domingo, 11 de maio de 2008

"Sobre devorar e ser devorado" transforma narrativas de Machado de Assis em teatro


Momentos antes de morrerem, um Coronel doente e seu enfermeiro, contam a história do suposto assassinato do primeiro. Os benefícios que cada um poderia colher dessa morte são a base para a platéia construir sua própria versão da história. Baseada no conto "O Enfermeiro" e no romance "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, a peça "Sobre devorar e ser devorado" estreou ontem, sábado, no Àgora Teatro, em São Paulo.

É a segunda adaptação da obra de Machado de Assis feita por André Piza, que começou seu mergulho na obra do escritor com "O homem célebre". Piza partiu do conto "O enfermeiro" e o relacionou com trechos do romance "Memórias póstumas de Brás Cubas" para criar a dramaturgia da peça, na qual 95% das palavras são do próprio Machado.

Em parceria com o preparador corporal Johannes Freiberg, Piza conduziu duas investigações paralelas: a pesquisa da obra de Machado de Assis e uma outra corporal e anatômica, que investiga como um comportamento é estruturado em ações físicas.

- Machado de Assis trabalahava muito com discursos que tentavam dar conta do comportamento da sociedade. Buscamos fazer uma cartografia destes comportamentos. Assim, o trabalho físico dita a estrutura da peça - explica Piza.

O espetáculo navega entre os gêneros dramático e narrativo, apresentando dois narradores e suas versões e contradições para uma mesma história. Procópio (o enferemeiro) e o Coronel, ambos à beira da morte, refletem sobre ela e chegam a conclusões diferentes.

O cenário, Sylvia Moreira, e a trilha sonora, de Jorge Peña, foram criados a partir do processos de estruturar ações físicas correspondentes a comportamentos das personagens.

- A trilha não é música incidental. É feita a partir de um conjunto de sonoridades que multiplica as vozes dos atores - adianta o diretor.

A partir do pressuposto de que a verdade é construída por cada pessoa, "Sobre devorar e ser devorado" é uma obra aberta, assim como as narrativas machadianas.

- A platéia tem sua oportunidade de criar sua verdade - conclui Piza.

Márcia Abos - O Globo Online


"Sobre devorar e ser devorado"

De 10 de maio à 1 de junho de 2008.
Horário: sexta e sábado às 21h, domingos às 20h.
Ingressos: R$ 10.
Local: Àgora Teatro - Rua. Ruí Barbosa, 672 - Bela Vista -
Informações: 11 3141-2772

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