O relógio biológico pode ser um forte aliado no diagnóstico e no controle de doenças como a asma, a artrite e a gota. É o que dizem as pesquisas publicadas no livro "Medicina da Noite: da cronobiologia à prática clínica", organizado pelo médico pneumologista José Manoel Jansen , da Universidade Estadual do Rio de Janeiro . A cronobiologia, especialidade que estuda os fenômenos físicos e bioquímicos periódicos do organismo, vem influenciando diversas áreas da saúde ao usar o relógio do corpo para identificar os horários de pico de determinadas enfermidades e, a partir de então, aplicar métodos de tratamento mais eficazes.
Desde a década de 50, a cronobiologia é estudada sistematicamente e, hoje, vêm crescendo as suas aplicações na medicina tradicional.
- Em todos os seres vivos, desde os unicelulares, existem estruturas que marcam o dia e a noite, e todas as funções do organismo. É o que a gente chama de relógio biológico. No homem, esse relógio é uma estrutura nervosa pequena, que fica no cérebro. E lá que são marcados todos os ritmos - explica o médico José Manoel Jansen.
Segundo ele, além de regular o funcionamento normal do organismo, o relógio biológico também determina os horários de maior e menor incidência de determinadas doenças. Crises asmáticas, por exemplo, são comuns por volta das 4 horas da manhã. Gota e diabetes têm maior probabilidade de ocorrer à noite e o acidente vascular cerebral ( AVC ) incide mais no início da manhã. Cada enfermidade tem hora certa para acontecer.
- As doenças se dão em qualquer horário, mas todo médico com experiência em plantões noturnos pode facilmente observar os horários em que as ocorrências são mais frequentes - explica.
O conhecimento desta dinâmica do organismo auxilia não apenas no diagnóstico da doença, mas também no tratamento.
- Conhecendo estes fatores, é possível ministrar o remédio de forma que ele faça efeito na hora em que você quer - diz Jansen. Ou seja: se a asma piora às quatro da manhã e um remédio demora oito horas para fazer efeito, o mais eficaz é ministrá-lo por volta das oito horas da noite. Para ele, um conhecimento maior acerca da cronobiologia, pode auxiliar na prevenção a determinadas doenças
- Esta ciência é um grande avanço que a medicina ainda não incorporou. Esses conhecimentos precisam ser aplicados - afirma. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o médico José Manoel Jansen.
Como começou o estudo sobre a cronobiologia?
A cronobiologia começou no século XVIII com pesquisas em plantas, mas de forma vagarosa e esparsa. Somente nos anos 50 estes estudos começaram a ser aplicados em outros seres vivos. Em todos os seres vivos, desde os unicelulares, existem estruturas que marcam o dia e a noite, e todas as funções do organismo. É o que a gente chama de relógio biológico. No homem, esse relógio é uma estrutura nervosa pequena, que fica no cérebro e que é regulada diariamente pela luz do dia. É lá que são marcados todos os ritmos.
Quais as vantagens da cronobiologia para o homem?
São muitas as vantagens. Nós poderíamos citar, por exemplo, a função evolutiva. O ciclo diário deu qualidade ao organismo para se organizar e sobreviver melhor no mundo. O homem precisa ter vontade de comer no horário em que suas secreções digestivas estão funcionando normalmente. E para que isso aconteça, é preciso que haja uma ordem no organismo que é dada pelo ciclo dia e noite. Tudo deve estar harmonizado para aquele momento. Na hora que você vai dormir, tem que ter vontade de dormir. Não deve ter vontade de comer. Há uma ordem para se fazer cada coisa. Se o homem sai do seu horário adaptado, como quando viaja para um lugar com outro fuso horário, o seu organismo fica desorganizado em relação ao tempo, o que pode provocar diversas reações, como diabetes, estresse e hipertensão.
Que mudanças esta ciência pode trazer para a prática da medicina?
Muitas. Há dois aspectos a se considerar em termos de tratamento. O primeiro é fazer o remédio ter efeito na hora que você quer. Em relação à asma, ela piora às 4 horas da manha. Se o remédio leva oito horas para fazer um bom efeito, você deve dá-lo ao paciente oito horas antes. O remédio tem que se ajustar a cronobiologia para que os resultados sejam mais eficazes no paciente. Outro benefício que esta ciência pode trazer é em relação aos exames médicos. A leitura de cada diagnostico deve ser feita baseada nas mudanças do organismo durante o dia. Já existem tabelas ajustadas a essas variações, mas elas ainda precisam ser mais aplicadas pela medicina.
Por que optar pelo estudo das doenças da noite? Elas tendem a se manisfestar mais nesse período?
As doenças se dão em qualquer horário, mas todo médico com experiência em plantões noturnos pode facilmente observar os horários em que as ocorrências são mais freqüentes. Por exemplo, a asma acontece mais de madrugada porque é o horário em que os brônquios estão mais fechados. A úlcera, a gastrite e a diabetes pioram à noite também por causa de mudanças no organismo. As doenças do coração também têm hora marcada. O AVC, a arritmia e a morte súbita de origem cardíaca acontecem mais no início da manhã, pois há uma produção maior de hormônios como a adrenalina , que fazem a pressão subir e podem causar um AVC hemorrágico. A medicina deve agir com medicamentos de acordo com essas alterações.
No Brasil, como esses conhecimentos estão sendo aplicados?
Em algumas especialidades , a cronobiologia já vem sendo aplicada no país . Mas ela precisa ser mais divulgada nas emergências e na dinâmica médica em geral. Isso é fundamental, porque, desta forma, você pode ter mais mecanismos para proteger o organismo de determinadas doenças. Os médicos precisam saber do horário de pico de ação dos remédios para que possam administrá-los no paciente com resultados mais eficazes. Esta área de conhecimento é um grande avanço que a medicina ainda não incorporou.
Veja os horários em que as doenças noturnas se manifestam: http://www.oglobo.com.br/servicos/pop_infografico.asp?p=/fotos/2008/05/05/relogio_doencas.swf&l=660&a=380
Ystatille Gomes - especial para O Globo Online
Um comentário:
Finalmente começa-se a discutir esse tema na medicina não- alternativa. Um grande avanço realmente.
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