segunda-feira, 11 de junho de 2007

Cantares - Caminante no hay camino...

Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar

Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão

Gosto de ver-los pintar-se
de sol e graná voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se...

Nunca persegui a glória

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar...

Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar"...

Golpe a golpe, verso a verso...

Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se lhe vieram chorar
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar..."
Golpe a golpe, verso a verso...

Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

Antonio Machado
Nasceu em 26 de julho de 1875 em Sevilha e aos oito anos mudou-se para Madrid. Poeta e prosista, pertenceu ao movimento literário conhecido como "geração de 98". Provavelmente , ainda é, o poeta de sua época, mais lido. Em 1893 publicou seus primeiros escritos em prosa, enquanto que seus primeiros poemas apareceram em 1901. Em 1899, viajou à Paris, cidade que voltaria a visitar em 1902, ano em que conheceu Rubén Darío, que seria seu grande amigo por toda a vida. Em Madrid, por essa mesma época, conheceu Unamuno, Valle-Inclán, Juan Ramón Jimenez e outros destacados escritores com os quais manteve uma estreita amizade. Foi catedrático de francês, e se casou com Leonor Izquierdo, que morreu em 1912. Em 1927 foi eleito membro da Real Academia Española. Durante os anos vinte e trinta, escreveu teatro em companhia de seu irmão, também poeta, Manuel, estreando várias obras entre as quais se destacam: La Lola se va a los puertos, de 1929 e La Duquesa de Benameji, de 1931. Quando estourou a Guerra Civil espanhola, estava em Madrid. Posteriormente mudou-se para Valencia e Barcelona, e em janeiro de 1939 exilou-se em Colliure, França, onde morreu em 22 de fevereiro do mesmo ano.

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