vieira, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, além de Tiradentes.

Traição ao ideal republicano

No entanto, antes do dia marcado, um dos conspiradores, Joaquim Silvério dos Reis traiu o grupo, levando ao conhecimento do governador Luís da Cunha Menezes o levante. A reação do governo foi imediata com uma apuração minuciosa e completa. Disseram que Cláudio Manuel da Costa se suicidou, mas houve dúvidas se ele não teria morrido assassinado, nos porões da Casa dos Contos, em Ouro Preto. Todos perderam bens, cargos e foram condenados ao degredo ou à prisão.

Joaquim José da Silva Xavier foi o único que teve um destino diferente. Depois de permanecer por três anos incomunicável em uma masmorra, em 21 de abril de 1792, foi enforcado (em forca erguida no campo da Lampadosa - hoje Praça Tiradentes - Rio de Janeiro), decapitado e esquartejado. Sua cabeça foi exposta em Vila Rica e os quatro quartos do corpo dependurados em postes ao longo do Caminho Novo, que ele tantas vezes percorreu. Seus bens foram confiscados e sua memória declarada infame.

Mesmo após a independência do Brasil, em 1822, Tiradentes não seria reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira. Somente em 1867 é que se ergueu em Ouro Preto um monumento em sua memória, por iniciativa do presidente da província Joaquim Saldanha Marinho. Mais tarde, no período republicano, o dia 21 de abril se tornou feriado nacional, e, pela lei 4.867, de 9 de dezembro de 1965, Tiradentes foi proclamado patrono cívico da nação brasileira.

Mito e herói nacional, Tiradentes, tem seu dia comemorado - 21 de abril - pelo desejo humano da liberdade. Deu a vida pelo povo brasileiro e pelo seu ideal. Como patrono cívico do Brasil passou por 40 interrogatórios para assumir sozinho a culpa de uma revolução que faria sozinho, mesmo se preciso. Ao morrer estava com a face vermelha, olhava para o céu e comentou com o carrasco que o enforcaria: "Nosso Senhor morreu também nu, por meus pecados".

Mara Lúcia Martins
http://www.educacaopublica.rj.gov.br

Autos do depoimento de Tiradentes (1789 - 1791)
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthistbr/brasilcolonia/tiradentes_1789.htm

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