quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Frédéric Chopin (1810 - 1849)


Em 10 de março de 1810, na cidadezinha de Zelazowa Wola, perto de Varsóvia, Polônia, nascia Fryderyk Franciszek. Era filho de Tekla Justyna e Nicholas. A mãe era polonesa e o pai francês, mas tão incorporado ao novo país que chegou a lutar na Guarda Nacional. O sobrenome do pai? Chopin. Quem diria que o pequeno Fryderyk Franciszek, nascido num pedaço escondido da Polônia, tornaria-se o célebre Frédéric François Chopin, um dos maiores músicos da Paris do início do século XIX?

Antes do sucesso parisiense, porém, Fryderyk tinha que aprender sua arte. Há dois fatores para seu aprendizado: os pais eram músicos e, quando o filho tinha dez meses de idade, foram morar em Varsóvia, onde transitavam entre os nobres e a burguesia rica. Chopin teve, então, uma infância mimada e culta. Ganhou um professor de piano aos seis anos, Adalbert Zwyny, que lhe mostrou as obras de Bach e Mozart.

O primeiro concerto público de Fryderyk ocorreu quando ele tinha oito anos. Quase simultaneamente, viu ser publicada sua primeira obra, uma polonaise. Prosseguiu nessa direção promissora, conciliando seus estudos no Liceu de Varsóvia com as aulas de piano. Em 1825, apresentou-se para o czar Alexandre I e publicou aquele que seria seu Opus 1: o Rondó em dó menor.

Quando terminou o liceu, no ano seguinte, entrou no Conservatório de Varsóvia, onde iniciou seus estudos de harmonia e contraponto com o renomado compositor Joseph Elsner. Fryderyk não se entusiasmou muito com o formalismo clássico do professor, mas impôs seu talento: "aptidões admiráveis, gênio musical", anotou Elsner no relatório do final do curso.

O jovem Chopin compunha muito nesta época. Os dois concertos para piano, sua primeira sonata, o único trio de câmara, são peças do período. No entanto, a que chamou mais a atenção dos contempôraneos foi o conjunto das Variações sobre Là ci darem la mano, op. 2, para piano e orquestra. O tema utilizado é o do dueto homônimo do Don Giovanni de Mozart, e não poderia ser diferente: Chopin gostava muito de ópera e mais ainda de Mozart. Robert Schumann, em seu primeiro artigo na Nova Gazeta Musical de Leipzig, faria enormes elogios à obra e proclamaria: "Tirem os chapéus, cavalheiros! Trata-se de um gênio!".

Parecia claro tanto para Fryderyk como para seus pais que ele não poderia ficar em Varsóvia; seu gênio precisava aparecer ao mundo. Em 1830, resolveu partir para Viena, a mesma cidade de Haydn, Mozart e Beethoven. Ele deixou Varsóvia no dia 2 de novembro. Em 29 de novembro, eclodiria a Revolução Polonesa, contra a ocupação russa. Chopin quis voltar, mas problemas de saúde o impediram: nunca mais voltaria para casa.

Entretanto as coisas não deram muito certo na conservadora Viena, que vivia sob o regime autoritário de Metternich. Em julho do ano seguinte, seguiu rumo à muito mais liberal Paris. Na viagem, tomou conhecimento das más notícias: a insurreição polonesa foi violentamente esmagada pelos russos, que com suas tropas saquearam e incendiaram Varsóvia. O músico ficou revoltado: "ah, se eu pudesse matar ao menos um moscovita!", escreveu.

Paris acolheu muito bem o exilado polonês. Foi logo adotado pela elite culta da cidade, requisitado como concertista e como professor. Aliás, a segunda opção mais do que a primeira: dar aulas para os jovens da sociedade fez com que Chopin conseguisse razoável conforto material nos seus primeiros anos parisienses. Já era mais Frédéric François que Fryderyk Franciszek.

Levava uma vida sofisticada, em meio aos salões da aristocracia e às salas de concerto que começavam a aparecer. Conheceu músicos consagrados, como Rossini e Cherubini, e outros de sua geração, como Mendelssohn, Berlioz, Liszt e Schumann.

Vários desses encontros foram frutos de viagens. Em uma dessas passagens pela Europa, em 1835, reencontrou Maria Wodzinska, que conhecera ainda criança em Varsóvia. Alguns dias juntos, e Chopin sentiu que os dois eram mais que amigos. Estava apaixonado. No ano seguinte, tornou a encontrá-la, e ficaram noivos.

Mas Chopin estava ficando doente. Começaram a aparecer as hemoptises (expectorações de sangue) típicas da tuberculose, e a saúde do compositor, que nunca foi das melhores, degradava-se visivelmente a cada dia. A tuberculose nascente foi a gota d''água para que a família de Wodzinska, já não muito simpática a idéia, rompesse o noivado. Chopin não se conformou, e guardou todas as cartas que Maria e seus pais enviaram em um envelope, que ficaria famoso pela anotação que faria: Moja biéda (em polonês, "minha desgraça").

Em 1837, Chopin viria a conhecer aquela que seria sua companheira por quase dez anos: a escritora Aurore Dupin, mais conhecida pelo pseudônimo masculino que usava para assinar seus livros, George Sand. A princípio, Frédéric não gostou nem um pouco dela: "Será mesmo uma mulher? Começo a duvidar", escreveu. Sand, além do nome, vestia-se e fumava charutos como um homem, e não era bonita. Era ela que estava interessada: fazia convites e mandava bilhetes para o músico.

No ano seguinte, já com as esperanças do reatamento com Wodzinska desfeitas, que Chopin entrega-se ao romance com Sand. Mas ele não quer que seu caso torne-se público, então resolvem passar um tempo em Maiorca. Ela achava que isso melhoraria a saúde de Frédéric, mas errou. O clima da ilha era úmido, e choveu o tempo todo. Chopin sofria crises constantes de hemoptise e sua doença tornou o casal "objeto de pânico para a população", como escreveu George Sand. Em 1839, voltaram para a França.

Com a doença cada vez pior, a paixão existente entre os dois acabou tornando-se uma amizade carinhosa: Sand passou a ser uma espécie de enfermeira particular do compositor. Passaram mais sete anos juntos, até que, em 1846, Sand publicasse, em forma de folhetim, o romance Lucrezia Floriani.

Lucrezia Floriani conta a história de uma bela e pura donzela, cujo nome dá título à novela, que se apaixona por um príncipe - tuberculoso e sensível como Chopin. Mas o nobre, egoísta, neurastênico e ciumento, acaba levando o amor entre os dois à ruína. Todos os que conheceram Chopin perceberam a relação entre ele e o personagem. Alguns amigos, como o escritor Heinrich Heine, consideraram o livro ofensivo.

Chopin engoliu a provocação, embora magoado. Ele e George Sand só haveriam de romper definitivamente um ano depois, por ocasião de uma intricada briga familiar: Sand e a filha, Solange, tiveram um grande atrito, e Chopin, de forma inocente, defendeu a moça. Os dois não se veriam mais, para desgosto do compositor, que ainda a amava: "Jamais amaldiçoei ninguém, mas neste momento tudo me é tão insuportável que eu me aliviaria se pudesse amaldiçoar Lucrezia", disse, na viagem que fez a Londres, em 1848.

Mas a tuberculose piorava. Chopin suportou mal, novamente, o clima úmido de Londres, e voltou em estado precário para Paris. A irmã Luísa veio de Varsóvia para fazer-lhe companhia, até porque mal podia sair de sua cama. Na madrugada de 17 de outubro de 1849, faleceu Frédéric François Chopin. A seu pedido, seu coração foi enviado para Varsóvia, e o corpo, enterrado em Paris. Mas seu caixão foi coberto por terra polonesa.


Sua obra


Chopin dedicou toda sua obra ao piano, com exceção de uma ou duas peças para violoncelo, um trio de câmara e algumas canções. Assim, seu nome ficou imediatamente ligado ao do instrumento, de forma que é impossível fazer uma história da música para piano sem Chopin.

A música de Chopin é extremamente sedutora para os ouvintes pouco acustumados à música erudita, em especial por causa de suas melodias peculiares, que criam imediatamente um ambiente de devaneio e encantamento. A melodia chopiniana tem duas origens. Uma é o bel canto das óperas italianas que tanto apreciava - Chopin fazia o piano cantar. A outra é o folclore polonês.

Mas Chopin não era apenas um melodista inconfundível. No terreno da harmonia, ele tinha grande originalidade. Liszt, em um ensaio que escreveu sobre o colega polonês, mostra como toda a escrita pianística do século XIX deve alguns de seus aspectos importantes a Chopin.

É uma obra intimista por natureza. O próprio compositor era um homem reservado e seu estilo de tocar piano era muito suave, quase etéreo. Algumas das críticas que recebeu se deviam principalmente ao pouco volume que tinham suas execuções. De fato, preferia os pequenos salões e as casas dos amigos do que os grandes auditórios e salas de concerto.

Estruralmente, a obra de Chopin compreende basicamente as pequenas formas livres do início do século XIX: baladas, polonaises, mazurcas, valsas, fantasias, noturnos. Não tinha inclinação à forma-sonata: as sonatas que escreveu, principalmente as duas últimas (a segunda tem como terceiro movimento a famosa Marcha fúnebre), são grandes renovações, e não foram bem recebidas pelos contemporâneos. Seria um romântico iconoclasta?

Não. Chopin, tal como Berlioz, via-se mais como um clássico que como um romântico. Um exemplo interessante é o fato de considerar a obra de Handel como a mais próxima de seu ideal musical, e ter Bach e Mozart como modelos insuperáveis de perfeição. É uma ambigüidade de certa forma reveladora, para um compositor que compôs obras que parecem preconizar Debussy.

Dentre as obras que Chopin compôs quando jovem, ainda na Polônia, destacam-se os famosíssimos concertos para piano e orquestra, que são dois: o segundo sendo composto antes do primeiro. São concertos muito populares. Também para piano e orquestra são as Variações sobre Là ci darem la mano, sua primeira criação a arrebatar a crítica. Escutá-la é fascinante: é como presenciar o diálogo de dois grandes gênios, Chopin e Mozart.

Em Paris, dedicou-se mais às peças para piano solo, e aos gêneros livres. Em particular, os Noturnos ficaram célebres. O gênero foi criado pelo irlandês John Field e Chopin o levou à perfeição. São devaneios poéticos, líricos e um tanto sombrios. O Opus 9, no. 2, é talvez o mais conhecido.

Também prediletas do público são suas Valsas. Chopin compôs dezoito delas. Não são destinadas à dança, como as dos Strauss, por exemplo. São peças leves e muito elegantes. A Opus 64, no. 1, conhecida como a Valsa do minuto, é um belo exemplo.

Não podem ser esquecidas as peças de origem patriótica: polonaises e mazurcas. Chopin as compunha aos montes: são, ao todo, mais de quinze polonaises e quase sessenta mazurcas! Todas são baseadas em danças e ritmos da Polônia. As polonaises são mais conhecidas. Sofrendo por estar longe de sua terra natal, esmagada pelos russos, Chopin praticamente criou um novo gênero: a polonaise épica. Representativa é a sexta, dita Heróica, titânica e sentimental.

Chopin também escreveu quatro Scherzos que se assemelham a essa polonaise por sua tensão e vigor. Um scherzo como peça independente é uma novidade de Chopin, já que a forma é geralmente integrante de obras maiores como sinfonias e sonatas. O Scherzo no. 1, op. 20, é um exemplo de angústia e desespero.

Mas três grandes ciclos são considerados os pontos culminantes da produção chopiniana: as Baladas, os Estudos e os Prelúdios.

As baladas são quatro. São peças grandiosas e terrivelmente difíceis para o solista, muito inventivas e apaixonantes. Elas passam uma quantidade de emoções e sentimentos surpreendente para obras tão curtas. A Quarta é a mais impressionante, pela variedade de sonoridades que apresenta.

Os estudos são vinte e quatro, distribuídos em dois volumes, Opus 10 e Opus 25. São um verdadeiro inventário da escrita pianística de Chopin, e exploram todas as possibilidades do instrumento.

Os prelúdios também são vinte e quatro, em um único volume, Opus 28. São um grande tributo a Bach e seu Cravo bem temperado. Mas, ao contrário dos compostos por Bach, os prelúdios de Chopin não precedem uma fuga ou alguma outra peça: são perfeitamente acabados, tanto em nível estrutural como em nível emocional. Encantaram Liszt e vem encantando gerações desde sua publicação, em 1839. Exatamente como a obra inteira de Chopin.

http://www.chopin.pl/
http://www.chopin.pl/spis_tresci/index_en.html

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