Astrônomos de um instituto alemão conseguiram captar "ecos de luz" da explosão de uma supernova observada pela primeira vez da Terra há mais de 400 anos para tentar solucionar o mistério que existia desde então entre os cientistas para descobrir a origem daquele evento. Em 1572, uma "nova estrela" apareceu no céu, deixando astrônomos impressionados e provocando a revisão de antigas teorias sobre o universo.
Os cientistas do instituto Max Planck usaram telescópios no Havaí e na Espanha para captar os ecos da explosão original, refletida por poeira cósmica.
O estudo foi publicado na última edição da revista Nature.
"Estrela nova"
No início de novembro de 1572, uma "estrela nova" brilhante apareceu na constelação Cassiopéia e era visível mesmo durante o dia.
Entre aqueles que ficaram impressionados com o fenômeno estava o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, que registrou a localização precisa da estrela em seu livro Stella Nova. Sua constatação contradisse a tradição aristotélica de que tais estrelas eram imutáveis e que dominou o pensamento ocidental por quase 2000 anos.
A descoberta abriu caminho para o trabalho de Kepler, Galileu, Newton e outros.
Marco
"A supernova de 1572 foi um marco na história da ciência", disse Oliver Krause, coordenador do estudo do instituto Max Planck. "Ela acabou levando ao abandono da noção da imutabilidade dos céus."
Ele observa, porém, que "sua classificação sempre foi controversa". "A determinação do tipo exato de supenova não era possível sem informações espectroscópicas", disse.
Com base em registros históricos, a supernova de Tycho [SN 1572] tem sido tradicionalmente classificada como uma supernova do tipo Ia.
Tais supernovas ocorrem quando uma estrela anã branca passa por uma explosão termonuclear de proporções gigantescas.
Pedaços da estrela são ejetados a até 18 mil milhas por segundo - ou um décimo da velocidade da luz.
Expansão
Os destroços da supernova de Tycho se expandiram nos últimos quatro séculos para formar uma nuvem de gás e poeira com um diâmetro de mais de 20 anos-luz.
Mas a natureza da explosão original que criou esses resquícios permanecia sem resposta. Para elucidar essa questão, Krause e sua equipe conduziram uma espécie de "biópsia" ao registrar com seus telescópios os ecos de luz fraca originados pelo evento original.
A explosão de uma supernova age como uma lâmpada cósmica, produzindo luz que se propaga em todas as direções.
A primeira onda de luz direta da explosão passou pela Terra em 1572, mas até hoje novas ondas de luz continuam a chegar à Terra indiretamente, refletidas no "espelho" das partículas interestelares.
Esses "ecos de luz" contêm uma espécie de "registro fóssil" da supernova original e estão sendo usados pelos astrônomos para uma "viagem no tempo" de volta aos eventos cósmicos antigos.
Espectro ótico
A equipe de Krause foi capaz de detectar um espectro ótico da supernova de Tycho em sua luminosidade máxima, usando telescópios no observatório de Calar Alto, na Espanha, e de Mauna Kea, no Havaí.
"Temos agora uma instigante oportunidade para usar outros ecos de luz para construir uma visão espectroscópica tridimensional da explosão", disse ele.
As novas medições também podem ajudar na solução de várias questões ainda pendentes sobre como as supernovas do tipo Ia emergem.
Em um dos modelos, uma estrela anã branca atrai material de uma estrela próxima até sua massa atingir um ponto crítico, quando passa então por uma explosão termonuclear. Em outro modelo, o crescimento ocorre pela fusão de duas estrelas anãs brancas. A proximidade da supernova de Tycho, na Via Láctea, a torna uma candidata ideal para mais estudos detalhados sobre as supernovas.
BBC Brasil
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