terça-feira, 5 de junho de 2007

O que falta saber da História do Império Otomano?

GENOCÍDIO... Milhares e milhares de documentos foram reunidos sobre esse tema: livros, depoimentos, arquivos, escritos e relatos por pessoas que assistiram a esse ato hediondo. Testemunhos de cônsules (principalmente dos Estados Unidos), de religiosos (alemães, franceses, etc.) e de várias outras pessoas fidedignas.

O que eu, pobre mortal poderei acrescentar a tudo isso?

Ultimamente, vozes estão se levantando querendo provar, de todas as maneiras, que o ato hediondo perpetrado pelos Turcos não foi um Genocídio. Mas sinceramente o que importam as palavras... massacre, chacina, genocídio ou holocausto? A realidade é uma só: 1.500.000 (um milhão e meio) de Armênios foram friamente assassinados por ordem de Talaat Paxá, Ministro do Interior da Turquia em 1915.
A Turquia nega até hoje essa realidade incontornável.

Mas então o que estou fazendo aqui? Deveria ter nascido na terra dos meus ancestrais. Por quê meus pais fugiram de suas casas? Como eles, centenas de milhares de armênios fugiram para não serem mortos.

Às vezes me perguntam: "Isso aconteceu há tanto tempo. Você nunca vai perdoar?”. Realmente é muito difícil perdoar o assassinato da minha avó paterna, dos meus dois avôs e de meus três tios. Mas como perdoar alguém que não pede perdão?

Hoje em dia, a Turquia, além de negar impudentemente os trágicos acontecimentos de 1915, quer desaforadamente mudar o curso da História.

Eis aqui um artigo do "The Independent" redigido por Robert Fisk e traduzido para o português por Clara Allain. Este artigo apareceu na "Folha de São Paulo", há algum tempo.
País faz lobby para "apagar" genocídio armênio

Os esforços feitos pela Turquia para apagar a memória do genocídio dos Armênios sofreram um revés nos EUA. A Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) recusou-se a permitir que Ancara financie uma cadeira de "estudos otomanos" porque o governo turco condicionara doação de US$ 1 milhão à exigência de que os acadêmicos ignorem o massacre ocorrido em 1915.

O banho de sangue ocorreu em 1915, quando centenas de milhares de homens armênios foram massacrados pelas forças turcas, enquanto suas mulheres e seus filhos foram despachados em número igual para o deserto sírio para morrerem nas mãos de estupradores ou da polícia turca. É um fato histórico aceito como tal em todos os países, menos a Turquia.

No deserto da região que é hoje o norte da Síria os turcos até inventaram a primeira câmara de gás do mundo: uma caverna subterrânea na qual encerraram milhares de prisioneiros e para a qual policiais turcos canalizaram fumaça, para completar o genocídio.

A reação da UCLA deve ter sido um choque para os Turcos. Afinal eles fizeram doações às universidades de Princeton, Georgetown, Indiana e Chicago, com exigências quase idênticas: que os acadêmicos que ocupam a cadeira devem usar arquivos turcos e manter “relações estreitas e cordiais com círculos acadêmicos na Turquia”.

Qualquer estudioso que admita o Holocausto armênio não poderá ter relação cordial com acadêmicos turcos, muito menos obter acesso a arquivos otomanos. Assim, quando a UCLA recusou a oferta de Ancara, criou um precedente.

O embaixador turco nos EUA, Nuzhet Kandemir, já havia pago um quarto do valor total de US$ 1 milhão para uma cadeira no departamento de história da UCLA.

Mas acadêmicos armênios imediatamente apontaram que o acesso aos arquivos otomanos é rigidamente controlado pela Turquia, além de ser negado a qualquer pessoa que critique o tratamento dado pelos Turcos aos Armênios ou às violações dos direitos humanos hoje cometidas no país.

A seguir, o embaixador Kandemir foi identificado como tendo sido o diplomata que enviou cartas a organizações judaicas, afirmando que o Holocausto armênio, diferentemente do extermínio dos Judeus por Hitler, foi falso.

Consta que Hitler, antes de dar início ao genocídio dos Judeus da Europa, teria perguntado:”Quem ainda se lembra dos Armênios?”

Até 1920, estimados 1,5 milhão de Armênios haviam morrido. Os Turcos afirmam que foram vítimas de uma guerra civil.

Quando a UCLA primeiro aceitou a oferta turca (lamentavelmente, as discussões iniciais foram mantidas a portas fechadas), o campus foi invadido por uma enxurrada de abaixo-assinados.

Um deles, assinado por 57 acadêmicos e escritores, condena a proposta porque “o governo turco proíbe a liberdade intelectual, exclui investigações sobre o país e sua história, encarcera seus intelectuais e possui um dos piores históricos de violações de direitos humanos do mundo atual”.

Um abaixo-assinado criticando a criação da cadeira foi assinado pelos escritores Norman Mailer, Kurt Vonnegut, Artur Miller e Susan Sontag. O corpo docente rejeitou a doação turca por uma margem estreita de votos: 18 a 17.

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