sábado, 2 de fevereiro de 2008

Ciência em quadrinhos


Os professores de ciências nos Estados Unidos descobriram uma forma eficiente de aguçar a curiosidade de seus alunos. Antes de escrever uma fórmula de física na lousa ou levar as crianças ao laboratório, eles pedem que os alunos leiam gibi. Não qualquer gibi. A lição de casa é ler Howtoons, uma revista de histórias em quadrinhos que ensina a fazer experiências com materiais simples. A idéia já está embutida no nome, que une a expressão “como fazer” (how to) e parte da palavra “quadrinhos” (cartoon), em inglês. A fórmula fez tanto sucesso que virou livro e em menos de dois meses já vendeu mais de 200 mil exemplares.

As histórias são contadas pelos personagens Celine e Tucker, dois irmãos que descobrem uma maneira divertida de curtir as férias sem apelar para o computador. Eles resolvem juntar objetos fáceis de encontrar em casa e fazem experiências. Em uma delas, usam um saco plástico, gelo e sal para simular as baixas temperaturas de um freezer e ensinam a preparar um sorvete de creme ultragelado (ao lado). Esta é uma das 15 histórias do livro Howtoons: the Possibilities Are Endless (Howtoons: as Possibilidades São Infinitas).

O gibi faz sucesso porque propõe experiências curiosas e fáceis de ser copiadas. Não é exatamente a ciência por trás de cada episódio que encanta o público. É a linguagem simples, a sintonia com os assuntos infanto-juvenis e os desenhos do ilustrador Nick Dragotta. Ele já foi da DC Comics e da Marvel, duas das maiores editoras de histórias em quadrinhos do mundo. “Os quadrinhos mostram que o mundo não precisa ser como é, que as crianças podem modificar e imaginar o futuro que querem criar”, afirma o engenheiro australiano Saul Griffith, que criou o Howtoons em parceria com seu colega americano Joost Paul Bonsen. Na época, os dois estudavam Engenharia no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e ajudavam a organizar workshops sobre ciência para alunos de escolas da região.

O manual de experimentos caseiros desperta o interesse das crianças para conceitos da Física e da Química, disciplinas geralmente consideradas chatas, principalmente porque costumam ser tratadas apenas na teoria. “O Howtoons traz a ciência para o dia-a-dia das crianças. O interesse dos alunos pela Física e pela Química muda drasticamente quando se constrói um revólver que atira marshmallows”, diz Bonsen. “Ou quando se cria um submarino com garrafa de refrigerante e uma prancha de surfe feita com madeira e tubo de PVC.”

O Howtoons se tornou uma poderosa ferramenta de apoio ao ensino de ciências em escolas americanas. E pode fazer ainda mais diferença em países em que há deficiências no sistema de ensino. O Brasil ficou entre os seis últimos colocados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), um dos indicadores mais respeitados de qualidade do ensino. O exame avaliou o desempenho dos alunos em 57 países. “A escola não é o espaço de experiências que deveria ser”, afirma Bianca Encarnação, editora-executiva da revista Ciência Hoje para Crianças, publicação brasileira com uma proposta parecida com a do Howtoons. “Os professores têm dificuldade de despertar o interesse dos alunos porque o modelo educacional é antigo, repetitivo.”

Ainda não há versão em português para o Howtoons. Mas a meta é que até o fim deste ano ele seja traduzido para 15 idiomas. Se depender dos autores, depois de ler Howtoons as crianças nunca mais vão olhar a sucata com os mesmos olhos.

Lia Vasconcelos
Época - Ed. 506 - 28/01/2008

http://www.howtoons.com/toon/the-infamous-marshmallow-shooter/
http://www.howtoons.com/

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