segunda-feira, 25 de junho de 2007

Simplesmente.....João Carlos Martins

Uma pequena homenagem ao grande João Carlos Martins pelos seus 67 anos, comemorados hoje.

O Pianista

A história do pianista João Carlos Martins certamente o eleva a um patamar raramente alcançado por outros músicos brasileiros no século XX. Em setembro de 1982, o exigente jornal “New York Times” se referia a ele como um dos maiores pianistas da atualidade. Já a revista “New York Magazine”, juntamente com o “Boston Globe”, ressaltavam o talento de João Carlos Martins, colocando-o como o mais excitante intérprete de Bach a surgir depois do legendário Glenn Gould.

Toda esta relação lírica tecida com o piano teve início aos 8 anos de idade, quando João Carlos Martins passou a estudar com o professor José Kliass. Após nove meses já se mostrava um virtuose, vencendo o concurso da Sociedade Bach de São Paulo. Ainda jovem, despertou a atenção de toda a crítica musical brasileira com suas performances únicas pela intensidade com que eram interpretadas. Aos 18 anos foi o único escolhido no Festival Casals, entre candidatos das três Américas, a dar o Recital Prêmio em Washington. A apresentação bem-sucedida teve como conseqüência sua estréia no “Carnegie Hall”, de Nova Yorque, patrocinada pela ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Eleonor Roosevelt.

A partir de então, passou a tocar com as maiores orquestras americanas. E sua gravação de O Cravo Bem Temperado, de Bach, aos 23 anos, foi best-seller durante muito tempo nos Estados Unidos.

Em 1983, João Carlos Martins inaugurou o Glenn Gould Memorial, em Toronto, Canadá. Sua carreira teve como um dos pontos altos o fato de ter gravado a obra completa de Bach para teclado.

A paixão de João Carlos Martins pela música originou o documentário franco-alemão “Martins Passion”, vencedor de 4 Festivais Internacionais, e já foi visto por mais de um milhão e meio de pessoas na Europa. Também já foi exibido em algumas oportunidades na TV aberta no Brasil, no caso a TV Cultura.
O grande mestre teve de interromper duas vezes a carreira de pianista por problemas físicos, o primeiro em decorrência de um acidente enquanto jogava uma partida de futebol em Nova York, já a segunda se deu em um assalto em Sofia na Bulgária. Por causa desses dois incidentes, ele teve que parar de tocar por algum tempo, mas sempre voltava a realizar a sua grande paixão. Finalmente em 2004 abandonou o piano devido ao agravamento de suas lesões nas mãos, tendo assim iniciado uma nova fase, agora como regente. Em maio de 2004 esteve em Londres regendo a English Chamber Orchestra, uma das maiores orquestras de câmara do mundo, numa gravação dos "Concertos de Brandenburgo" de Johann Sebastian Bach e, já em dezembro, realizou outra gravação de Bach, as "Suites para orquestra", com a Bachiana Chamber Orchestra, orquestra criada e dirigida por ele e que reúne alguns dos melhores músicos do Brasil.

Em 2006, além de sua agenda com a Bachiana no Brasil, João Carlos regeu na Argentina, França, Rússia, Bélgica e Estados Unidos.
Realiza também, na Faculdade de Música da FAAM, um programa de introdução à música com jovens carentes, além de outros trabalhos sociais envolvendo a música.


O Maestro

Ansiosamente, o público aguarda. A Orquestra entra, se curva, o Spalla se apresenta enquanto corações eufóricos esperam a entrada do Maestro. Sorrindo, João Carlos Martins caminha em direção a seu posto, ao som das palmas da platéia fiel. Se vira para sua Orquestra, fecha seus olhos num gesto de concentração, ao mesmo tempo que ergue as mãos sem a batuta e, como num transe, invoca a música que envolverá as pessoas que ali têm o privilégio de estar presentes. Neste concerto, igual a todos os outros que regeu, João Carlos Martins não pôde olhas as partituras, havia passado horas decorando aquelas notas.Antes de se tornar Maestro, João Carlos Martins lutava contra a frustração de ter parado sua principal atividade, o piano.

- “Eu estava sem rumo, em 2003, já sabendo que não poderia mais tocar nem com a mão esquerda. Sonhei então, que estava tocando piano, com o Eleazar de Carvalho, que me dizia: - vem para cá, que eu vou te ensinar a reger”, disse numa entrevista. Sabia, porém, que não seria uma mudança fácil, já que suas mãos jamais conseguiriam segurar uma batuta ou mesmo virar as páginas de uma partitura.

- “São milhões de notas e tudo isso eu sempre tive totalmente memorizado, enquanto era pianista. E, agora comecei minha vida na regência, então, estou começando tudo de novo, estou correndo atrás do prejuízo, já que nunca regi na vida”, conta em outra entrevista. Seu perfeccionismo como pianista transborda na sua vida de Maestro.

Todos os dias, caminha estudando partituras, sobe e desce os degraus de seu apartamento, no carro, na sala, em jantares, almoços, suas mãos estão sempre acompanhando o ritmo que insiste em percorrer sua mente. Seus dois primeiros CDs como Maestro, já lançados no Brasil e no mundo, mostram com nitidez a perfeição que João Carlos busca em todas suas obras.

Sempre marcado por Johann Sebastian Bach, João Carlos gravou em 2004 “The Brandenburg Concertos” em Londres na Igreja St. Jude, com a aclamada English Chamber Orchestra. O CD “Orchestral Suites” , seu disco com a Bachiana Chamber Orchestra, foi gravado no Colégio Humbold em São Paulo, em dezembro de 2004.

E no final de alguns concertos, quando sua mente e seus dedos entram em rara sintonia, ele anuncia que tentará tocar o piano por poucos minutos. Os quatro dedos que encostam no piano aguentam 4 longos minutos, nos quais o público aproveita para derrubar algumas lágrimas de emoção. É nítida a dor que João Carlos sente, física talvez, mas mais forte pelo carinho que sempre terá pelo instrumento que tanto respeitou...

Curiosidade:

Em fevereiroo de 2004 o crítico inglês descreve na International Piano Magazine um episódio pitoresco que aconteceu na vida de João Carlos Martins, quando após um recital no Carnegie Hall, no final dos anos 60, recebeu uma recomendação de Salvador Dalí: "Diga a todos que você é o maior intérprete de Bach, algum dia vão acreditar. Faz muitos anos que digo ser o maior pintor do mundo e já há gente que acredita". O crítico termina dizendo que João Carlos Martins não teve que esperar tanto tempo.

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