Há 50 anos atrás, no dia 4 de outubro de 1957, a antiga União Soviética enviou ao espaço o primeiro satélite artificial terrestre, o Iskusstvennyi Sputnik Zemli, conhecido como Sputnik. A bola metálica que transmitia ondas curtas e que pesava apenas 83,6 kg completou 1440 voltas ao redor da Terra durante 92 dias, podendo ser observada de vários pontos do planeta e detectada por qualquer radinho. Apesar da simplicidade do Sputnik, o sucesso do lançamento marcou o início da Era Espacial.
O programa soviético espacial começou seis anos antes do Sputnik. A idéia inicial era enviar um satélite geofísico pesado, conhecido como objeto D, que pesava mais de mil toneladas, utilizando o possante foguete R-7, que era capaz de lançar objetos de até 5,4 toneladas a alvos de mais de 8 mil km de distância. Mas, preocupado com a concorrência americana, que em 1955 havia anunciado o programa de satélites artificiais, o chefe do programa russo, Sergei Korolev, desistiu de esperar pelo objeto D e decidiu investir em um satélite preliminar, o PS ou Sputnik. O PS serviu para demonstrar o que o R-7 era capaz e os soviéticos ganharam a corrida ao espaço. Eles surpreenderam o mundo novamente quando, um mês depois, enviaram o primeiro animal ao espaço, a cadela Laika, a bordo do Sputnik II. Apesar de ter sobrevivido apenas algumas horas ao invés dos 7 dias planejados, o destino da Laika nos ensinou como era perigoso o lançamento de seres vivos ao espaço.
Foi aí que a corrida espacial realmente começou. Estávamos em plena Guerra Fria, os americanos não queriam ficar para trás e, em 31 de janeiro de 1958, lançaram o Explorer 1, o primeiro satélite americano. Mas a competição ficou ainda mais séria quando, em outubro de 1958, o governo americano criou a Agência Espacial Americana, a Nasa, para tratar de assuntos relacionados ao espaço.
Cansado de perder para os soviéticos, que já haviam enviado uma sonda até o solo da Lua em 1959, o presidente John Kennedy anunciou em 1961 que o próximo passo da Nasa seria a Lua. A esta altura não se imaginavam todos os benefícios que a corrida espacial traria à Humanidade. Era mais uma batalha pelas mentes daqueles que ainda não haviam se decidido que partido tomar, comunismo ou capitalismo.
Hoje, passados 38 anos desde o pouso na Lua pelos americanos e mais de 15 anos desde o fim da Guerra Fria, um conjunto com 16 países, incluindo o Brasil, investe na construção da Estação Espacial Internacional, um verdadeiro exemplo de que a cooperação entre as nações é possível.
Mas e o futuro da exploração espacial? Por que ainda não temos uma base lunar e por que ainda não pisamos em Marte? Faltariam verbas ou uma competição do tipo "Guerra Fria" para estimular as nações? Sabemos que a China está investindo em missões espaciais, enviou um astronauta ao espaço em 2003 e anunciou que está se preparando para uma ida à Lua em 2017. Os EUA já anunciaram também que voltarão à Lua em 2020 e estarão a caminho de Marte.
Tudo, porém, indica que o futuro espacial esteja nas mãos da iniciativa privada! Há três anos, o time do SpaceShip One ganhou o prêmio de US$ 10 milhões da Fundação X pelo primeiro vôo privado a atingir mais de 100 km de altitude e voltar a repeti-lo em duas semanas. Recentemente, a mesma fundação anunciou que, com o apoio do Google, premiará com US$ 20 milhões o primeiro vôo privado à Lua carregando um jipe/robô que percorra pelo menos 500 metros no solo lunar e fotografe o sítio aonde as missões Apolo pousaram: é a geração Google entrando na corrida espacial.
E pensar que tudo começou com os beeps-beeps do Sputnik e os latidos da pobre Laika...
Duilia de Mello
Astrônoma brasileira e pesquisadora no Goddard Space Flight Center da Nasa
Astrônoma brasileira e pesquisadora no Goddard Space Flight Center da Nasa
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