sábado, 13 de outubro de 2007

Fotologs contam a História do Rio Antigo

Largo da Glória - 1908

Um lote de 70 fotos de Augusto Malta sobre o Rio Antigo foi vendido em leilão por R$ 36 mil recentemente. Admiradores da história da cidade, no entanto, têm hoje na internet valiosa fonte desse tipo de imagem, numa série de fotologs dedicados a fotos do período pré-fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara. O precursor da turma é André Decourt, um advogado que nasceu no Leblon e foi criado no Bairro Peixoto. O Rio Antigo Fotolog(http://www.fotolog.com/andredecourt) existe desde 2003, e André acredita que esse é o mais antigo.

No início era meio amador, mas hoje as informações são mais refinadas. De manhã eu acordo e gasto uma horinha fazendo o texto. Acho uma imagem legal no acervo, faço o texto e "posto" - conta o blogueiro. Ele explica que suas fontes são um grande acervo pessoal de livros, fotos e recortes de jornal:

- No final da década de 90, você ainda achava imagens do Rio perdidas pela cidade. Até em lixeira de prédio já arrumei material, em revistas antigas. Os textos são com base em livros de gente como Brasil Gerson, Vivaldo Coaracy. E tenho muita coisa de cabeça. Leio sobre o Rio antigo desde a década de 90.

A iniciativa de André inspirou outros apaixonados pelo Rio a criarem seus próprios fotologs. Um deles foi o médico Luiz D'arcy, de 58 anos, que tem o fotolog Saudades do Rio (http://fotolog.terra.com.br/luizd). Completam o grupo Roberto Tumminelli - Carioca da Gema (http://www.fotolog.com/tumminelli), Claude Vonteville - Arqueologia do Rio de Janeiro (http://fotolog.terra.com.br/bfg1), e Derani - Rio de Fotos (http://fotolog.terra.com.br/nder).

Luiz conta que sempre gostou de fotografar. Certo dia, lembrou de uma série de fotografias da construção do viaduto da Lagoa, no Corte do Cantagalo, onde ele morava na época.

- Eu tirava essas fotos para acabar filme e elas viraram documento histórico. O que a gente se propõe é contar a história do Rio de uma maneira leve, agradável - explica Luiz. O médico conta que a feira da Praça XV é um dos passeios favoritos do grupo, que usa também fotos tiradas por anônimos.

- As fotos familiares saem da pasteurização de Malta e Marc Ferrez, que todos conhecem. Você pega uma foto com crianças na frente e, no fundo, tem alguma casa, edifício, uma peculiaride qualquer - diz.

E como a interação é uma das principais características da internet, os posts mais interessantes são os que conversam com outros fotologs. Como quando Luiz D' e Rafael Netto mostram fotos do mesmo lugar, ontem (http://fotolog.terra.com.br/luizd:859) e hoje (http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto:367).

Essa interatividade é apontada pelo professor Edmilson Rodrigues, do departamento de História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), como um dos pontos positivos desses fotologs. Ele elogia ainda o cuidado com a indicação nas imagens de referências visuais e historiográficas:

- Nenhum deles comete erros, pois apresentam referências de local de origem. Nesse sentido, gostei do cuidado de todos. Nascido e criado em Botafogo, o engenheiro Rafael Netto homenageia a cidade no Rio Hoje (http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto), mas de forma um pouco diferente. Ele mostra imagens atuais, muitas vezes de lugares que apareceram nos sites dos amigos, comparando o "antes" e o "depois". É um pouco também do antes e do depois da sua própria vida. Rafael já viveu o melhor e o pior que a cidade tem a oferecer. Ele é irmão de Rodrigo Netto, guitarrista da banda Detonautas morto em 4 de junho de 2006, em uma tentativa de assalto no Rocha. Na ocasião, Rafael também foi baleado.

- Não tenho como ir para lá (Zona Norte), porque não sei se vou voltar vivo. Tem uma parte da cidade que a gente não pode ir - lamenta Rafael, que ainda acredita no espírito solidário e receptivo do carioca - Acho que no Pan foi um bom exemplo dessa motivação de receber gente, de fazer festa. Apesar de tudo, acho que ainda existe.

Os sites são, na verdade, uma forma de resgatar um pouco do que se perdeu no Rio:

- Acho que houve uma perda da qualidade de vida brutal. Os problemas eram outro. Faltava água, o telefone era péssimo. Mas o viver diário era muito mais carioca. Hoje já se perdeu. Ninguém sabe bem quem é o carioca. É um neurótico que sai de casa pensando em quais sinais vai parar - afirma o médico Luiz D'.

Eduardo Almeida - O Globo Online

Um comentário:

' Ireth Isilra disse...

amei esse blog!
tão bom ver as fotos do meu rio antigo.
como eu gostaria de ter visto isso tudinho de perto!

 
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