sábado, 3 de maio de 2008

Da Polônia a Israel, a Marcha pela Vida

Desde a última terça-feira, cerca de 10 mil pessoas estão repetindo uma manifestação realizada há 20 anos para lembrar o Holocausto, cruzando a Polônia e seguindo para Israel na chamada Marcha da Vida. Dessa vez, a reconstituição da trilha de muitos judeus - na morte ou na terra prometida - será registrada em livro pelo publicitário Márcio Pitliuk e o fotógrafo Márcio Scavone, dois dos 400 brasileiros que embarcaram para a viagem por antigos campos de concentração e locais sagrados para o povo judeu. Parte do trabalho que será publicado no fim do ano poderá ser acompanhada no GLOBO ONLINE durante os oito dias de marcha.

O percurso da "morte à vida" também será registrado em documentário dirigido por Jéssica Sanders, indicada ao Oscar e vencedora do Sundance Festival. Idealizador do projeto, orçado em R$ 3 milhões, e único judeu na equipe de 20 pessoas que embarcou para a Polônia, Márcio Pitliuk, que será responsável pelos textos do livro, conta que ficou impressionado com a reação da equipe durante a preparação para o trabalho.

" Auschwitz é uma fábrica da morte. É um pesadelo que não tem tamanho. Achei que não ia conseguir voltar lá, mas vou ter que encarar agora "

- Quando eu levei (à Polônia) o pessoal da equipe que não é judeu e não tem tanta vivência com o Holocausto, vi o choque deles ao descobrir o tamanho da coisa. A gente fala em seis milhões de pessoas, mas parece um número qualquer. Quando chega num campo como o de Treblinka, onde 800 mil pessoas foram mortas em 10 meses, a pessoa se dá conta de que 800 mil pessoas é uma cidade grande - contou Pitliuk, ainda em São Paulo, onde vive, antes de enfrentar de novo o terror dos campos de concentração. - Auschwitz é uma fábrica da morte. É um pesadelo que não tem tamanho. Achei que não ia conseguir voltar lá, mas vou ter que encarar agora - acrescentou.

A excursão ao passado começa em Cracóvia, onde será realizada uma cerimônia que relembra o fim do Holocausto. Em seguida, os participantes refazem a caminhada de três quilômetros entre o campo de concentração de Auschwitz e Birkenau, campo de extermínio. A marcha passará ainda pelos campos de Treblinka e de Majdanek e pelo Gueto de Varsóvia. Da Polônia, o grupo segue para Israel.

A manifestação foi criada em 1988 por Abraham Hirshson, um sobrevivente do Holocausto. Seu objetivo era, principalmente, fazer com que jovens estudantes pudessem conhecer os locais do "shoah", como é chamado em hebraico o assassinato de milhões de judeus pelo regime nazista. A marcha, que acontece todos os anos desde a primeira edição, é aberta a todos. Agora, a organização fica a cargo da ONG internacional March of the Living .

Estima-se que 20% dos participantes não sejam judeus. Entre os brasileiros, 200 são estudantes de escolas judaicas que receberam subsídios para a viagem. Os outros 200 são adultos que arcaram com os custos por conta própria.

Luisa Guedes, O Globo Online

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