segunda-feira, 20 de julho de 2009

40 anos da conquista da Lua

Neil Armstrong, Edwin 'Buzz' Aldrin e Michael Coll, em foto de maio de 1969

A caminhada de Buzz Aldrin pela superfície lunar


Até hoje é difícil avaliar a dimensão exata daquele "pequeno passo", o primeiro dado por um ser humano em solo lunar. Para os EUA, foi, certamente, um grande salto político e militar numa corrida espacial impulsionada pela Guerra Fria na qual os soviéticos levavam clara vantagem. Para o mundo, a mais simbólica imagem do quão longe a Humanidade poderia chegar.

Quarenta anos depois do histórico pouso, em 20 de julho de 1969, a façanha científica se revela ainda mais excepcional, quando se constata que o satélite terrestre foi o único outro mundo conquistado pelo homem até hoje. Planos existem muitos - e agora não só de americanos e russos, mas também de europeus, chineses e indianos. Entre eles o de retornar à Lua e ainda o de transformá-la num trampolim para se chegar a Marte. Segundo cientistas, no entanto, ainda está bem distante o dia em que o homem dominará a sofisticadíssima tecnologia necessária para caminhar em solo marciano. É preciso dinheiro, dizem, muito dinheiro, e um imperativo político tão poderoso quanto o da Guerra Fria.

Na opinião dos especialistas, a disputa foi o maior estímulo para que o homem chegasse tão longe.

- O foguete que coloca um satélite em órbita é o mesmo que lança um míssil - explica o astrônomo Naelton Mendes de Araujo, da Fundação Planetário. - Quando os russos lançaram o Sputnik (o primeiro satélite posto em órbita, em 1957), a mensagem que mandaram foi: temos um foguete capaz de lançar uma bomba atômica. E cada vez que o satélite passava por cima dos EUA, era como se dissesse "isso poderia ser uma bomba".

Um mês depois do lançamento do satélite, os soviéticos lançaram o primeiro ser vivo ao espaço, a cadelinha Laika. Finalmente, em 12 de abril de 1961, a URSS enviou o primeiro homem à órbita do planeta, Yuri Gagarin. A resposta americana não tardaria. Num discurso feito em 25 de maio daquele mesmo ano, o então presidente dos EUA John F. Kennedy anunciou um programa espacial para levar o homem à Lua em dez anos. O investimento foi maciço, à altura do desafio. O Projeto Apollo (de 1959 a 1972) teve verba de US$ 136 bilhões em valores atuais, um recorde total.


Da estação lunar até marte

Após passar mais de três décadas relegada a segundo plano pelas potências espaciais, a Lua voltou à agenda em 2003, quando o então presidente dos EUA George W. Bush anunciou planos de voltar ao satélite até 2020 e, de lá, seguir para Marte. Desde então, Japão, China, Índia, além dos próprios americanos, já lançaram naves não tripuladas à Lua, dando início a uma nova disputa espacial para a primazia do envio de um astronauta para um lugar mais longe do que a mera órbita da Terra.

Logo após o pouso na Lua, em 1969, as perspectivas eram tão otimistas que muitos apostavam que no então longínquo ano de 2009, o homem já teria andado até em Plutão. Este já até deixou de ser planeta e o homem nem a Marte chegou. A verdade é que, atualmente, não há sequer um veículo espacial capaz de levar um homem à Lua.

- Sabemos do que precisamos e como fazer, mas precisamos investir na construção do veículo - afirma Duília de Mello, do Centro Goddard, da Nasa. - Quando a Nasa deu por encerrado o Projeto Apollo, investiu em outros programas, como o dos ônibus espaciais e do Telescópio Hubble, mas nada foi feito para aprimorar um veículo de longo alcance, que pudesse levar pessoas à Lua.

Logo que assumiu a presidência dos EUA, Barack Obama ordenou uma revisão de todos os planos da Nasa. O resultado ainda não foi divulgado. Até segunda ordem, os projetos de volta à Lua, estabelecimento de uma estação por lá e possível ida a Marte ainda estariam valendo.


Astronautas da Apollo 11 ainda vivem sob o impacto da maior aventura espacial do século XX

Embora seja um dos maiores heróis dos Estados Unidos e celebridade mundial, Neil Armstrong caminha tranquilamente pelas ruas das grandes cidades americanas, há anos, como se fosse um anônimo. O rosto do primeiro homem a pisar na Lua não mudou muito nos últimos 40 anos. Ainda conserva os traços joviais. Mesmo assim, ninguém o reconhece.

Mas por que, afinal, Armstrong foi o escolhido para a histórica primazia de tomar posse da Lua em nome dos terráqueos? Essa pergunta, que muita gente ainda faz, atormentou Aldrin desde a concepção até a conclusão da viagem. Egocêntrico, ele tentara várias vezes fazer com que a Nasa mudasse de ideia: ele se achava o melhor dos três.

Aldrin caiu em depressão profunda ao voltar da Lua, e mergulhou no alcoolismo durante vários anos, atazanado por algo inaceitável para ele: o eterno rótulo de "segundo homem" a ter pisado lá.

Quando, por fim, se recuperou, acabou se contentando em ter sido pioneiro em duas outras coisas. Presbiteriano, foi o primeiro a comungar na Lua (levara uma hóstia que seu pastor lhe dera para a ocasião). E foi também o primeiro a urinar naquela superfície - como o próprio Aldrin revela num livro que acaba de lançar, sob um título autodescritivo: "Desolação magnífica".

Segundo Chris Kraft, então chefe de operações de voos espaciais em Houston, Armstrong foi escolhido para ser o primeiro a pisar na Lua devido ao seu temperamento reservado. A Nasa sabia que o privilegiado por aquela tarefa teria muito mais do que 15 minutos de fama. E via em Armstrong o astronauta mais bem capacitado do que o extrovertido e temperamental Aldrin, de lidar com a fama - com a qual teria de conviver pelo resto da vida - sem se deixar seduzir por ela e, nesse processo, vir de alguma forma a comprometer a imagem da própria Nasa.

- Neil era Neil. Calmo, calado e de confiança absoluta. Ele não tinha ego algum.

O Globo

www.oglobo.com.br

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