segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Teresa de Lisieux (1873 - 1897)

(2 de janeiro de 1873 - 30 de setembro de 1897. Festa Litúrgica: 1 de outubro)

Toda oportunidade é pequena e ao mesmo tempo grande, com sabor de eternidade, quando se fala a respeito de alguém que deixou rastros do divino, contido no invólucro frágil, quais vasos de argila, todos nós, seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus. Teresa não fugiu à regra, apresentando a todos nós uma proposta de vida espiritual tecida nas tramas da realidade humana com todo o potencial e limites. Deixa-nos o Pequeno Caminho, como a ela aprouve intitular o seu projeto de vida, como processo de deificação, na exata coincidência entre o Evangelho e a Vida. O seguimento de Jesus significou para Teresa fidelidade à Palavra no tecer do quotidiano, através de atitudes e gestos concretos, com coerência e autenticidade.

Quem foi Santa Teresinha do Menino Jesus, declarada pelo Papa Pio X "a maior santa dos tempos modernos"?
Teresa nasceu em Alençon, França, no dia 2 de janeiro de 1873, numa família burguesa, mãe proprietária de uma fábrica de rendas e pai relojoeiro. Aos 4 anos perde a mãe, fato que a traumatizou, seguida de outras perdas sucessivas e que vai marcá-la para sempre. Com o falecimento da mãe, a família transfere-se para Lisieux, onde Teresa passa a sua infância e adolescência, ingressando, posteriormente, no Carmelo. De criança vivaz, alegre e comunicativa atravessa um período de neurose marcada pela timidez, insegurança e de escrúpulos, libertando-se para sempre, segundo o seu relato, no Natal de 1896, aos 14 anos de idade, quando consegue tomar as rédeas da própria vida, segundo ela, deixando de girar em torno de si mesma. Desperta para solidarizar-se com outras pessoas, passa a preocupar-se com a Igreja e a sociedade. Decide lutar pela vocação de entrar no Carmelo, vencendo todas as barreiras e dificuldades, apresentando o seu pedido ao Bispo e, em dezembro de 1887 ajoelha-se trêmula aos pés do Santo Padre, para permitir que ela ingresse no Carmelo com apenas 15 anos de idade. Com 15 anos e 3 meses, no dia 9 de abril de 1888 transpõe a porta do Carmelo. Viveu apenas 9 anos e com 24 anos morre vítima de tuberculose. Em 1925, 28 anos após a sua morte, em Roma, foi canonizada Santa Teresa do Menino Jesus e de Santa Face. Dois anos após, em 1927 foi declarada a Padroeira das Missões, junto com S. Francisco Xavier e no centenário de sua morte, no dia 19 de outubro de 1997, foi proclamada, pelo Papa João Paulo II, Doutora da Igreja.

O que ela fez de extraordinário?
Numa existência tão curta, sempre encerrada nos muros do Carmelo, o que poderia chamar tanta atenção para tamanha glória e de maneira tão rápida?Para podermos perceber a extraordinária luminosidade de Teresa, devemos situar-nos no contexto sócio-político e religioso da época. A sociedade de Teresa era marcada por forte anticlericalismo conseqüente das mudanças política, econômica e cultural, resultante do surgimento de várias ciências e várias correntes filosóficas. No campo religioso predominava o jansenismo, uma corrente religiosa que apresentava um Deus distante, um Deus sedento de sacrifícios, multiplicidade de práticas de piedade, de grandes penitências e jejuns. Uma espiritualidade marcada pela ascese com inúmeras mortificações contabilizadas para poderem assegurar a salvação e terem a certeza de agradarem a Deus. Por isso, os diretores espirituais aconselhavam o uso dos cilícios, prática de penitências e jejuns, e incentivavam atos cada vez mais extraordinários.

A grandiosidade de Teresa é que soube harmonizar as suas buscas e descobertas sem fugir do contexto de vida e de proposta comunitária, construindo o seu edifício espiritual sob a orientação de Jesus, como diz ela, "é o meu único diretor espiritual", encontrando todas as respostas às suas perguntas na Palavra de Deus, sobretudo nos Evangelhos.

Como ela mesma relata, passando pelo crisol dos sofrimentos e das provações, consegue fazer passagem de uma teologia da justificação, de uma espiritualidade de um Deus que contabiliza as ações, para jogar-se confiante nos braços de Jesus. Constrói a sua pequena via para chegar até Deus. Não mais sacrifícios, tampouco os exemplos de seus pais João da Cruz e Teresa d´Avila, grandes místicos, mas os próprios braços de Jesus, que esperam de todos confiança e abandono. Não mais um Deus justiceiro e vingador, mas um Deus Amor, um Deus Misericórdia, um Deus que se abaixa, um Deus que se apraz com aqueles que se tornam pequenos, humildes e a eles se revela. Teresa, através da descoberta da essência do evangelho consegue fazer emergir o verdadeiro rosto de Deus de Jesus Cristo, um Deus Pai e Mãe, que ama apaixonadamente todos os homens e mulheres, e que quer revelar a todos o seu grande amor por todos. Um Deus que não necessita de sacrifícios humanos, mas somente do nosso amor. Um Deus que nos ama desde toda a eternidade de forma gratuita, um Deus que espera apenas que descubramos este amor, e que a convicção da presença deste amor em nossas vidas, seja a força que revigore cada vez mais, dando-nos sustentação em todos os embates da vida. Um Deus que acolhe a todos com amor, sem distinção, e que os santifica pela mesma Santidade dele pela comunhão e participação.
Esta certeza fez com que ela realizasse todas as coisas ordinárias da vida de uma forma extraordinária, conferindo-lhe alcançar a dimensão do eterno, vivido no instante presente. Por isso, Teresa viveu intensamente o momento presente, carregando-o de sentido, realizando cada ato, cada gesto com extraordinário amor, desde o ato de apanhar um alfinete do chão, ao encontro e sorriso dado a uma irmã não muito simpática, que lhe faria dar uma volta para não encontrá-la, caso ela não visse nela o próprio Cristo.

Tudo o que ela viveu nós encontramos nas Cartas, Poesias, Orações, Peças de Teatro e nos Manuscritos autobiográficos divididos em A,B e C, redigidos respectivamente em 1895, 1896 e o último em 1897, três meses antes de sua passagem para eternidade.

Atualidade de sua mensagem para a sociedade, hoje.
Teresa, Doutora da Igreja, deixou-nos a sua doutrina, o seu ensinamento de Mestre. O que mais chama atenção e que todos os autores são unânimes em afirmar é que Teresa não deixou teoria, mas transformou a sua teoria em vida, transformando-a em Palavra de Deus, pela prática, pela vivência. De modo que todos os autores dizem, é muito difícil separar Vida, Doutrina e Mensagem em Teresa. Não há uma mínima brecha entre a Vida, a Doutrina e a Mensagem, tudo é uma coisa só.

É esta a primeira lição que encontramos em Teresa. Ela ensina com a vida, e não como muitos mestres dizem: "Façam o que lhes digo, mas não façam como eu faço". É exatamente o contrário que acontece com Teresa. A sua teoria, passa antes pela vida.

Vamos olhar de perto a perspectiva evangelizadora da experiência-doutrina de Teresa de Lisieux na Igreja para o terceiro milênio.Sem dúvida se resume no Amor paterno-materno de Deus.Ela é Doutora da experiência de um Deus próximo e misericordioso.

Esta experiência de Teresa é a experiência de Deus Pai-Mãe que ama os injustos, pecadores (cf. 6,35) que conhece o que necessitamos antes que o peçamos; que nos perdoa e pede que perdoemos; que nos protege e cuida de nós todos (cf. 6,8-9.14-15).

Doutora da experiência do amor de Deus que se transforma em comunhão e serviço.
Teresa é mestra de uma autêntica experiência de Deus.A exemplo da samaritana, de Maria Madalena que, encontrando o Senhor, correram e anunciaram aos outros o Senhor; conhecer o Senhor, experimentar o amor de Deus, não permite a ninguém permanecer parado, estático. Deve sair correndo anunciando a todos o Messias, o Ressuscitado. Teresa quer ser missionária, percorrer o mundo para anunciar a todos o amor gratuito de Deus. Quer ser tudo na Igreja, abraçar todas as vocações, e encontra o seu lugar na Igreja: o coração. Teresa traduz na vida a exigência evangélica do serviço aos mais pequeninos e pobres, naqueles que revelam o rosto de Cristo (Mt 25,31-45). Neles Deus se revela de maneira especial (cf. 11,25-27).

Doutora do caminho evangélico da santidade.
Vimos anteriormente que, para Teresa, Santidade, Doutrina e Vida é uma coisa só. Ela conseguiu transformar, dar uma vida, corpo, espírito a uma doutrina, isto é, na sua vida. Concentrando a santidade no amor, Teresa ajuda a superar a separação entre contemplação e ação, porque o amor é o que une ambas as dimensões. A santidade não era uma perfeição isenta de erros e defeitos. Ser santo era saber amar, saber acolher, perdoar, sorrir. Para ela o que importa não é a quantidade, mas a qualidade dos atos que devem ser permeados de amor.

Doutora do caminho para a integração da pessoa.
Teresa, como todo ser humano, esteve sujeita aos condicionamentos próprios de toda vida humana. Passou pelo processo de libertação psicológica, passando pela aceitação de si mesma, alcançar a maturidade. Teresa lutou para ser ela mesma. Ela ensina a todos nós que enfrentamos tantas situações de inseguranças e angústias diante do futuro, mostrando que o medo diante das incertezas de cada dia se resolve abrindo-se ao amor Deus e do próximo. É no abandono confiante no Deus pai misericordioso que se vai adquirindo a paz e a alegria. Ela apresenta ao mundo enfermo de medo e de angústia a terapia do amor e confiança em Deus e do serviço, doação e solidariedade aos demais.

Doutora da fé para o mundo da incredulidade.
Deus quis que a experiência espiritual de Teresa de Lisieux a convertesse em interlocutora existencial com o mundo da incredulidade. Ela conheceu a prova da fé no mundo que, em nome da ciência e do racionalismo negava a existência de Deus e orientava ao ateísmo. Teresa enfrenta o problema da angústia diante da morte, fruto do ateísmo que se pergunta sobre a existência de Deus e de outra vida. Experimenta a prova da fé, a angústia do nada. Na noite da fé solidariza-se com aqueles que vivem submergidos na incredulidade. Na mais profunda escuridão, a Santa não deixa de amar aquele em quem confia.

Teresa de Lisieux mulher, Doutora da Igreja.
Numa sociedade que marginaliza e discrimina a mulher, Teresa, não batendo de frente com espiritualidade da época, inventa o seu caminho, com seu estilo feminino, concreto, direto e próximo. Serve-lhe de modelo, Maria, não como um ser intransponível para ser contemplado, mas uma mulher simples de Nazaré, peregrina na fé e na esperança, exemplo de simplicidade, silêncio contemplativo, disponibilidade e do "Sim".Seu feminismo, à semelhança de Teresa de Jesus, desemboca no compromisso maior com o Evangelho, sobrepujando os preconceitos que marginalizam a mulher de sua época.

Conclusão
Santa Teresa é uma prova do que afirmam as Escrituras: Deus se revela, se comunica aos simples, introduzindo-os no mistério da Vida Divina, dando-lhes sua mesma sabedoria, revelando-lhes os segredos de sua vida, ação e história.O Senhor, Pai das luzes, de quem provém toda dádiva, deu à Igreja o presente da Vida de Teresa de Lisieux, um Dom gratuito que exige uma resposta de amor e de entrega generosa à nossa missão na Igreja e no mundo.

Que Santa Teresa nos alcance do Senhor a graça de sermos seus colaboradores no testemunho e anúncio da Boa Nova, para os nossos irmãos e irmãs, como autênticos seguidores de Jesus e em comunhão com Maria, a primeira que recebeu a alegre notícia de salvação e proclamou com alegria, descobrindo que Deus se dá gratuitamente aos pobres, aos humildes e aos simples.

Bibliografia

S. Teresa di Gesù Bambino, Opere Complete, Libreria Editrice Vaticana, Edizioni OCD, Roma, 1997.

Balthasar H.U.Von, Teresa di Lisieux historia de una mission, Herder, Barcelona, 1964.

Görres I., Teresa de Lisieux, Editorial Aster, Lisboa, 1961

Meester C.d., A mani vuote. Il messaggi di Teresa di Lisieux, Quereniana, Brescia, 1975.

Six J. F., La verdadera infância de Teresa de Lisieux, Herder, Barcelona, 1981.

Six J. F., Teresa de Lisieux en el Carmelo, Herder, Barcelona, 1981.

Igrejas e Capelas no Rio de Janeiro:

Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus dos Frades Carmelitas Descalços: Rua Mariz e
Barros, 354 - Tijuca - 20270-001 - Tel: (21) 569-8904

Paróquia de Santa Teresinha do Túnel Novo: Avenida Lauro Sodré, 83 - Botafogo -22290-070 -

Capela do Pálacio Guanabara: Rua Pinheiro Machado, s/n - Laranjeiras - 22231-090 - Tel:(21) 299-5204

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