O interesse internacional pela Floresta Amazônica é explícito e antigo. Já houve tempo em que nas aulas de geografia das escolas norte-americanas a área da Amazônia brasileira não era considerada território brasileiro. A edição dominical, de 18 de maio, do jornal "The New York Times" publicou a matéria: "De quem é a Amazônia, afinal?", na qual afirmava que a Amazônia não é território exclusivo de país algum, mas de toda a Humanidade.
Esse comentário sobre a Amazônia não é novidade, pois, em 1989, o ex-vice-presidente americano Al Gore já dizia: "Ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazônia não é propriedade deles, ela pertence a todos nós". Bem, até aí tudo bem, pois são declarações, opiniões e especulação dos interessados em explorar a Amazônia. Porém, a mais recente declaração divulgada ontem pelo "O Globo Online" pode ser preocupante, pois os comentários sobre a posse da Amazônia são constantes, mas nunca se ouviu falar sobre um preço estimado de suas terras.
Alguém conseguiu estimá-lo. O empresário sueco Johan Eliasch avaliou que US$ 50 bilhões é o valor total da Amazônia. E eu pergunto: quais os critérios levados em consideração? Como é possível dar características mercantis a um bem natural?
A partir de agora, a preocupação com a Amazônia deve ser redobrada, pois pressões e especulações de empresas estrangeiras sobre a possibilidade de compra da floresta podem ser iminentes. E sem dúvida é notável: o governo brasileiro não tem competência para proteger o território amazônico. Diga-se: competência política, econômica, social e ambiental.
E mais: a reação dos agricultores brasileiros sobre a afirmação de Eliasch com certeza foi comemorada com muita festa em toda a região Centro-Oeste e Norte do país, pois ninguém mais que eles estão interessados em destruir áreas amazônicas para ampliar suas atividades agrícolas.
Mas, para compreender toda essas especulações e afirmações sobre a Floresta Amazônica, é necessário entender o por quê. E a partir de agora vamos relacionar algumas características da tão cobiçada floresta tropical.
Por muitos anos considerada "pulmão" do mundo, sabe-se hoje que a quantidade de oxigênio que a floresta produz durante o dia, pelo processo da fotossíntese, é consumido à noite. Considerada a maior reserva de biodiversidade do planeta, a Floresta Amazônica compreende uma área de 5 milhões de km², dos quais aproximadamente 70% estão no Brasil, enquanto os outros 30% são divididos entre Venezuela, Suriname, Guianas, Bolívia, Colômbia, Peru e Equador.
Calcula-se que dentro da Floresta Amazônica convivam em harmonia mais de 20% de todas as espécies vivas do planeta, sendo 20 mil de vegetais superiores, 10.000 de peixes, 300 de mamíferos e 1.300 de pássaros, sem falar das dezenas de milhares de espécies de insetos, outros invertebrados e microorganismos. Para se ter idéia do que isso significa, existem mais espécies vegetais num hectare de Floresta Amazônica de que em todo o território europeu e nela existem duas vezes mais aves do que nos EUA e Canadá.
A região do Amazonas possui a maior rede hidrográfica do mundo, fornecendo 20% do volume mundial da água doce. As águas amazônicas possuem características diferentes, resultantes da geologia das suas bacias fluviais. Os rios Solimões e Madeira percorrem terras ricas em minerais e suspensões orgânicas; o Negro, oriundo de terras arenosas pobres em minerais, são transparentes e coloridos em marrom pelas substâncias húmicas. Existem também rios de águas claras, como o Tapajós, que nascem nas áreas dos antigos escudos continentais, também pobres em minerais e nutrientes.
Você acredita, leitor, que US$ 50 bilhões pagam essa riqueza natural? É sabido que em torno de toda essa biodiversidade encontram-se curas para as mais diversas doenças, como câncer e Aids, por exemplo. Há muitos países dispostos a pagar qualquer quantia para explorar essa biodiversidade, pois com as descobertas científicas que seriam feitas esse valor que se estima para a Amazônia não representaria simplesmente nada.
O interesse de todas as nações pela floresta não é o de preservá-la, mas explorá-la economicamente. De uma coisa tenhamos certeza: a tão cobiçada Amazônia não é minha, sua, do Brasil, muito menos patrimônio mundial; mas, por direito, ela é dos índios que primeiro chegaram lá e, como ninguém, sabem preservá-la. Esses, sim, podem cobrar exclusividade dela.
Marcio Oliveira
Um comentário:
Eu estou perguntando por que a floresta amazônica e tão cobiçada e não por que ela não era considerada nossa.
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