domingo, 30 de março de 2008

A nova etiqueta para a internet nos aviões

Quando Dom João VI viajou com a corte para o Brasil há 200 anos, todos ficaram durante quase dois meses desconectados da vida cotidiana em terra firme enquanto faziam a travessia entre Lisboa e Salvador. Hoje, só temos uma amostra desse tipo de experiência psicológica de isolamento quando somos passageiros de aviões. Nestes quase 70 anos de aviação comercial, as horas voando representam um dos poucos momentos em que nos desligamos da correria da vida moderna. Nos vôos, apenas a cabine do piloto está em contato com a terra. E mesmo assim para facilitar a operação do vôo.

O acesso à internet em banda larga a bordo de aviões é novidade que começa a ser oferecida neste ano de 2008. Começou em janeiro. A American Airlines saiu na frente equipando seus 15 primeiros aviões de uma frota de quase mil aparelhos para oferecer conexão como um serviço tarifado, disponível para todas as classes de passageiros a bordo. Não é preciso bola de cristal para prever que o acesso à internet banda larga vai se tornar realidade em todas as outras companhias aéreas. Nem para saber que o custo de acesso vai cair até ficar praticamente de graça. Mas as mudanças não param por aí.

Está chegando nos próximos meses a nova geração de telefones celulares, chamada de 3G. Ela tem como principal característica permitir que o celular vire uma maquininha de conexão com a internet banda larga. É isso que os entendidos chamam de internet móvel. E que vai se tornar a forma mais popular de navegação nos próximos meses. Para ter uma idéia, no Japão, onde o 3G já está ativo há mais tempo, 52% dos acessos à internet são feitos pelo celular, e não por computadores.

Companhias aéreas começam a oferecer conexão em vôo. Nossa tranqüilidade vai acabar?

Não é todo mundo que viaja de avião com um notebook, mas qualquer um vai com um celular no bolso. Por isso, não tenham dúvida que a bordo dos vôos, com o telefone 3G, vai acabar aquele parêntese que ocorre entre a decolagem e a aterrissagem. As pessoas vão passar a fazer e a receber ligações telefônicas ou receber e enviar e-mails. A 10.000 metros de altura, muitas vezes do outro lado do planeta e voando sobre oceanos, nossa vida pessoal e doméstica passa a ficar on-line com a vida em terra. Conversas mais íntimas, entreouvidas daqueles passageiros que ainda insistem em falar alto em seus celulares, vão divertir alguns viajantes, constranger outros, aborrecer muitos. Vamos ouvir rusgas de casais, agendamentos de encontros amorosos, fofocas de celebridades e anônimos. Veremos gente se emocionando e reagindo a notícias boas e ruins da vida em terra, que não pára enquanto estamos no ar.

Para muita gente, os vôos serão quase uma extensão do escritório, com acesso a e-mails, telefonemas e videoconferências. Além disso, ninguém vai mais perder futebol, noticiário ou novela. Voando em velocidade de jato, espremidos no estreito tubo de alumínio, vamos ter de rapidamente aprender a etiqueta social do uso do celular e da internet nos aviões para não transformar nossos vôos em sessões de tortura psicológica.

Em todo caso, estou preparando minha inovação. Passa a fazer parte de minha bagagem de mão um aparelhinho que bloqueia eletronicamente o barulho. Parece um iPod. Mas seus fones de ouvido produzem ondas sonoras que anulam o ruído do ambiente. Você só ouve o silêncio. Assim posso ficar conectado em tempo real com a espécie humana quando eu escolher.

Ricardo Neves, consultor de empresas
www.ricardoneves.com.br
www.epoca.com.br/ricardoneves

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