quarta-feira, 6 de junho de 2007

Alatriste

Aproveitando um grande nível de produção, a versão cinematográfica das Aventuras do capitão Alatriste, do diretor Agustin Díaz Yanes, recria com grande cuidado o Século de Ouro Espanhol

“Não era o homem mais honesto nem o mais piedoso, mas era um homem valente”.(O Capitão Alatriste, 1996)

Era coisa de tempo que o personagem mais famoso de Arturo Pérez-Reverte chegasse ao cinema. Com mais de 4 milhões de livros vendidos dos cinco tomos das Aventuras do Capitão Alatriste, as histórias do bravo espadachim da corte de Felipe IV se tornaram o maior sucesso do escritor espanhol. Havia outras novelas de Pérez - Reverte que já haviam sido filmadas. Território Comanche em 1997 e A nona porta em 1999 -projeto que esteve sob a direção de Roman Polanski- são só algumas das adaptações de suas novelas para o cinema.

Outro elemento a ser considerado é que Pérez - Reverte ocupa atualmente uma posição privilegiada na literatura espanhola.

Antigo fotógrafo de zonas de conflito (atividade que inspira sua última novela O pintor de batalhas) soube conquistar um lugar no mundo das letras.

É membro da Real Academia Espanhola desde o ano 2003 e foi um dos principais responsáveis do ressurgimento das novelas que misturam aventuras e mistério. A carta esférica, A tábua de Flandres e A nona porta são só alguns dos trabalhos que exibem toda a criatividade do escritor e seu grande domínio narrativo.

É tanto o sucesso das Aventuras do capitão Alatriste, que desde o momento em que se anunciou a versão cinematográfica, uma série de seguidores da saga mostrou sua preocupação pelo resultado final. Os fanáticos das aventuras do capitão não tinham muita confiança no diretor Díaz Yanes. Também havia preocupação pela confecção do roteiro, tarefa que recaiu no mesmo Díaz Yanes. Vejamos no que resultou.

As intrigas da coroa

Ambientada no s. XVII, principalmente em Madri, na época de Felipe IV, o filme narra as aventuras de Diego Alatriste y Tenorio (Viggo Mortensen), um soldado veterano do Regimento de Flandres que se dedica a efetuar trabalhos sujos para alguns poderosos personagens da época. Em uma destas encomendas, vê-se envolvido numa conspiração de palácio, o que lhe significará ganhar a inimizade de um importante grupo de poder na corte do rei.

Com a ajuda de seus colegas de armas, Alatriste tentará fugir das diferentes armadilhas que seus inimigos lhe preparam. Enquanto enfrenta diversas emboscadas, e o ataque de valentões, cuida de Iñigo, o filho de um amigo, que ao morrer o deixou sob sua responsabilidade. Do mesmo modo, à medida que transcorre a narração, nós nos tornamos testemunhas de como na Corte se armam intrigas, mostrando a corrupção que envolve a Coroa Espanhola em meados do século XVII.

Uma das virtudes de Alatriste é a notável reconstrução de época, que acompanhada de uma sóbria e elegante fotografia, permitindo que o diretor recrie a atmosfera de decadência que impregna toda a narração.

No papel principal está Vigo Mortensen (Aragorn do Senhor dos Anéis), seu personagem é de um grande caráter e presença. Os atores que o acompanham também parecem compreender muito bem o espírito do filme, o que lhes permite adequar-se plenamente aos requerimentos da narração.

Um dos pontos mais fracos de Alatriste está relacionado com o roteiro. Agustin Díaz Yanes reduz a um pouco mais de duas horas, cinco livros. Isto faz com que a fita tenda a ser episódica, e impede que os personagens centrais se desenvolvam com maior profundidade. Mesmo assim, as batalhas e cenas de ação ficam reduzidas a pequenos momentos, o que tira emoção das aventuras do capitão. Embora os diálogos também sejam bem curtos, as boas caracterizações dos protagonistas conseguem transmitir as diferentes emoções no decorrer da narração. Isto permite que o nó dramático da fita seja conservado e consiga manter o suspense em torno do que sucede com Alatriste.

Os méritos de Alatriste

Uma das principais razões para ver este filme está relacionada com a inspiração de Pérez -Reverte para escrever a obra literária. Quando este viu que os livros de história de sua filha de 12 anos só dedicavam poucas páginas ao Século de Ouro Espanhol, empenhou-se em escrever uma novela que fosse ambientasse nesta época e que reunisse suas principais características. Com esta finalidade, o autor realizou uma profunda pesquisa que não só recolheu os fatos históricos, como também a linguagem da época (por esta razão os diálogos da película podem soar um pouco estranhos, mas são perfeitamente compreendidos). Sendo assim, podemos ver Francisco Quevedo na tela, citações de Gôngora e quadros de Velázquez, o que permite tomar o pulso daquela época tão importante para o futuro da Europa e também da América. O detalhe do trabalho de Pérez - Reverte é tão minucioso que chegou a consultar mapas e plantas de Madri do século XVII para escrever sua história, o que também é respeitado pelo filme. As ruas de pedra, a escuridão de muitos de seus cantos e as particularidades da Corte transformam-se no cenário perfeito para as aventuras do valente espadachim.

Alatriste é um filme divertido, bem feito e que vale a pena ser visto. Para aqueles que fiquem com gosto a pouco, nada melhor que ir em busca de livros. As aventuras do capitão Alatriste é um livro que deve ser considerado como alternativa na hora de curtir uma boa história de aventuras.

Elenco:

Viggo Mortensen (Diego Alatriste y Tenorio); Elena Anaya (Angélica de Alquézar); Pilar Bardem (Monja); Javier Cámara (Conde Duque de Olivares); Jesús Castejón (Lope de Alcázar); Antonio Dechent (Garrote); Juan Echanove (Francisco de Quevedo); Eduard Fernández (Sebastián Copons); Francesc Garrido (Martín Saldaña); Ariadna Gil (Maria de Castro); Enrico Lo Verso (Gualterio Malatesta); Cristina Marcos (Joyera); Javier Mejía (Príncipe Charles de Gales); Eduardo Noriega (Conde de Guadalmedina); William Rory O'Brien (Duque de Bristol); Alex O'Dogherty (Lope de Balboa); Francesc Orella (Bragado); Blanca Portillo (Fray Emilio Bocanegra); Jesús Ruyman (Capitão de Rocroi); Artur Sala (Domenico Viejo); Unax Ugalde (Íñigo de Balboa); Quim Vila (Marquês de Buckingham); Luis Zahera (Pereira); Nicolás Belmonte (Credor de Íñigo); Nacho Pérez (Íñigo - jovem); Nadia de Santiago (Angélica - jovem)

Premiações:

Ganhou 3 Goyas, nas categorias de Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e Melhor Desenho de Produção. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Viggo Mortensen), Melhor Ator Coadjuvante (Juan Echanove), Melhor Atriz Coadjuvante (Ariadna Gil), Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Maquiagem, Melhor Trilha Sonora, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais.

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