terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Mais bravatas-manias de Chávez

O presidente Hugo Chávez tem algumas manias. Uma delas é brigar com o cliente. Outra é culpar as grandes empresas pelos seus fracassos. Nas últimas horas, ele teve um ataque das duas manias.

Primeiro, ameaçou suspender o fornecimento de petróleo para os Estados Unidos se a ExxonMobil continuar com a ação na Justiça para congelar os bens da PDVSA. A ação da Exxon é um exagero. Ela teve seus bens confiscados na Venezuela e decidiu agir assim em outros países e acaba de ter um vitória na Justiça Inglesa. Mas a ameaca do presidente Chávez é repetida a cada vez que há qualquer problema na relação com os Estados Unidos ou alguma empresa americana. E é uma ameaça que ele nunca cumpre. sabe por quê Porque ele é mais dependente do petróleo dos Estados Unidos do que vice-versa. Os EUA compram da Venezuela 11% de todo o petróleo importado; a Venezuela vende para os EUA mais da metade de todo o petróleo que exporta. Se parar de exportar, a primeira economia a entrar em colapso será a venezuelana, porque 85% dela é petróleo.

A Colômbia, com que Hugo Chávez vive brigando, tem uma excelente e intensa relação comercial com a Venezuela. Se o comércio entre os dois países for interrompido em algum momento, a economia venezuelana também sentiria muito.

A briga agora com a Nestlé e a Parmalat já é a outra mania de Chávez: de culpar grandes multinacionais pelos seus fracassos. A Venezuela tem enfrentado uma crise cada vez mais longa de escassez de produtos e desabastecimento. O grande culpado disso é o próprio Chávez, que ameaça qualquer setor de expropriação, o que tem inibido os investimentos para aumento da produção. A desorganização do setor produtivo vem desde a grande greve geral de 2003.
Naquela época, estive em Caracas e o entrevistei. Durante as horas de espera pela entrevista, vi cenas de desabastecimento dentro do Palácio Miraflores. Vi funcionárias comprando e vendendo farinha para pão no corredor que dava para o banheiro próximo à sala em que ele me concedeu a entrevista. E o papel higiênico do Palácio ficava trancado no armário: cada funcionário, quando precisava, tinha que pedir que se abrisse o armário para receber um pedaço do rolo. Mesmo assim, quando perguntei para Chávez sobre desabastecimento, ele reagiu furioso dizendo que não havia desabastecimento, que era invenção da oposição.

Chávez governa a Venezuela como se ela fosse sua propriedade, e ele pudesse impor aos venezuelanos tudo o que lhe dá na telha. Mas late muito e morde pouco. Até porque sabe bem que, se suspender o petróleo para os Estados Unidos, será um bom tiro no seu próprio pé.

Miriam Leitão
O Globo Online

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