Há mais de trinta anos que o Quarteto Alban Berg está presente nos grandes centros musicais, tendo atuado nos principais palcos e festivais de música de todo o mundo. Apresentam, todos os anos, ciclos de concertos na Konzerthaus de Viena (onde estrearam em 1971, sendo atualmente Membros Honorários), no Royal Festival Hall de Londres (do qual são Artistas Associados), na Ópera de Zurique, no Théâtre des Champs-Elysées, na Philharmonie de Colónia e na Grande Ópera de Frankfurt.
Desde a sua constituição, o Quarteto Alban Berg realizou inúmeras gravações, recebendo mais de trinta prémios discográficos internacionais, incluindo o Grand Prix du Disque, o Deutsche Schallplattenpreis, o Prémio Edison, o International Classic Music Award, o Grande Prémio do Disco do Japão e várias distinções na revista Gramophone, permanecendo as suas gravações como referências maiores no género.
Entre as numerosas gravações do Quarteto Alban Berg, figuram integrais dos quartetos de Beethoven, Brahms, Berg, Webern e Bartók, o ciclo completo dos últimos quartetos de Mozart e de Schubert, quartetos de Haydn, Dvorák, Schumann, Ravel, Debussy, Stravinsky, von Einem e Haubenstock-Ramati, assim como registos ao vivo de actuações no Carnegie Hall (Nova Iorque), na Opéra-Comique (Paris), no Queen Elizabeth Hall (Londres) e na Konzerthaus (Viena). Foi precisamente neste último palco, durante a edição de 1989 do Festival de Viena, que o agrupamento gravou ao vivo o ciclo integral dos quartetos para cordas de Beethoven, editado em CD e vídeo. O Quarteto Alban Berg realizou também várias gravações ao vivo de obras de Janácek, Lutoslawski, Berio, Schnittke, Urbanner, e Rihm (grande parte das quais dedicadas ao Quarteto Alban Berg), bem como o Quinteto com Piano de Dvorák (com Rudolf Buchbinder), os últimos quartetos de Schubert, o Quinteto com Clarinete de Brahms (com S. Meyer), o Quinteto op.111 (com H. Schlichtig), também de Brahms, o Quarteto com Piano, em Mi bemol Maior, e o Quinteto K.414, de Mozart (com Alfred Brendel), os Quartetos op.51 e op.106 de Dvorák e os Quartetos op.12 e op.13 de Mendelssohn. Mais recentemente, gravaram, também ao vivo, Tango Sensations de Piazolla e a estreia mundial de eu Satie, do compositor vienense Kurt Schwertsik, ambas as gravações com a participação de Per Arne Glorvigen (bandoneón).
Se bem que os concertos e os discos do Quarteto Alban Berg sejam elogiados em termos superlativos pela crítica e acolhidos com entusiasmo pelo público, os membros do Quarteto dão menos importância ao seu êxito do que ao cumprimento da missão de atingir a mais harmoniosa interpretação das obras que tocam e de alargar o seu repertório, desde as obras clássicas até à vanguarda. O nome "Alban Berg" simboliza este comprometimento.
Em 2005, o Quarteto sofreu uma dolorosa perda com a morte do companheiro de longa data Thomas Kakuska. A atividade de concertos continua agora com a integração da sua discípula Isabel Charisius.
Franz Schubert (1797-1828) - Quarteto no. 14 em ré menor - "A morte e a donzela" D.810
Allegro
Andante con moto
Scherzo: Allegro molto
Presto
É curioso que o opus 127 de Beethoven, composto entre 1822 e 1825, mantenha muitas semelhanças com o quarteto no. 14 de Schubert, de 1824. Houve quem aventasse possíveis influências deste sobre aquele, argumento logo refutado porque a obra de Schubert só foi estreada em 1º de fevereiro de 1826 - e publicada apenas postumamente, em 1832. As afinidades, entretanto, são evidentes. A começar do "Adagio" com variações do opus 127, primo próximo do "Andante con moto" que fez as glórias deste quarteto de Schubert, levando-o a ser modernamente até trilha de cinema e nome de filme. Cada um a seu modo, eles trataram de remexer nas estruturas do paradigma da música de câmara. Era natural que vez por outra determinadas soluções formais se cruzassem.
"A morte e a donzela" nasceu como "lied", composto em 1817 por Schubert sobre poema de Mathias Claudius. Quando reutilizou a melodia da canção como tema do "Andante" com variações do 14º quarteto, Schubert propiciou o apelido à obra e a razão de sua popularidade nestes quase dois séculos. Isso tudo apesar do tom fúnereo e sombrio, da canção e do quarteto como um todo. É impressionante, de fato, o modo como Schubert retrata a história da donzela levada pela morte. Os quatro instrumentos expõem o tema da abertura do "Andante" em acordes (como no "Adagio" do opus 127) e em seguida o primeiro violino desgarra-se, como se assumisse o papel da morte, cavaleiro que leva a galope a donzela para a morte. Espraiam-se, em seguida, as cinco variações.
Depois de um magnífico scherzo construído a partir do motivo do coral inicial do Andante, torna-se impossível deixar de ouvir o "Presto" final, mesmo com seu frenético ritmo de tarantella em ré menor, à maneira de uma dança dos mortos. Ou mesmo um delirante cortejo fúnebre.
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