O arquiteto espanhol Santiago Calatrava costuma comparar a arquitetura à arte. Para ele, ninguém compra um livro só pela capa. É preciso que os prédios, assim como as obras, tenham um significado. Calatrava, o poeta do concreto, pode ter a chance de mostrar sua arte no Rio de Janeiro. Conhecido por projetos como o da Cidade das Artes e das Ciências, em Valência, Calatrava foi convidado a desenhar um museu pela prefeitura do Rio. O prédio será uma das âncoras da revitalização da Zona Portuária.
Em Valência, Calatrava projetou um museu sobre o leito de um rio seco. Com a obra, transformou o rio num mar de turistas. O caso é um exemplo do que os arquitetos chamam de Efeito Bilbao, para denominar o fenômeno da revitalização de uma área urbana em declínio pela construção de um grande museu ou prédio público. Se as negociações avançarem, Calatrava será o responsável pelo Museu do Amanhã, a ser construído na ponta do Píer Mauá em parceria com a Fundação Roberto Marinho, cujo tema será a sustentabilidade.
A prefeitura afirma que o arquiteto deverá vir ao Brasil até o fim de fevereiro e começar os estudos para que a obra fique pronta até 2012, quando o Rio sediará a Cúpula da Terra (Rio+20), promovida pela ONU. O projeto segue a linha dos museus temáticos como o da Língua Portuguesa e o do Futebol, em São Paulo. “O interessante de projetos assim não é só que eles são interativos, mas também o fato de apresentarem uma narrativa para o público”, afirma Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho.
Calatrava não é o primeiro arquiteto estrangeiro famoso a ser convidado para tocar um grande projeto na cidade. Depois da polêmica construção da Cidade da Música, do francês Christian de Portzamparc, na gestão Cesar Maia, a comparação é inevitável. A obra custou R$ 460 milhões e até agora não terminou. “Vamos ter controle de custos”, diz o secretário de Desenvolvimento do Rio, Felipe Góes.
A prefeitura ainda não sabe quanto a empreitada vai custar aos cofres públicos, mas Calatrava tem fama de elaborar projetos caros, o que inviabiliza algumas de suas ideias. O Museu de Arte de Milwaukee, nos Estados Unidos, foi criado para lembrar a forma de um pássaro, com asas que se movimentassem, mas para cortar custos acabou saindo um pouco diferente do planejado. Uma prova de que a imaginação pode voar, mas com os pés no chão.
Nelito Fernandes e Maurício Meireles
Revista Época - No. 610
http://revistaepoca.globo.com
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