quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Enfim, o livro 2.0

A biblioteca de Alexandria, no Egito, era considerada o maior centro cultural do mundo antigo. Seu acervo incluía mais de 500 mil pergaminhos, uma quantidade fabulosa para a época. Diz a lenda que Ptolomeu III, governante do Egito, exigia que todos os estrangeiros em visita à cidade deixassem qualquer tipo de texto com os escribas oficiais, que copiavam tudo para a coleção da biblioteca. Hoje em dia, esse método seria considerado truculento e desnecessário. Desde que a Amazon foi inaugurada, em 1995, ficou ridiculamente fácil achar qualquer livro, em qualquer idioma. Agora, a nova idéia da Amazon, encabeçada por seu CEO, Jeff Bezos, é revolucionar o próprio livro. Na semana passada, ele apresentou o Kindle, um leitor digital que tem jeito de ser um primo distante do iPod. Só que, em vez de CDs, permite que o usuário carregue vários livros no bolso.

O desafio do Kindle não é simples. Trata-se de desbancar uma das invenções humanas mais perfeitas. O livro é uma tecnologia com uma interface simples (ninguém precisa de ajuda para entender como se vira uma página), vem em diversos tamanhos, garante imersão total do usuário (se o texto for bom) e não usa pilhas. “Se você quer fazer algo que concorra, ele tem de ser tão bom quanto o livro em vários aspectos”, diz Bezos. “Mas também procurar por coisas que os livros normais não conseguem fazer.”

É exatamente isso que o Kindle tenta entregar. A tela tem aproximadamente 15 centímetros, mas não emite luz como celulares e computadores de bolso. Ela usa uma tecnologia conhecida como “E Ink”, ou tinta eletrônica. Ela faz com que partículas se juntem para criar letras, simulando o papel de um modo mais realista que as telas de computador. O Kindle tem capacidade para cerca de 200 livros e sua memória pode aumentar por meio de cartões. Ele também pode ser conectado à internet para baixar novos livros, por meio de uma tecnologia usada também em celulares. É aí que entra a aposta da Amazon. Qualquer usuário do Kindle pode comprar cerca de 90 mil títulos no site da empresa. O download dura menos de um minuto, e o preço não passa dos US$ 10. Também é possível assinar jornais e blogs, como The New York Times ou o blog de tecnologia Boing-Boing (um dos líderes mundiais de audiência). Tudo isso por US$ 399.

Navegar pela web não é um ponto forte do produto. As páginas não carregam direito, pois o aparelho não consegue mostrar gráficos muito bem. Nada de YouTube nem fotos ou animações. Outra coisa que ainda não parece bem resolvida são as limitações impostas por direitos autorais. Você pode emprestar um livro “analógico” para um amigo. Pode até mesmo vender um livro usado pela Amazon. Mas os e-books (livros eletrônicos) só podem ser arquivados. Nada de emprestar, duplicar ou revender. Não é possível nem mesmo copiar um parágrafo para mandar para alguém por e-mail. Nesse quesito, os analógicos ainda estão na frente.

Mesmo que o Kindle não seja um sucesso, é possível ver nele o futuro digital dos livros. A idéia de cortar árvores, gastar combustível fóssil e emitir gás carbônico para criar e imprimir papel provavelmente será considerada antiecológica – talvez até bárbara – para a sociedade nas próximas décadas. Quem comandará tal revolução? Com o Kindle, a Amazon hoje se tornou a principal candidata.

Fabio Sabba
Época, Ed. 497 - 26/11/2007

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