quinta-feira, 31 de julho de 2008

Escritos de Quevedo revelan la fecha exacta de su nacimiento


Una carta escrita por Francisco de Quevedo a su amigo Sancho de Sandoval, en la que hablaba sobre la razón de su nombre, así como de un romance autobiográfico del propio escritor, han sido los datos reveladores que han llevado a adelantar tres días la fecha exacta de su nacimiento.
Así lo ha dado a conocer hel presidente de la Fundación Francisco de Quevedo, José Luis Rivas, tras un exhaustivo estudio realizado por él y publicado en el último número de la revista científica 'La perinola'.

Rivas ha desvelado que, en la carta, fechada el 31 de mayo de 1639 en Madrid, Quevedo informaba a su amigo sobre la razón de su nombre, el de Francisco "por haber nacido el día de sus Llagas", en referencia a la impresión milagrosa de las llagas de San Francisco de Asís, ocurrida en la madrugada del 14 de septiembre de 1224.

En relación al romance, Rivas ha explicado que en éste, Quevedo hace una alusión metafórica a la fase lunar que había la noche en que nació cuando escribía el verso 'Dos maravedís de luna', y que según el calendario perpetuo, correspondía exactamente a la madrugada del 14 de septiembre de 1580.

Además, según este investigador, Quevedo decía en ese mismo poema que nació la madrugada del miércoles, día de la semana que precisamente correspondía a esa fecha.

Rivas ha aclarado que el calendario perpetuo era conocido por Quevedo debido a su enorme sabiduría astrológica, ya demostrada por Alessandro Martinengo.

Para el autor de la investigación, este hallazgo supone "situar el día exacto del nacimiento de Quevedo siguiendo su propio testimonio, una fecha importante sujeta hasta ahora a muchas especulaciones" y, en este sentido, ha dicho: "De Quevedo se ha hablado mucho, pero de él se sabe poco".

Rivas ha estado acompañado por el coordinador de la 'Fundación Francisco de Quevedo', David Felipe Arranz, quien ha dicho que la celebración del II Congreso Internacional sobre el autor del Siglo de Oro, tendrá lugar en Torre de Juan Abad, en Ciudad Real, los días 5 y 6 de septiembre con el título 'Los paisajes de Quevedo'.

Agência EFE

Poderes

O Batman é um super-herói sem superpoderes. Não voa, não enxerga através do aço, não faz o globo girar ao contrário.O único outro exemplo da espécie que me ocorre é o Fantasma, mas o Fantasma ficou datado. Há algo de irremediavelmente antigo na sua figura, vivendo aquela fantasia de onipotência colonial entre os pigmeus. O Batman, ao contrário, é um herói metropolitano. Só é concebível num cenário urbano onde o gabarito foi liberado. E fica cada vez mais atual. Cada nova versão do Batman no cinema é mais sofisticada do que a anterior. Começou como gibi filmado, já foi comédia pós-moderna estilizada, agora - pelo que leio, ainda não vi - é uma tragi-comédia com sombrias referências às paranóias do momento. Batman é reincidente e nunca fica datado porque nunca fica bem explicado, tem sempre uma conotação a mais a ser explorada, um lado da sua personalidade e da sua legenda a ser descoberto e dramatizado. E acho que o fato de não ter superpoderes tem muito a ver com a sua permanência através de todos estes anos, que não foram piedosos com os outros super-heróis clássicos, massacrados pela paródia e o esquecimento.

Desde o momento em que foi matar uma mosca e demoliu a mesa, o Super-Homem conhecia seus poderes. Os poderes definiram o homem. Ele não poderia ser outra coisa além de Super-Homem, sua vida estava decidida já nas fraldas. Batman escolheu ser Batman. Nada determinava a sua escolha. Não tinha nem a carga genética para guiá-lo, como o Fantasma, que pertencia a uma dinastia de Fantasmas. Se a legenda do Superhomem é uma parábola sobre a predestinação, a do Batman é uma reflexão sobre o livre-arbítrio. A única coisa que une os dois é a obsessão em fazer o Bem - o que torna a escolha do Batman ainda mais misteriosa. Ele decidiu ser um homem-morcego. Logo o morcego, bicho hemofágico e ruim, cuja única antropomorfização (com perdão do palavrão) conhecida antes do Batman foi o Drácula. Escolhendo um símbolo do Mal para fazer o Bem, Batman enfatizou seu livre-arbítrio. Nada determina as suas ações, nem a Natureza que fez o Super-Homem súper e o morcego asqueroso. Sua obsessão pelo Bem é uma escolha moral, desassociada de qualquer imperativo externo. Ele não é um herói para melhorar a reputação dos morcegos nem porque veio de outro planeta predestinado a ser bom, ou porque gosta de usar malha justa. O que a sua legenda nos diz, e talvez por isso dure tanto, é que o ser humano é cheio de imperfeições e maus impulsos, limitado pela biologia e condicionado por mitos e tradições, mas é livre para escolher o que quer ser. E decidir ser justo.

Está aí, um super-herói do iluminismo. Longa vida para o Batman.

Luiz Fernando Veríssimo

'Computador' mais antigo do mundo previa ciclos de quatro anos dos Jogos Olímpicos


Em 1900, um grupo de pescadores de esponjas descobriu os restos de um barco naufragado que tinha mais de dos mil anos de idade, na costa de Anticítera (em grego Antikythira), uma pequena ilha ao sul da Grécia, situada entre as ilhas de Citera e Creta. O barco estava repleto de tesouros, entre eles um dos objetos mais enigmáticos do mundo antigo: um sistema de rodas e engrenagens do que parecia ser um 'computador'. As rodas calcificadas, de cerca de 30 centímetros, fazem parte de um mecanismo que, um século depois de descoberto, continua a surpreender os cientistas.

Até hoje, os especialistas que analisavam a peça sabiam que o mecanismo era capaz de indicar hora e posição do Sol e da Lua, e que as suas engrenagens determinavam, com precisão, quando ocorreriam os eclipses. Agora, o grupo descobriu que a roda indicava também os ciclos de tempo dos antigos Jogos Olímpicos, uma grande surpresa, segundo artigo publicado na edição desta quarta-feira da revista científica "Nature".

- O mecanismo tinha também função cultural. Era um calendário que os gregos preparavam para os jogos que se realizavam a cada dois ou quatro anos - disse o co-autor do estudo, Alexander Jones, do Instituto do Mundo Antigo de Nova York. - Eram acontecimentos que não tinham nenhum interesse científico, apenas social.

Segundo Jones, a peça descoberta é uma círculo pequeno dividido en quatro seções com dois diâmetros que se cruzam. Usando uma técnica especial de fotografia e iluminação, que inclui técnicas de visualização em raios X em três dimensões, os cientistas conseguiram decifrar o nome dos meses associados ao mecanismo, muito complexo e composto por pelo menos 30 engrenagens de precisão. O mau estado em que pescadores de esponjas encontraram, no início do século XX, o mecanismo de Anticítera dificultou durante muito tempo o estudo e a compreensão de suas funções.

- Já sabíamos que esse antigo mecanismo grego, que data de 2.100 anos de idade, calculava ciclos complexos de astronomia matemática. Nós nos surpreendemos ao constatar que também podia colocar em evidência um ciclo quatrienal dos antigos Jogos Olímpicos - acrescentou Tony Freeth, outro autor do estudo.

De acordo com Freeth, que é matemático, a primeira pista foi a descoberta da palavra "Nemea" na base da roda. Os jogos nemeos são derivados dos jogos fúnebres e fazem parte dos ciclos dos Jogos Olímpicos.

- Essa tecnologia é extraordinária. Cada vez que a exploramos um pouco mais, encontramos algo mais sofisticado - concluiu Freeth.


Previsão de eclipses com grande exatidão

Os astrónomos da Grécia do século II antes de Cristo previam os eclipses com grande exactidão graças a seus conhecimentos do mecanismo de cálculo astronómico. Os eclipses - que se repetem segundo o chamado ciclo de Saros, que dura cerca de 19 anos - eram anotados na grande roda dentilhada que indicava a seu usuário se eram solares ou lunares e a que hora iam acontecer, segundo os cientistas.

Eles descobriram como, segundo esses cálculos, os eclipses se atrasam cerca de oito horas, ou seja, 120 graus de longitude, em cada ciclo.

- O mecanismo compreendia também uma pequena roda dentilhada que indicava ao usuário como realizar esse ajuste temporal - explicou John Steele.

Ainda segundo os cientistas, a máquina foi construída entre os anos 150 e 100 antes de Cristo. O seu criador é desconhecido.

O Globo Online

El cristianismo y la historia de la libertad


Para los americanos, el 4 de julio marca el día de la independencia nacional, pero este día festivo se ha convertido en símbolo de una causa más universal: la libertad humana. Tanto en la teoría como en la práctica, el desarrollo de la libertad humana es en gran medida la historia del cristianismo.

La forma de entender el modo en que el pasado incide sobre nuestra forma de vivir el presente es la razón por la que los debates sobre la historia pueden ser tan enconados. Definir si el cristianismo es un vehículo de opresión o una fuerza de liberación es una pregunta cuya respuesta lleva 2 milenios siendo polémica.

Para muchos, el cristianismo es opresivo. Para ellos, la religión cristiana está asociada a las Cruzadas, la Inquisición y el moralismo puritano. Suscita imágenes de caza de brujas, de la letra escarlata y del "Papa de Hitler". Los cristianos contemporáneos no pueden ignorar estas asociaciones. La verdad que contienen debe ser reconocida. Pero los críticos del cristianismo no pueden estar en misa y repicando. Si hay que destacar el mal que se hace en nombre de Cristo, entonces también tendremos que subrayar lo bueno. Las campañas contra la esclavitud, los orfelinatos y los hospitales, la protección de los débiles y de los inocentes, todas estas cosas también ha marcado la historia del cristianismo.

El impacto del cristianismo en la civilización ha ocupado a algunas de las mentes más importantes de la historia, que han sabido reflejar e influenciar el espíritu de sus respectivas épocas. San Agustín defendió a los seguidores de Cristo contra la acusación de que eran culpables de la decadencia del Imperio Romano; 14 siglos después, el historiador británico Edward Gibbon resucitó la acusación, dando voz al escepticismo de su época contra la religión revelada.

Otro y mejor informado historiador inglés, Lord Acton, abordó el problema a fines del siglo XIX. El resultado, La Historia de la Libertad en el Cristianismo, fue una obra maestra de la antología que recorre casi dos mil años de historia del despliegue gradual de la libertad humana. Acton invirtió la narrativa de la Ilustración que había heredado. El ascenso del cristianismo no sofocó la llama de la libertad que ardía radiante en Grecia y Roma hasta que la superstición medieval dio paso a la benévola razón de Voltaire, Hume y Kant. Más bien, el cristianismo se hizo con las ascuas de la libertad que languidecían trémulas en un mundo antiguo caracterizado por la dominación del débil por el fuerte y las avivó lentamente y a trompicones hasta formar una llamarada que emancipó a la humanidad de sus ataduras internas y externas.

El enfrentamiento del cristianismo con la cultura no fue una cuestión de transferencia completa de la verdad sobre Dios y el hombre de la religión a la civilización. Desde sus comienzos en fuentes previas al cristianismo –el judaísmo y la Grecia Clásica– y continuando en movimientos laicos, políticos, económicos y sociales, el cristianismo interactuó con el mundo y perfeccionó su propio entendimiento de la naturaleza humana y de la voluntad de Dios para con la humanidad en este planeta.

La señal que marca el logro del cristianismo, como reconoció Acton, fue la creación del espacio para la libertad humana frente a la institución que, de hecho, ha sido la amenaza más grave para la libertad a través de la historia: el Estado. Hay que admitir que la historia se complica debido a la colaboración ocasional de funcionarios de la Iglesia con la opresión estatal. Con todo, una lectura justa de la historia debe reconocer el papel principal de las ideas y de las instituciones de la fe cristiana a la hora de contrarrestar las tendencias totalitarias: La proclividad del Gobierno a usurpar cada vez más poder a una capa de humanidad cada vez mayor.

En nuestros propios días, vemos a la Iglesia desempeñando nuevamente ese papel. Es la voz más destacada en la defensa de aquellos cuyos derechos se ven amenazados por la desidia o el ataque directo: minorías religiosas, mujeres y niños indefensos atrapados en la esclavitud, los enfermos y los nonatos. En educación, asistencia sanitaria y la vida familiar, los creyentes y las organizaciones religiosas se resisten a la tiranía de la expansión del Estado.

La versión del siglo XXI de la distorsión de la Ilustración se nota en los argumentos tendenciosos del nuevo movimiento ateo, cuyos iconos Harris, Hitchens y Dawkins han declarado que el cristianismo es, entre otras cosas, el enemigo de la libertad humana. Como ocurre con mucha frecuencia, estos pretendidos campeones de la libertad son lo contrario de lo que afirman ser. Para empezar, Harris dice que algunos tipos de creencias religiosas deberían ser delitos capitales: "Algunas propuestas son tan peligrosas que podría ser ético matar a la gente por creer en ellas".
(cita de The End of Faith, El Fin de la Fe). El enfoque de Harris se centra en la fe que promueve la violencia, pero su concepto de justicia es en sí mismo peligroso, pues descuida la distinción convencional entre pensar y actuar (siendo esto último delictivo). Por otra parte, no queda muy claro del todo que en la lectura que hace Harris de la historia y de la teología, el cristianismo ortodoxo no reúna las cualidades de "peligroso".

Los nuevos desafíos para lograr un entendimiento acertado de la fe y la libertad requieren nuevas contrarréplicas. La impactante película del Instituto Acton, The Birth of Freedom (El Nacimiento de la Libertad), es una de ellas. Al igual que Lord Acton, se adentra en la historia revelando los detalles de la lucha de la humanidad por la libertad. "La Europa cristiana eliminó la esclavitud" dice uno de los comentaristas que presenta el documental, el sociólogo Rodney Stark. "Ésa es una historia que raramente se cuenta, y es una pena que sea así."

Cristo vino a liberar a los cautivos, dicen las Escrituras. La labor está aún sin concluir, pero su historial de logros es impresionante.

Dr. Kevin E. Schmiesing, investigador del Centro de Investigación Académica del Instituto Acton. Es escritor prolífico sobre asuntos de pensamiento social católico y economía y autor del libro American Catholic Intellectuals, 1895-1955 (Edwin Mellen Press, 2002). Su obra más reciente es Within the Market Strife: American Catholic Economic Thought from Rerum Novarum to Vatican II (Lexington Books, 2004).

* Traducido por Miryam Lindberg del original en inglés.

La larga marcha de los católicos chinos

"Por supuesto que sí". Es la respuesta que ofrece el cardenal Joseph Zen, perplejo ante la duda de su interlocutor, cuando le preguntan si se puede verdaderamente ser cristiano hoy en China. A escasos diez días de la apertura de los Juegos Olímpicos de Pekín, este valiente testigo de la fe y luchador por las libertades contempla con algo de ironía la fascinación occidental frente a su inmenso país.

El régimen de Hu Jintao se ha planteado las Olimpiadas como una gigantesca operación de marketing que debe proyectar la imagen de un país lanzado hacia el liderazgo del futuro en todos los campos. Claro que para eso es preciso correr una cortina de silencio sobre demasiadas cosas. Para empezar, sobre las tremendas contradicciones de un sistema que ha abierto algunos sectores de su economía al libre mercado mientras mantiene un férreo cerrojo a las libertades y los derechos humanos. El resultado ha sido una franja costera con un desarrollo fulgurante y una nueva clase de ricos (unos doscientos millones de personas) frente a un interior rural y subdesarrollado en el que una población de más de trescientos cincuenta millones de personas se hunde cada vez más en la pobreza.

Por otra parte, hoy apenas queda rastro de la épica revolución de los estudiantes en Tiananmen, ahogada en sangre por orden de los mandarines del PCCh. Parece como si la sed de libertad que puso en jaque a la mayor dictadura de la historia hubiera sido tragada la tierra: unos se han entregado al disfrute de las nuevas posibilidades ofrecidas por el crecimiento económico, otros simplemente han decaído en la resignación.
Culturalmente hablando, el pueblo chino está sufriendo la superposición de la tradición confuciana, del maoísmo y de un capitalismo sin raíces: es difícil definir el sabor de este extraño cóctel y predecir su evolución futura.

Abortado (parece que definitivamente) cualquier conato de disidencia política, la represión se ceba hoy en el campo de la libertad religiosa. Más allá de las buenas palabras que se gastan en las oceánicas asambleas del comunismo chino, los aparatos de control se han perfeccionado para impedir cualquier vía de agua que proceda de un ámbito que desde siempre ha inquietado a los jerarcas del régimen chino. En este sentido las Olimpiadas juegan un auténtico papel de máscara: por un lado se abren espacios (bajo estricta vigilancia) para que las delegaciones extranjeras puedan ejercer la libertad religiosa, mientras se impermeabilizan las comunidades religiosas locales para impedir todo contacto con los visitantes, y se acentúa la represión preventiva para evitar cualquier manifestación visible durante el desarrollo de los Juegos.

El cardenal Zen reconoce que la paciencia, una virtud tan china, no es su fuerte. Aun así, se niega a enjuiciar la situación en términos de optimismo-pesimismo. Se ha cumplido un año de la histórica carta de Benedicto XVI a los católicos chinos, el movimiento de mayor trascendencia que ha realizado la Santa Sede desde que en 1952 Mao expulsara de Pekín al Nuncio y comenzara una persecución en toda regla. Los frutos de esa preciosa carta son difíciles de evaluar: para las comunidades católicas (unos doce millones dispersos desde la antigua Manchuria a Shangai) ha supuesto una inyección de esperanza y una señal luminosa de la preferencia del Papa; para los burócratas de la Asociación de Católicos Patrióticos, un serio peligro de perder sus estúpidas prebendas; y para el régimen, un documento difícil de clasificar que ha descolocado sus estrategias diplomáticas.

Lo cierto es que poco o nada se ha movido en la dirección de una mayor libertad para los católicos chinos, e incluso las esperanzas suscitadas por algunos nombramientos episcopales concordados con Roma sotto voce parecen ahora más lejanas. "Quizás yo soy demasiado impaciente", concede el cardenal Zen; aun así, insiste, "la baza más importante con la que contamos es la carta del Papa (...). Hay que dejar que el tiempo pase, a la larga producirá resultados". También los analistas occidentales somos impacientes y aplicamos una lógica muy distante de la mentalidad china. Mientras el régimen recela de las intenciones de Roma y sigue viendo a la pobre comunidad católica como un peligro potencial (curioso este pavor que ya alentaba el propio Mao, como relata Jung Chang en su monumental biografía del tirano), las preocupaciones principales para los responsables de la Iglesia en China son de otro orden.

La cuestión esencial es cómo responder al desierto espiritual y moral que se abre paso a caballo de la tecnología impostada sobre las ruinas del maoísmo. Un gran conocedor del mundo chino, el padre Bernardo Cervellera, ha explicado que "particularmente en la clase media, formada por estudiantes y licenciados, y en el mundo académico, crece la búsqueda de un sentido de la vida, del deseo de Dios; una búsqueda que se aleja cada vez más de los mitos y tradiciones basadas en el confucianismo".

La feroz persecución del maoísmo no ha podido arrancar la planta de la fe del suelo chino, pero quién sabe si el desafío es ahora mayor, entre el campo sumido en la frustración y las ciudades enloquecidas por una riqueza sobrevenida y sin alma. "¡Por supuesto que se puede ser cristiano hoy en China!", repite el cardenal Zen. Y recuerda que la historia de la Iglesia en su país está llena de testigos que han dado su vida por vivir y comunicar la fe. "Mirarlos a ellos, a los que están más lejanos en el tiempo y a los más recientes, constituye la fuerza de nuestra comunidad".
Por cierto, los lectores españoles gozan ya de una magnífica obra sobre una de las páginas más hermosas y desconocidas del cristianismo en el siglo XX: El libro rojo de los mártires chinos, recientemente publicado por Ediciones Encuentro. Una buena lectura para estas vacaciones, especialmente para los católicos españoles tentados por la queja y el pesimismo.

José Luis Restán
http://iglesia.libertaddigital.com

De Ignacio de Loyola a Benedicto XVI

«Hoy deseo animaros a vosotros y a vuestros hermanos para que prosigáis en el camino de la misión, con plena fidelidad a vuestro carisma originario, en el contexto eclesial y social propio de este inicio de milenio» (Del discurso de Benedicto XVI a los miembros de la Congregación General XXXV, el 21 de febrero de 2008)...

El 31 de julio de 1556, tal día como hoy, moría en Roma Ignacio de Loyola, fundador de la Compañía de Jesús. Mientras agonizaba, su fiel secretario y auténtica conciencia latente del difunto, el burgalés Juan Alfonso de Polanco, corría al Vaticano para conseguir una última bendición de Paulo IV. Cuando Polanco retornaba con ese deseado gesto papal, el Padre Maestro Ignacio ya había fallecido en presencia de los PP. Madrid y Frusio. Desde tal momento, vivido en la oscuridad de la famosas camarette todavía conservadas y rehabilitadas de manera excelente, han pasado más de quinientos años. Y todavía hoy, podemos contemplar la serenidad del rostro de aquel hombre decisivo para la Iglesia Católica de su tiempo y del tiempo futuro, en la mascarilla de ese mismo rostro que, inmediatamente, se obtuvo tras su muerte. Ignacio de Loyola había pasado al Dios que fuera su Principio y Fundamento, pero también la raíz de su Contemplación para alcanzar Amor. Y dejaba tras de sí un grupo de amigos en el Señor, que se hacían llamar compañeros de Jesús. Su cadáver reposa en la capilla mayor de la Iglesia de la Compañía en Roma, en la parte del evangelio. Todo un signo.

Este año de 2008, la celebración de su festividad tiene lugar cuando todavía ilumina el cuerpo entero de la Compañía de Jesús, la Congregación General XXXV, en la que ha sido elegido sucesor de Ignacio de Loyola, otro español, el palentino Adolfo Nicolás, y en consecuencia, también se ha renovado en profundidad el equipo de gobierno que le ayudara a determinar las futuras respuestas de los jesuitas en los próximos años a lo largo y ancho del mundo, según los Documentos emanados en la citada Congregación General. Tales textos están introducidos por la respuesta de la Compañía entera al ya célebre discurso que Benedicto XVI pronunciara ante el conjunto de los participantes en el gran evento romano, el 21 de febrero, días antes de la clausura de los trabajos congregacionales. Un discurso ya histórico en los anales de los jesuitas contemporáneos, y que recoge en clave papal las esperanzas y deseos del sucesor de Pedro pero también de aquel Paulo IV que le enviara su bendición al moribundo Ignacio, y que no llegó a tiempo. Misteriosa anécdota en el conjunto de tantas otras que han punteado las relaciones de la Compañía de Jesús con la Santa Sede. Y que, en general, se han interpretado con exagerada parcialidad.

Precisamente por esta razón, hemos encabezado estas líneas conmemorativas de la muerte de Ignacio y la celebración de su festividad, con unas palabras tomadas del discurso ya comentado de Benedicto XVI, el Pontífice que ha querido recuperar a los jesuitas como cercanos colaboradores suyos, tras una larga época de meditativo silencio en virtud de su adhesión inquebrantable a la sede de Pedro. Y lo que transmite el Papa teólogo y buen conocedor de la Compañía de Jesús, como demuestra el discurso en cuestión, es su deseo de que los jesuitas sean lo que Ignacio decidió que fueran, siempre en virtud de la Bula papal que constituyó a la Compañía y de sus Constituciones, en las que el fundador desarrolló el núcleo, muy bien estructurado y redactado, del conjunto de características del cuerpo eclesial que el hombre de Loyola forjó desde el seguimiento de Jesucristo más intenso pero no menos desde la vinculación más radical a su Cuerpo, que es la Iglesia Católica. Que sean lo que dicen ser. Que sean lo que la Iglesia ratificó desde sus orígenes. Que, en palabras del mismo Papa, mantengan «la plena fidelidad al carisma ignaciano».

En su momento histórico, Ignacio intuyó que ante la Reforma Luterana era necesaria una Reforma Católica. Está clara la razón: más que una confrontación directa y tal vez ofensiva con las nuevas fuerzas religiosas pero también políticas, era del todo urgente una conversión interior de los miembros de la Iglesia Católica, de tal forma que los argumentos esgrimidos y proclamados por Lutero no fueran objeto tanto de controversia estéril como de una renovada vida de fe, de esperanza y de amor fraterno en las personas y en la colectividad fiel a Roma. Desde esta óptica, la misión clave de los nuevos jesuitas fue la dirección de aquellos extraños Ejercicios Espirituales que, nacidos en la catalana Manresa, acabaron por escribirse en Roma, obra de un Ignacio ya envejecido y místico. Ésta fue la gran intuición ignaciana: desarrollar una misión eclesial que transformara a las personas en su núcleo más decisorio, es decir, que vivieran con radicalidad la voluntad de Dios sobre cada una de sus criaturas, más tarde salvadas y liberadas por Jesucristo. Y por esta razón, en el corazón de los Ejercicios Espirituales, si es que se realizan ignacianamente y sin perversiones, surge la urgencia del Discernimiento como instrumento teológico, espiritual y hasta psicológico para descubrir esta voluntad divina siempre perseguida. Tanto es así que, en el discurso citado de Benedicto XVI, la última recomendación papal, a la Compañía reunida en Congregación General, fue la necesidad que tiene la Iglesia de los Ejercicios Espirituales como «un don que el Espíritu ha hecho a la Iglesia entera».

Por ahí discurre la intuición ignaciana y además la vertebración de su actividad evangelizadora: ir a las fuentes de la realidad, de la realidad de las personas y de la realidad de las culturas, razón por la que se hace necesario estar en la frontera. Hoy en día, ya no se trata de fronteras geográficas, desde que la globalización es un hecho, sino de esas fronteras culturales que subyacen en sociedades y en personas hasta crear en su más íntima razón de ser esas contradicciones que caracterizan al conjunto de nuestra contemporaneidad. Unas fronteras que, en definitiva, se reducen a una sola: la que la secularidad rampante ha establecido entre la Razón y la Fe. En tal frontera, cual filo de la navaja cultural, Benedicto XVI solicita de los jesuitas que estén. Y que sean capaces de mantenerse fieles a la Iglesia precisamente cuando el temporal azote sus vidas: ser capaces de arriesgar pero también de soportar por obediente amor a la Iglesia.

El lector que lo desee puede visitar la habitación en la que murió Ignacio de Loyola un 31 de julio de 1556, y en ella hasta es posible celebrar y participar en la Eucaristía. Es una experiencia sobrecogedora: en ese humilde lugar, de extremada austeridad, pasó al Padre un hombre pequeño de estatura pero gigantesco en fidelidad. Pero sobre todo, un hijo adulto de la Santa Iglesia, a la que siempre sirvió desde una obediencia creativa. Es decir, en los riesgos de la frontera. Casi nada.


Norberto Alcover S. J.
Profesor de Comunicación en la Universidad Pontificia Comillas

San Ignacio de Loyola, fundador de la Compañía de Jesús (jesuitas) (1491-1556)http://www.corazones.org/santos/ignacio_loyola.htm

quarta-feira, 30 de julho de 2008

The Times coloca acervo de 1785 até 1985 disponível online


O tradicional jornal inglês The Times, publicado diariamente desde 1785, colocou todo o seu arquivo disponível online - gratuitamente - até o ano de 1985. São 200 anos de informações de primeira mão sobre alguns dos mais importantes fatos da história da humanidade. A página do arquivo oferece recursos como uma linha do tempo com fatos relevantes de determinados anos, desde a execução da rainha da França, Maria Antonieta , passando pela prisão de Nelson Mandela em 1964 até o solo de bateria de 20 minutos de John Bonhan em 1973 .

É possível navegar também por citações que aparecem no alto da página, do lado direito. Clicando na citação, chega-se à notícia relacionada. Em duas visualizações, as frases foram " We shall fight on the beaches. We shall fight on the hills. We shall never surrender ", de Winston Churchill; e " The English ministers are fighting with each other; all is perfect anarchy ", de Napoleão Bonaparte.

http://archive.timesonline.co.uk/tol/archive/

O The Times não é o pioneiro na iniciativa de colocar seus arquivos na rede. No ano passado o New York Times já tinha feito o mesmo, disponibilizando gratuitamente seus arquivos desde 1987, assim como todo o material publicado de 1851 até 1922, que já era de domínio público. O jornal americano continua cobrando o acesso às notícias publicadas entre 1923 e 1986.

Outra iniciativa semelhante que merece menção é a " Fotogaleria da Biblioteca do Congresso ", que publica fotos do acervo da Bilbioteca do Congresso dos EUA no Flickr. Nesse caso, além de disponibilizar gratuitamente o material, a iniciativa serve também para identificar muitas das fotos que têm "muita pouca descrição" ( Clique aqui e leia descrição do perfil da Biblioteca no Flickr).

Eduardo Almeida - O Globo Online

Uma mensagem da Terra


A rede social Bebo se juntou com Alexander Zaitsev, da Academia Russa de Ciência, para enviar 500 mensagens postadas no site de relacionamentos ao espaço. Segundo a versão on-line do jornal britânico “Guardian”, Zaitsev é um dos principais cientistas do mundo na área de radiocomunicação interestelar. O cientista vai usar um radiotelescópio ucraniano, adotado na identificação e rastreamento de asteróides, para enviar as mensagens a um planeta com massa e tamanho semelhantes ao da Terra orbitando a estrela Gliese 581. Acredita-se que esse planeta, na mira da chamada cápsula do tempo digital, tenha condições para abrigar vida.

O projeto Message From Earth (mensagem da Terra, em português) terá início no dia 4 de agosto, quando os usuários do site de relacionamentos poderão sugerir textos e imagens com “uma nova perspectiva da Terra”. Esse conteúdo deve criar um alerta sobre os problemas ambientais atualmente enfrentados.

Os internautas poderão votar em suas mensagens favoritas no site de projeto até 30 de setembro, e as 500 vencedoras serão enviadas ao espaço no dia 9 de outubro.

“Acredito que a maioria das mensagens será bastante inocente, mas também espero que a gente receba material com um olhar criativo e fresco sobre o tema proposto”, afirmou Zaitsev, para quem a existência de vida em outros planetas se mantém um mistério.

O “Guardian” afirma que a produtora RDF Digital vai cobrir os gastos de cerca de US$ 40 mil (R$ 63 mil), pagos à Agência Espacial da Ucrânia, por quatro horas e meia de transmissão. Segundo a produtora, esse é o primeiro projeto democrático para o envio de mensagens ao espaço.

G1

terça-feira, 29 de julho de 2008

Calvin & Haroldo


Calvin & Hobbes (Bill Waterson)

El descubrimiento de la política


Algunos lectores de mi artículo anterior sobre la transición cubana me han escrito para preguntarme por qué daba yo por sentado que un cambio en lo económico iba a traer aparejado un cambio en lo político hacia la democracia. Y me han propuesto el ejemplo de China como modelo de país en marcha hacia al capitalismo sin progresos en sus libertades.

Les respondí, y apunto ahora aquí, que la diferencia entre uno y otro caso es de 1.300 millones de habitantes a 10. China, con su economía de plantación industrial, ha entrado en el mercado mundial, pero no los chinos: si acaso, una exigua minoría, que a nosotros nos parece una mayoría porque se cuenta en millones. Cuba no puede entrar en el mercado mundial sin que lo hagan los cubanos, sea como empleados de las empresas internacionales que no tardarán en establecerse allí, sea como emprendedores particulares: doy un plazo máximo de cinco años para que el tabaco, el azúcar y su principal derivado, el ron, vuelvan a manos de empresarios privados, no pocos de ellos cubanos, como los potentados rusos que amasaron sus fortunas al amparo de los restos del naufragio del poder soviético. El paso de la URSS a Rusia no implicó una plena democratización, y Putin es tan zar como Stalin o Pedro el Grande, pero hubo ochenta años de suspensión de la propiedad privada, que ha vuelto por sus fueros, y eso lo cambia todo. Hasta es lo que determina que las elecciones las gane Medvedev o cualquier otro candidato al Gobierno, que no al poder, que proponga el ex agente del KGB. Y a esto quería yo llegar.

Las transiciones tras largas dictaduras, y en España sabemos mucho de ello, no suelen ocurrir por la vía de la derrota, sino que surgen del interior del propio régimen. Ninguno de los dirigentes postsoviéticos, ni en Rusia ni en varios de los que habían sido sus países satélites, han sido ajenos a los regímenes previos. Excepciones: Polonia, donde Solidarnosc exigió lo que los comunistas jamás habían concedido, el control obrero de la producción, y el retorno al capitalismo se produjo por la vía de una rebelión situada a la izquierda del poder, por paradójico que ello pueda parecer; en parte, Rumanía, donde el odio a Ceaucescu y a su policía política superó todas las opciones entre un sistema y otro; Checoslovaquia, donde el cambio fue dirigido por Alemania (incluso en lo de la partición de Chequia y Eslovaquia), y Yugoslavia, donde también Alemania intervino de manera directa, al respaldar la separación de Eslovenia y Croacia y dar lugar a la guerra que siguió: eso no era la caída del comunismo, sino la realización del viejo plan germano de recomposición del viejo Imperio Austrohúngaro.

La transición política cubana, casi paralela a la transición económica, viene del interior del régimen. Con asombrosa ingenuidad titulaba La Razón el pasado 21 de julio, en su página 26: "Los partidos libres se asoman a Cuba". Entradilla: "Arco Progresista anuncia la creación de una formación política. Sus promotores pretenden dar cabida a liberales, socialcristianos, demócratas sociales y humanistas". Salvo por el misterio que envuelve la palabra humanistas, el resto es la UCD. Pie de foto: "El activista político Manuel Cuesta, en una fotografía de archivo". Una mirada a Manuel Cuesta Morúa define de golpe un montón de cosas.

En primer lugar, hay que decir que el hombre es negro, lo cual es un avance por sí mismo: el Comité Central del Partido en Cuba sólo albergó un negro en medio siglo, y eso porque era un héroe de Sierra Maestra, Juan Almeida, sin el menor poder real. Ya en la vejez, le dieron el premio Casa de las Américas, y Roberto Fernández Retamar dijo que el jurado no sabía quién era el autor de esas memorias galardonadas, como si hubiera muchos capaces de recordar lo que recordaba Juanito Almeida de la guerra que precedió a la toma del poder en 1959.

En segundo lugar, hay que decir que el hombre es historiador, que en Cuba es mucho decir. Más que en España, donde, además de estar discutiendo la Guerra Civil hasta que no quede de ella más que un montón de mentiras, sigue habiendo temas tabú, como el de la historia empresarial y política de Francisco Cambó, con sus largos tentáculos extendidos sobre Francia, Italia e Hispanoamérica, Argentina en particular. Si la historia, como la guerra, es la continuación de la política por otros medios, en América Latina, y de modo muy especial en Cuba, cabría casi decir que ni siquiera es una continuación: es la política misma, día a día. Sólo en la URSS alcanzó tal relieve la reescritura revolucionaria de la historia, que hoy es difícil investigar la historia rusa presoviética por la inaccesibilidad de los archivos o por su destrucción. Lo que significa que Manuel Cuesta Morúa es un hombre político por oficio, un trabajador del pasado, al que se puede remodelar y se remodela al antojo de los sucesivos regímenes (de paso sea dicho, una de las cosas que definen al zapaterismo como régimen es precisamente ese afán de transformar el pasado nacional hasta borrar Hispania del mapa de los tiempos).

En tercer lugar, Manuel Cuesta Morúa luce buenas gafas, una excelente camisa con doble abotonadura en las mangas y una corbata de diseño (de seda, a juzgar por el nudo). O sea, que no se parece en nada a un cubano de a pie. Que es un personaje con autorización para moverse por el mundo, manejar dólares y desplazarse en coche: no tiene la pinta de clandestino de segunda de Isidoro, lo que significa que nadie se ha preocupado por disimular sus pactos ni por plantear su porvenir como un azar congresual en Suresnes. Que nadie se confunda: tampoco es Adolfo Suárez, que se inició, en gran medida por decisión y confianza de Herrero Tejedor, como ministro Secretario General del Movimiento.

Éste no viene de las fotos oficiales. Tampoco viene del riesgo de las Damas de Blanco, ni del de sus parientes encarcelados, ni de la disidencia esforzada de Raúl Rivero, ni pertenece al mundo del exilio en ninguna de sus vertientes, londinenses, parisinas, mexicanas o floridenses: el mundo de Cabrera Infante, de Franqui, de Sarduy, de Reinaldo Arenas, de Manuel Pereyra, de Jacobo Mahover, de José Kozer, de Carlos Alberto Montaner, de Manuel Díaz Martínez, de Jesús Díaz; ni siquiera al más reciente de Norberto Fuentes, que es la prueba fáctica de que el general Ochoa fue fusilado para que no ocupara el lugar de Manuel Cuesta Morúa.

"Nuevo país, construyendo la Cuba de los ciudadanos": ése es el lema de Cuesta Morúa. Suena, ¿no? Veamos el comienzo de la nota, fechada en Ciudad de México: "Tres grupos de la coalición opositora cubana Arco Progresista (¡AP!) han anunciado en La Habana la creación de un partido político unificado, con el que pretenden conseguir una mejor estructuración de su proyecto socialdemócrata para abordar los desafíos que enfrentará la isla en la transición que según ellos se avecina".

Sigue la nota: "La fusión de la Coordinadora Socialdemócrata de Cuba (en el exilio), el Partido del Pueblo, con base en la región oriental de la isla, y la Corriente Socialista Democrática tuvo lugar durante la sesión inaugural de la Primera Convención Nacional del AP, celebrada este fin de semana en una casa particular del municipio capitalino de La Habana Vieja". "Solamente 25 personas asistieron a la apertura de la convención, que corrió a cargo de Leonardo Calvo, debido a que muchos de los asistentes confirmados fueron retenidos". ¿Por quién y dónde? ¿Por qué retenidos y no detenidos? ¿Alguien detuvo después a Calvo o a Cuesta Morúa? Las respuestas son obvias: nadie detuvo a nadie, y la Seguridad del Estado sabía que la reunión se llevaba a cabo.

¿Alguien se acuerda del franquismo? No era nada fácil hacer una reunión así, y mucho menos anunciar nada parecido en Madrid o en Barcelona: recuérdense la Capuchinada, las reuniones de CCOO en las iglesias y, más tarde, ya en plena transición, las labores de enlace de Miguel Boyer para presentar a Isidoro y Fraga, o a Carrillo y Fraga... Pero este historiador y dirigente de la "disidencia interna moderada" (sic) sostiene que este partido "da cabida a los sectores social-liberales, socialcristianos, demócratasociales y humanistas que quieran participar desde dentro o fuera de la isla", sectores "identificados con los valores del socialismo, el nacionalismo, los derechos humanos, la democracia, la solidaridad, la institucionalidad, la moderación, el diálogo y la reconciliación". Largo me lo fiáis, y un pelín contradictorio, pero menos leche da un ladrillo.

Ésa es la vía oficial de la transición cubana, y así se marcan las reglas del juego. Los movimientos de la sociedad civil irán entrando poco a poco, y diluyéndose, en organizaciones políticas.

Horacio Vázquez-Rial

Pinche aquí para ver el CONTEMPORÁNEOS dedicado a HORACIO VÁZQUEZ-RIAL.

vazquez-rial@telefonica.net

El descubrimiento del capitalismo


Raúl Castro ha descubierto el capitalismo mientras su hermano Fidel se dedicaba a su propia, inevitable, penosa ancianidad y descubría la posibilidad de la muerte. Alina Fernández, la hija desdeñada del dictador y de la bella Nati Revuelta, se mostraba optimista estos días. Y que ella se muestre optimista es harto significativo, porque no es lo mismo irse de la casa del padre que exiliarse del país del padre. El libro de memorias de Alina es en todo recomendable para entender al personaje.

Yo soy optimista desde antes. Desde el día en que se permitió la venta de teléfonos móviles en Cuba. Teléfonos que funcionan relativamente, dada la falta de redes de antenas que los hagan realmente útiles: pero autorizar los primeros implicaba autorizar la instalación de las segundas.

Como Raúl es un ignorante, ha dicho ante la Asamblea del Poder Popular, es decir, el congreso adicto a la dictadura, que "el socialismo es igualdad de derechos, no de ingresos": ha regresado a 1789 y, lo que es aún peor para él, a 1776, a los principios de las dos únicas grandes revoluciones que ha conocido la historia: la americana y la francesa.

Es una buena actualización: Martí, que encarnaba la revolución nacional burguesa, decía lo mismo, sólo que no hablaba de socialismo. (Ahora, quién sabe de qué hablará Martí, desde que la revolución hizo pasar sus Obras Completas de ocho tomos a cuarenta y tantos...) Los propios soviéticos lo tenían claro: el socialismo, decían, es "dar a cada cual según su capacidad", y el comunismo, el reino de los cielos que sobrevendrá tras la superabundancia que Rusia jamás llegó a conocer, daría "a cada cual según su necesidad". En Cuba, hasta la fecha se ha repartido lo poco que se ha repartido a ojo de buen cubero, según su lealtad.

Lo he recordado muchas veces, pero no está demás repetirlo otra: entre 1960 y 1989, la URSS entregó a Cuba 5.000 millones de dólares al año, 500 dólares per cápita, sólo por el mérito de existir y de encontrarse a 90 millas del territorio de los Estados Unidos. En 1960, era la renta media de los países de la región, de modo que no había necesidad de trabajar para ser como la República Dominicana, con su electricidad, su azúcar y su tabaco nacionalizados por el socialista nacionalista Rafael Leónidas Trujillo.

Ahora dice Raúl, el Chino, el number two, que no se puede seguir así, y que los salarios se ajustarán de acuerdo con la productividad. No ha explicado quién medirá esa productividad, ni a qué mercado irán a parar las mercancías surgidas del estajanovismo oficial. (Stajanov era un "obrero modelo" de la época de Stalin que dio el nombre, tras ganar una medalla a la productividad, al "héroe soviético del trabajo", a lo que en el capitalismo ya se conocía como taylorismo, aunque Taylor no era un proletario sino un ingeniero mecánico metido a economista que decidió racionalizar la producción dividiéndola en diversas fases, es decir, creó la línea de montaje, de la que Chaplin se burló en Tiempos modernos y cuya tragedia expuso Andrei Vajda en El hombre de hierro y El hombre de mármol). Pero está claro que si se incita a la producción es porque se piensa en un mercado.

Uno se inclinaría a pensar en una reconversión de la Isla a la economía de plantación, pero resulta que hay un segundo punto del orden del día del joven Castro: la desreforma agraria, la privatización de la tierra. El retorno a 1959. La tierra ya no es del Estado, sino que empezará a serlo del campesino o, puesto que tienen la puerta explícitamente abierta, de las "grandes empresas", en palabras del dirigente.

La colectivización del campo, que costó millones de vidas en la URRS, se demostró espantosamente ineficaz, entre otras cosas porque se rompieron los lazos que unían al campesinado con la tierra: fue un fracaso económico de raíz afectiva, lo que determina que un hombre cultive con más amor y empeño unas pocas matas de tabaco propias, en tierra propia, que el que pone en el cultivo para otros. Las grandes empresas agrícolas no colectivizan: emplean, y no necesariamente a campesinos tradicionales, sino a personas con capacitación para manejar maquinarias.

La zafra de los diez millones de toneladas de caña de 1970 es una pesadilla que merecería ser olvidada: hecha a machete, a Fidel Castro se le ocurrió que aquélla sería una buena ocasión para moralizar y prohibió el alcohol, ese ron que era y es el combustible básico para un zafrero: cuando reconsideró su decisión y repartió bebida, ya era tarde. Y es que los ingenieros rusos no dedicaron un segundo a crear máquinas para la recogida de la caña. Ahora existen, pero lo más probable es que las grandes empresas que entren en el proceso (Raúl ya debe de saber cuáles, el paquete debe de esta atado y bien atado) hagan lo que hace tiempo se tenía que haber hecho: acabar con el monocultivo.

Tras el anuncio de que se viene el capitalismo (que no el libre mercado: eso es otra cosa), de que hay que prepararse para que vuelva a haber patronos, de que hay que ser más productivos, el Chino Raúl ha dicho que tanto es lo que se va a producir de aquí en más, que la gente ni siquiera se podrá jubilar como hasta ahora, sino más tarde, y que se reconocerá el derecho al pluriempleo: puede usted vender su fuerza de trabajo en el mercado, mientras sea lo bastante fuerte y lo bastante sano para ello, ha venido a prometer. Eso sí: vamos a eliminar los subsidios. Pero ¿qué es el socialismo sin subsidios? Capitalismo, ¿no?

Todo esto se corresponde con dos cosas de las que casi no se ha hablado. La primera, más reciente, es la de que Estados Unidos permite enviar teléfonos móviles a la Isla: los móviles son el símbolo de la transición cubana. La segunda lleva años en preparación y la contó George W. Bush, ese malvado, en una rueda de prensa convocada por sorpresa y a ese solo efecto: existe un fondo internacional destinado a Cuba, un dinero reunido para impedir que la transición se haga con violencia de ningún tipo, una pasta a fondo perdido, disponible para el caso de que a alguien de Miami se le ocurra reclamar su antigua casa, o la que era de sus abuelos en 1959: a ese alguien se le comprará la casa y santas pascuas.

La idea de no romper el tejido social cubano, por defectuoso que sea a estas alturas (y lo es, pero se irá reparando solo cuando empiece a fluir dinero, y de eso en España sabemos la tira), no fue en su origen del propio Bush, sino de José María Aznar. El presidente americano pronuncia más o menos mal su apellido, pero le hizo caso.

Falta poco. La (relativa) libertad económica cuya imperiosa necesidad se va abriendo paso hasta en la cabecita de Raúl Castro tendrá que dar paso sin grandes demoras a las libertades políticas. No hay que aflojar la presión ni un segundo, no hay que conceder el menor espacio a las concesiones de Zapatero y de la UE (las del primero, porque le parecen bien las cosas como están; las de la segunda, porque los eurodiputados aún no han entendido, ni creo que lleguen a entender, que lo económico nunca va solo, a pesar de su propia historia desde 1945). Tenemos que seguir presionando por los presos políticos, por los derechos humanos en Cuba. Recogiendo, como es debido, las promesas, o amenazas, de Raúl Castro, que habló ayer, 12 de julio de 2008: una especie de "espíritu del 12 de febrero". Cuba está en 1974.

Horacio Vázquez-Rial
http://exteriores.libertaddigital.com

Por qué fracasarán las reformas de Raúl Castro


La periodista cubana Arleen Rodríguez, una persona educada y amable, portavoz oficiosa del Gobierno cubano, pasó por Guatemala y se sintió en la obligación de responder a mi artículo "La parálisis psicológica de Raúl Castro". Utilizó para ello El Periódico, mi diario en ese querido país.

Sus argumentos son de varios tipos. Primero, el ataque personal. Según ella, estoy al servicio de Estados Unidos y mi mayor negocio es desacreditar a la revolución. Supuestamente pertenezco a una élite abusadora asentada en Miami que se enriqueció explotando a los cubanos hasta que la revolución la desplazó del poder y se estableció en la Isla el reino de la justicia.

Vamos por partes, como decía Jack el Destripador. No estoy al servicio de Estados Unidos ni vivo en Miami. Vivo en Madrid desde 1970, y mi negocio, razonablemente próspero, ha sido la edición de libros de texto relacionados con la enseñanza de lengua (aproximadamente 1.000), dictar conferencias (unas 200), publicar libros de mi autoría (unos 25 hasta la fecha), escribir artículos (unos 4.000) y moderar y participar en programas de televisión.

Es cierto que una parte (más pequeña de lo que me hubiera gustado) de ese intenso trabajo ha sido dirigida a denunciar los horrores de la dictadura cubana, pero eso es perfectamente natural. Los exiliados lo han hecho siempre: Martí, los republicanos españoles, los luchadores antifascistas y tantos otros. Si el comunismo, a lo largo de medio siglo, le ha costado a Cuba miles de fusilamientos, decenas de miles de presos políticos, dos millones de exiliados y una incontable cantidad de personas ahogadas tratando de escapar de esa pesadilla, lo decente y responsable es que quienes puedan contarle al mundo lo que ahí ha ocurrido no dejen de hacerlo.

Tampoco es verdad que mi familia formara parte de la élite explotadora que tuvo que abandonar Cuba. Lamentablemente, eso no es cierto. Me hubiera encantado que mis padres hubieran sido propietarios de un ingenio azucarero o de una gran empresa, pero no fue así. La próxima vez que vea a Fidel, la señora Rodríguez debe preguntarle cómo era nuestra humilde casa en la calle Tejadillos. Él solía visitarla porque era amigo de mi padre, un simple periodista adscrito al Partido Ortodoxo, y de mi madre, una simple maestra de escuela pública, doctora, eso sí, en Pedagogía. Y a veces venía acompañado por mi tío Pepe Jesús Ginjauma Montaner, jefe de Fidel en la UIR, también una persona de escasos recursos, quien años más tarde me contara exactamente todas las violentas fechorías del Comandante durante su etapa de peligroso gangstercillo universitario.

Quien sí parece que estaba al servicio de Estados Unidos era el padre de Arleen Rodríguez, guantanamero, como ella, ex empleado de la base naval americana en ese rincón de Oriente, luego jubilado. Y quien sí parece vivir como la élite explotadora es la señora Rodríguez, si es verdad la acusación que le hacen de haber adquirido un lujoso apartamento en Línea y F, en el Vedado, mediante el pago ilegal de 25.000 dólares, transacción disfrazada de permuta, según cuenta una de las personas que trabajó con ella en Tricontinental, una revista al servicio de las causas más sanguinarias defendidas por la revolución en "estos años de oprobio y bobería", como decía Borges del peronismo.

En todo caso, lo importante no es si la señora Rodríguez, como tantos cubanos del régimen, predica la virtud y practica la corrupción y la doble moral, sino si es verdad el argumento medular de su artículo: que Raúl Castro sí está cambiando rápidamente, y para ello da dos pruebas: la entrega en usufructo de tierras ociosas a campesinos particulares y el reintegro voluntario de los maestros jubilados.

La señora Rodríguez no entiende que Raúl Castro no está solucionando el problema de fondo de la improductividad cubana, causante de la inmensa pobreza que padece el país, sino sólo colocando parches que en modo alguno van a cambiar la miserable vida de los cubanos. Medio siglo de disparates e involución debieron enseñarle a la periodista que lo que no sirve es el sistema comunista basado en la propiedad estatal, el partido único, la planificación centralizada, el colectivismo y la ausencia de libertades políticas y económicas. En 1922 Ludwig von Mises se lo dijo pacientemente a Lenin en un libro llamado Socialismo, y aquel pequeño carnicero autoritario no le hizo caso.

Yo no voy a perder el tiempo explicándole a la señora Rodríguez la diferencia entre las dos Coreas, entre las dos Alemanias (cuando existían), entre Taiwán y China continental, incluso entre la Cuba precomunista, situada entre los países más prósperos de América Latina, y la de hoy, colocada entre los más pobres, con un PIB per cápita semejante al de Bolivia; pero le dejo la más segura y elemental de las profecías: mientras Cuba sea una dictadura comunista, los cubanos van a vivir triste y miserablemente. Así ha sido siempre en todas las latitudes. En cuanto a la reincorporación de los maestros jubilados, con posibilidades de cobrar salario y retiro, eso sólo prueba que en el desastroso modelo cubano no hay incentivos para convertirse en docente, como no lo hay para ser ingeniero, médico o cualquier cosa, porque esa estúpida manera de organizar a la sociedad es contraria a la naturaleza humana.

Esos casi 800.000 graduados universitarios que existen en la Isla se lo preguntan todos los días: ¿para qué hemos estudiado, si estamos condenados a vivir en la indigencia, víctimas de todas las carencias? ¿No se da cuenta la señora Rodríguez de que en los países normales que cuentan con un buen capital humano suele haber prosperidad general? ¿No es capaz de descubrir que la prueba de que ese sistema, el cubano, no puede generar riqueza radica, precisamente, en que posee un gran capital humano que no le sirve de nada?

¿Dónde está la buena vida en Cuba? ¿Dónde están los incentivos materiales? Exactamente, en la jefatura del Partido y en lo que hace la señora Arleen Rodríguez: en defender la dictadura, en denigrar a quienes denuncian sus excesos, en ocultar los crímenes y barbaridades que ella no ignora. Por eso ella puede viajar al exterior, disponer de dólares y vivir mejor que el 99% de los cubanos. En Cuba los incentivos existen para el que aplaude, no para el que critica. Existen para el que delata, no para el que cuestiona. Existen para el que sale a gritar consignas y se muestra obediente al poder y obsecuente con los jerarcas. Pero ninguna de esas penosas actividades, ninguna, aumenta un ápice la riqueza del país. Todo lo contrario: contribuyen a sostener el error en el que se funda esta minuciosa catástrofe.

Al final de su artículo la señora Rodríguez me recomienda un psiquiatra que me quite la obsesión anticastrista. Temo decirle que es un mal incurable: durará mientras ese cruel disparate continúe haciendo daño a mis compatriotas.

Carlos Alberto Montaner

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La parálisis psicológica de Raúl Castro

¿Qué hace Raúl Castro por estas fechas? Es importante seguirle la pista. Todo el mundo, incluida la nomenklatura que manda en Cuba, sabe que el comunismo está condenado a desaparecer de la Isla. Es el capítulo inconcluso de la Guerra Fría y, eventualmente, el sistema, como sucedió en todas partes, será sustituido por un modo más racional, humano, plural y eficiente de hacer las cosas.

El problema radica en cómo llegamos a ese punto. En su reciente viaje a Brasil lo confesó, en privado y sin micrófonos, uno de los cubanos más prominentes del gobierno: "sabemos que esto llegó a su fin; lo que deseamos es transformar el régimen nosotros mismos, poco a poco, para que no se produzcan grandes descalabros y para que los norteamericanos no secuestren el proceso''.

El brasilero que me lo contó (el mismo que me aseguró, cuando nadie lo creía o lo sabía, que Fidel tenía un cáncer incurable en los intestinos), agregó un dato importante: el acercamiento a Brasil tiene precisamente ese objetivo. Raúl Castro está buscando alternativas al enorme pero poco fiable apoyo venezolano para tratar de capitanear un cambio suave y por etapas.

Pero poco después habló Raúl ante el parlamento cubano. En Cuba las expectativas eran enormes. Fue un discurso muy decepcionante, incluso para los propios castristas, que esperaban anuncios más audaces. De cuanto dijo, lo único realmente importante fue que decretó la muerte del igualitarismo y admitió, por fin, que como todos los seres humanos son distintos y crean riqueza de acuerdo con sus particulares actitudes y aptitudes, les corresponde, por lo tanto, una recompensa acorde con su trabajo. O sea, Raúl, al cabo de medio siglo, descubrió los fundamentos éticos de la economía de mercado: un sistema basado en la existencia de propiedad privada legítimamente obtenida, aunque de ahí se derive la existencia de clases sociales caracterizadas por diferentes niveles de vida.

¿Por qué tanta timidez en emprender el camino de la reforma si el propio gobierno no cesa de dar datos sobre el enorme desastre material que padece el país? El 85% de los edificios se están cayendo, más de la mitad de la tierra fértil está cubierta por un arbusto inservible, allí llamado marabú, que sólo sirve para hacer leña. Tienen que importar casi toda la comida que consumen (Estados Unidos es el primer suministrador de alimentos). El PIB per cápita es como el de Bolivia, el país más pobre de Sudamérica. El monto de las exportaciones es ridículo. No tienen dinero para pagar las deudas a los empresarios que cometieron el error de darles crédito. En suma: una nación absolutamente quebrada, que produce muy poco (la mitad de lo que producen los dominicanos), y en cuyo sistema económico y político ya sólo parece creer Fidel Castro, el viejo y terco Comandante, cristalizado en sus disparates y dispuesto a morir abrazado a sus errores.

La clave que explica por qué Raúl Castro no se atreve a poner en marcha los cambios que el país necesita, pese a que no ignora que ése es el clamor popular, radica en sus relaciones emocionales con Fidel. Eso se dejó ver, muy claramente, en el discurso de marras. Tras acabar la lectura contó, muy orgulloso, que le envió el texto a su hermano para su aprobación y éste se lo devolvió sin una sola corrección. Raúl estaba radiante de felicidad y entonces le mandó un mensaje entre jocoso y obsecuente a Fidel: "¿Sabes por qué soy tan inteligente? Porque todo lo aprendí de ti''.

Raúl está gobernando para complacer a Fidel, no para solucionar los infinitos quebrantos del país. Su agobiada biografía psicológica es ésa: toda una vida tratando de que su admirado hermano mayor lo valore y distinga. Desde niño, y especialmente desde la adolescencia, cuando sus padres lo colocaron bajo el tutelaje de Fidel, Raúl ha intentado conquistar el aprecio de Fidel. Pero Fidel es un narcisista y este tipo de gente está emocionalmente incapacitado para admirar a otros seres humanos. El otro siempre existe para aplaudir, no para ser aplaudido. Fidel, además, sabe que la subordinación psíquica de Raúl le garantiza que su obra, aunque sea un monstruoso fracaso, no será desmantelada mientras él viva. Esa soga invisible colocada en el cuello de su hermano menor, que jamás aflojará, es la garantía de la prolongación (aunque sea provisional) de un régimen en el que ya nadie cree.

¿Qué pasará cuándo Fidel muera? ¿Seguirá Raúl complaciendo al cadáver de su hermano o logrará librarse del yugo? No sé. Raúl tiene 77 años y a esa edad muy poca gente es capaz de cambiar. Su trastorno de personalidad encaja a la perfección dentro del ancho síndrome de la ''codependencia'' y no es nada fácil sacudirse esa cadena. En el fondo, el problema de Cuba está más cerca de la psiquiatría que de la política. Tal vez siempre ha sido así.

Carlos Alberto Montaner
http://www.firmaspress.com

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Asimov e seu prenúncio no conto "A Sensação do Poder"

Quando você precisa discar um número de telefone escrito num papel, memoriza os oito algarismos e disca todos direto? Ou lê os quatro primeiros, disca-os, depois lê os quatro seguintes e disca? Se você se encaixa no segundo caso, fique sabendo: sua memória precisa de exercício.

Quanto à turma que se habituou a digitar texto em vez de manuscrevê-lo, o efeito é arrasador.
Quando não há computador por perto e a pessoa precisa pegar na caneta, só saem garranchos, muitas vezes ilegíveis mesmo por quem escreveu.

E fazer conta? Consegue calcular de cabeça ou usa lápis e papel? Pois, pasme - a grande maioria recorre mesmo à calculadora.

Segundo Erin McCauliff, da Universidade de Villanova, nos EUA, se a criança usar demais a calculadora quando estiver dando os primeiros passos na trilha da matemática, poderá enfrentar dificuldades mais adiante. Se o aluno for ensinado a depender da calculadora, mesmo que apenas para confirmar o resultado de suas contas, sua autoconfiança aritmética poderá ficar abalada quando o aparelho for retirado de cena. Se forem usadas em tenra idade, calculadoras podem dificultar o aprendizado de algoritmos computacionais.

Há quem discorde em parte, como os cientistas Hembree e Dessart que, em estudos feitos em 1986 e 1992, concluíram que a calculadora eletrônica não afetou a capacidade mental dos estudantes que pesquisaram.

Mas é só sair por aí perguntando a seus amigos e conhecidos e a unanimidade será quase total. O uso costumeiro e cada vez maior de ferramentas tecnológicas vem atrofiando a capacidade de raciocínio, memorização e cálculo mental do usuário comum.

Se a coisa continuar como vai, nossos descendentes vão se tornar mais e mais incapazes de usar o cérebro para as mais simples operações, pois terão acesso facilitadíssimo a hardware, software e conexões de alta velocidade que, em conjunto, farão o "trabalho sujo" por eles.

Em 1958, o escritor de ficção científica Isaac Asimov (1920 - 1992) lançou um conto intitulado "The Feeling of Power" (A Sensação de Poder). Nele, Asimov imagina um futuro em que todo humano terá à mão um pequeno computador, que será usado, entre outras coisas, como calculadora. As pessoas perderão o interesse em fazer contas mentalmente ou mesmo no papel.

A Humanidade acabará por se esquecer completamente como é que se faz conta com as quatro operações.

Até que um belo dia, um técnico envelhecido e sem importância, funcionário burocrático, desenvolverá um inusitado passatempo: copiar num papel os números que verá na calculadora. E começará a brincar com eles.

O final é surpreendente. Leia o conto em português, só 11 páginas, em http://tinyurl.com/5wfhen , e depois dê sua opinião .

Carlos Alberto Teixeira - O Globo

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domingo, 27 de julho de 2008

La piedra desechada

1. La gran música de las últimas décadas del siglo XX sabe siempre conjugar la dimensión más material del sonido, o la energía y fuerza que encierra, con formas propias de una inteligencia potenciada al máximo de sus posibilidades.

La música es una gnosis sensorial. Por gnosis debe entenderse un conocimiento que nos cura de la infirmitas. Salud, salvación: ese es el don que puede acogerse -como dice Hölderlin- «cuando arrecia el peligro». La música es un don que proporciona conocimiento, reconocimiento de uno mismo, y promesa de salvación. Musica Dei donum (como se reconoce en el hermoso motete al que puso música, entre otros, Orlando di Lasso).

Cuanto más se eleva y encumbra la música hacia altitudes espirituales más material tiende a ser, o más dedicada a expresar la energía y la potencia que el sonido primigenio encierra. La música más espiritual, o que mejor conduce hacia alturas místicas, suele ser también la más innovadora: de Franz Liszt a Oliver Messiaen, o a Giacinto Scelsi; de Arnold Schönberg a Iannis Xenakis o a Karlheinz Stockhausen, y a John Cage o a Morton Feldman, esa vocación y destino de la mejor música demuestra que mística, espiritualismo e innovación «de vanguardia» suelen ser en música una conjugación necesaria. La mejor música constituye el principal desmentido a la apreciación interesada según la cual el auge de nuevas formas de espiritualismo procede de tendencias conservadoras.

La música sabe unir la orientación espiritual y mística con un tratamiento radical de las dimensiones materiales del sonido. La música hoy se halla empeñada en la emancipación de la foné: de ese dominio matricial del timbre y del colorido sonoro que Arnold Schönberg, al final de su Tratado de Armonía, auguraba como la gran tarea de la música del futuro (y que él mismo pudo comprobar en la creación en la tercera de sus Cinco piezas para orquesta). Desde Gustav Mahler y Claude Debussy hasta György Ligeti y Giacinto Scelsi, esta emancipación de la foné marca la orientación y el destino de la mejor música actual. La gran música -de hoy, de ayer y de mañana- se halla siempre en la intersección entre materia y espíritu.

«La piedra desechada se convertirá en piedra angular»: esta frase del profetismo tardío, ahijada por los evangelios sinópticos para referirse a la buena nueva de Jesús de Nazaret, puede perfectamente adaptarse a la gran revolución musical perpetrada, con la máxima discreción y del modo más espontáneo y natural, por György Ligeti.

De pronto la dimensión menos prometedora de la música en la tradición occidental se constituye en el principio sobre el que van a girar todas las dimensiones del sonido. El colorido tímbrico se yergue en primer principio de la aventura musical.

György Ligeti conduce, de este modo, a la música hacia la tierra prometida. No la anuncia -de forma profética- pero sin llegar a tomar pie en ella. Más que a Moisés, que muere a pocas leguas de la tierra que mana leche y miel, se asemeja a Josué, que la organiza desde bases nuevas. Ligeti ocupa el terreno, lo conquista, lo coloniza y lo recrea desde un punto arquimédeo que le permite hacer girar el orbe entero de la música.

El ámbito del sonido queda enteramente redefinido desde una dimensión que en Occidente había sido desechada: simple añadido final, o condimento decorativo, que concedía el acabado a cualquier composición.

En György Ligeti esa pieza orillada se yergue en piedra basal de todo el edificio sonoro. La trascendencia de esa decisión está a la vista: la música actual desprende todas las consecuencias de esta gran innovación.

El color: eso es lo decisivo. El color tímbrico como cualidad específica del sonido asumido en su radical materialidad.

El color es, siempre, lo más resistente a las estrategias de la Razón Analítica. El estructuralismo no hallaba las mismas dificultades de organización -y mensuración- con la duración, las alturas, las formas de ataque, las intensidades, la dinámica. Todas estas dimensiones parecen cercar, determinar, medir la forma de la sonoridad. Pero el color nos adentra en el hondón de la materia fónica; en su carácter matricial; en la Magna Mater del sonido (y de su posible organización formal).

El verdadero revolucionario no fue Pierre Boulez, ni Karlheinz Stockhausen, ni siquiera Iannis Xenakis (que presagió la tierra prometida, pero sin llegar a colonizarla). Lo fue un extranjero: alguien procedente del extrarradio europeo, superviviente de campos de concentración, fugitivo del terror que aplastó el reformismo húngaro con tanques y deportaciones. Este húngaro que hace su rápido aprendizaje en los laboratorios de electroacústica de Colonia lleva a cabo sin alardes la revolución musical que conduce hasta la música de hoy.

Lo que era centro se convertirá en periferia. Lo que había sido relegado de todo papel principal -color tímbrico, intensidad, dinámica- se erigirá en cimiento de un nuevo modo de entender el universo sonoro. György Ligeti será capaz de hacer girar todas las dimensiones del sonido que se tenían por principales (la altura, la duración) a partir de esa «piedra desechada» convertida en piedra angular del edificio. La materia sonora, el sonido en su dimensión material -en el sentido de «matricial», o relativo a lo «materno» y «maternal»- comparece como el parámetro sobre el cual dan vueltas todos los demás.

2. Se tiende a reconocer, según lo atestigua las investigaciones sobre el cerebro, que la percepción del sonido procede de un centro cerebral distinto de aquél en el que se puede localizar la formación del lenguaje verbal. En el siglo XX se insistió -sobre todo en tradiciones psicoanalíticas- en la remisión de esa aptitud lingüística verbal al papel desempeñado por la figura paterna. Sin ésta el lenguaje no se constituye como tal.

Hay decisivas pruebas embriológicas que permiten sostener que la música responde a la voz materna. La percepción acústica es sorprendentemente prematura en el embrión. El sonido se filtra a través del líquido amniótico. Desde fechas muy tempranas se inicia un discernimiento acústico entre sonidos acogedores y hostiles. La voz materna parece viajar a través de esa masa acuática.

La música tiene su raíz en esa voz materna filtrada por vía acuática. Tenía razón Tales de Mileto: todo surge, nace, procede del elemento líquido. El agua es el medio a través del cual surge el primer conato perceptivo. En la ceguera de la vida intrauterina despunta durante los primeros meses del embrión ese germen inicial del canto de las sirenas.

Cuerpo y alma, cuerpo y espíritu nacen y se despliegan en ese vivero de vida futura que es la cueva intrauterina. Con perspicacia eligieron como recinto de lo sagrado nuestros primeros ancestros cuevas y cavernas: ámbitos cuya resonancia musical se pondera en los últimos tiempos. Tal fue el santuario de la prehistoria. La matriz, la Magna Mater, es siempre el primer principio. Antecede al mundo, al cosmos. En la cueva intrauterina se origina la primera percepción, que es el sonido. Allí se halla el fundamento en el cual se sustenta la música.

La música de hoy se caracteriza por su extraordinaria sensibilidad respecto a esa dimensión materna -matricial y material- del sonido que tiene en el colorido tímbrico su cualidad primaria. Esa radicalización de lo material, lejos de apartarnos de lo espiritual, nos acerca a sus mismas entrañas. Materia y espíritu, en música, y quizás en todas las cosas, si se asumen en todo su rigor, y si se exploran en su máxima hondura, remiten al mismo manantial.

Eugenio Trías
Catedrático de Historia de las Ideas. Filósofo y escritor. Premio Internacional Friedrich Nietzsche.
http://www.eugeniotrias.com/
http://www.upf.edu/iuc/trias/trias2.htm

sábado, 26 de julho de 2008

Randy Pausch, una lección de vida y muerte

Pausch, durante su última lección en la Universidad Carnegie Mellon, en 2007. (Foto: AP)

El 18 de septiembre de 2007, el profesor y científico Randy Pausch tenía previsto dirigirse a 400 estudiantes y colegas de la Universidad Carnegie Mellon para cumplir con una tradición académica denominada 'Última lección' (Last Lecture). Lo que nadie se esperaba es que abriese su intervención con un anuncio: tenía cáncer de páncreas y los médicos le daban entre tres y seis meses de vida. "Es lo que es y no podemos cambiarlo", aseguró, antes de afrontar la charla con un humor y sentido común que le convirtieron en una celebridad.

'Cómo cumplir verdaderamente los sueños de tu infancia' se tituló aquella última lección sobre la perseverancia, una lección de vida y muerte que, gracias a Internet, se convirtió en un éxito mundial y, después, en un libro escrito junto a Jeff Zaslow, reportero del 'Wall Street Journal', titulado 'The Last Lecture'. Hoy es un 'best-seller' que ha llegado a 32 idiomas y ha vendido más de cinco millones de ejemplares.
Incluso Oprah Winfrey llevó a este profesor, pionero de la realidad virtual y fan de Star Trek a su 'show', donde Pausch dio una versión corta de su intervención en la Carnegie Mellon a millones de personas. Un discurso de aproximadamente una hora y cuarto de duración que en YouTube ha sido visto más de tres millones de veces.

"Estoy intentando meterme en una botella que un día aparecerá en la playa para mis hijos", aseguró en aquella lección para intentar explicar sus motivos. No en vano, Pausch, considerado como una de las 100 personas más influyentes por 'Time', insistía en que tanto su charla como su libro estaban preparados para sus hijos, una audiencia de cinco, dos y un año.

Para intentar frenar el cáncer, este profesor se sometió a agresivas cirugías y quimioterapia experimental. Pero la enfermedad siguió su curso y casi 10 meses después de anunciarlo, Pausch falleció en su casa de Chesapeake, Virginia, a los 47 años. Sus últimos meses de vida fueron una verdadera crónica de una muerte anunciada y amplificada por su éxito global en la Red.


Seis sueños hechos realidad

"La experiencia es lo que logras cuando no consigues lo que quieres", escribe en 'The Last Lecture' este científico que no será recordado por sus descubrimientos. "Tocó a muchas personas porque fue auténtico", aseguró a Los Angeles Times Jeff Zaslow, coautor del libro. "Estoy en mejor forma que muchos de vosotros", clama Pausch tras anunciar el cáncer en su 'última lección' antes de ponerse a hacer flexiones.

No quiso hablar de cáncer, sino de sus seis sueños infantiles: estar en gravedad cero, jugar en la NFL, firmar un artículo en la enciclopedia 'World Book', ser el Capitán Kirk, ganar un peluche y ser un creativo de Disney. Consiguió cumplirlos todos, íntegros o en versiones reducidas.
No llegó a Capitán Kirk, pero gracias a su popularidad, el director J. J. Abrams le invitó a interpretar un papel con una línea de texto en la última película de Star Trek, que se estrenará en 2009. También tuvo sus 25 segundos de ingravidez gracias a la NASA. Y la enciclopedia 'World Book' le invitó a escribir su entrada sobre 'realidad virtual', materia en la que es experto.

Tampoco logró su sueño de convertirse en creativo de Disney, pero si les ayudó con algunas atracciones de realidad virtual para Disney World. Y su sueño de jugar en la NFL se vio cumplido a medias cuando, un mes después de su lección, fue invitado a recibir pases en un entrenamiento de los Pittsburgh Steelers.

En la Universidad Carnegie Mellon destacan su "enorme impacto". Jared L. Cohon, presidente del centro, aseguró en un comunicado que su "amor por la enseñanza, su sentido del humor y su brillantez" se unieron para crear Alice, un programa para niños que en un entorno de dibujos amigables les enseña los primeros pasos de la programación.

También aprovechó su fama para llamar la atención sobre la necesidad de investigar el cáncer, sin perder nunca su sentido del humor, heredado de su madre: "Tras doctorarme, mi madre me presentaba así: "Éste es mi hijo. Es doctor, pero no de los que ayudan a la gente", decía sobre ella, que todavía vive y que, por suerte, se equivocó por completo en su predicción.

Sergio Rodríguez
www.elmundo.es

Revelações olímpicas

Visão dos restos do altar de Zeus em Olímpia, local dos antigos Jogos (Foto: Reprodução)

Sem dar um único golpe de pá ou picareta, arqueólogos de três instituições alemãs desvendaram um dos últimos grandes mistérios das Olimpíadas da Antigüidade: onde diabos acontecia a corrida de cavalos que era o grande evento dos ricos e famosos da Grécia. Seguindo as indicações de um escritor do século 2 d.C., a equipe usou sensores magnéticos e radares para identificar a pista de corrida, na qual carros puxados por dois e quatro cavalos se digladiavam pela vitória olímpica.

Acreditava-se que o hipódromo de Olímpia jamais voltaria a ser identificado, porque a área onde ele ficava foi coberta por grossas camadas de sedimentos trazidos por enchentes durante a Idade Média. Restava apenas uma descrição escrita do local e das corridas feita pelo autor grego Pausânias, que discorre sobre a localização do hipódromo, as corridas de carros puxados por cavalos e o mecanismo usado para dar a largada, entre outros detalhes pitorescos.

A nova pesquisa, coordenada pelo historiador do esporte Norbert Müller, da Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz, usou métodos modernos para varrer o chão do antigo santuário de Olímpia. É que construções importantes costumam deixar anomalias no campo magnético dos sedimentos, bem como alterações que podem ser flagradas com a ajuda do radar.

Juntando isso à descoberta do templo de Deméter (deusa grega da fertilidade) perto do hipódromo, estrutura também mencionada pelos escritores antigos, Müller e companhia conseguiram identificar uma estrutura retilínea de 1.200 m de comprimento, que provavelmente corresponde à pista propriamente dita, bem como outra forma circular com quase 10 m de diâmetro, que seria um antigo altar localizado nas dependências do hipódromo.

Para chiques e famosos

Até 24 parelhas ou quartetos de cavalos competiam ao mesmo tempo em Olímpia - além das categorias "dois corcéis" ou "quatro corcéis", também havia categorias para potros jovens e para eqüinos adultos, à semelhança das competições para adolescentes e adultos entre os competidores olímpicos humanos. Como só os gregos (e mais tarde os romanos) muito ricos podiam se dar ao luxo de criar e treinar cavalos para os jogos, a competição envolvia a nata da sociedade helênica.

Pior para os "motoristas" dos carros, os chamados aurigas, que eram pagos para dirigir as equipes de cavalos mas não levavam o prêmio olímpico: o vencedor oficial era o dono dos cavalos, que normalmente estava só assistindo a disputa.

Esse, aliás, era o único jeito de uma mulher ser declarada vencedora numa Olimpíada antiga, uma vez que as competições atléticas eram só para homens. Com seus corcéis velozes, a princesa espartana Cinisca venceu duas vezes a competição com quatro cavalos no começo do século 4 a.C.

Reinaldo José Lopes
G1

http://www.olympia-greece.org/

Antes do adeus


O que você faria se tivesse seis meses de vida pela frente? Vítima de um câncer no pâncreas, o professor Randy Pausch preferiu ensinar seus alunos e filhos a perseguirem seus sonhos de infância. Conheça os segredos por trás de sua mensagem, vista por milhões de pessoas na internet e transformada no best seller “A Lição Final”, e saiba como a medicina e a filosofia começam a trabalhar juntas para nos ajudar a lidar melhor com nosso destino inevitável.

Em meados de 2006 ele sentiu uma dor corriqueira no alto do abdome. Semanas à frente, brota-lhe uma icterícia. Os médicos suspeitam de hepatite. Mas as vozes incontestáveis da tomografia computadorizada moem, em uníssono, aquele coro desagradável da verdade sob números: o professor Randy Pausch é portador de câncer pancreático - aquele que registra a maior taxa de mortalidade dentre todas as modalidades da doença, com metade das vítimas mortas em seis meses e 96% em cinco anos.

A detonação surda dessas verdades, antes de gerar aquela gelada sensação de vazio no fígado, fomentou-lhe um dissuasivo criativo: Randy Pausch virou um militante da vida, numa cálida aula de reiteração do ofício de viver.

Tudo isso virou um best seller de apenas 250 páginas, "A Lição Final", lançado no Brasil pela Editora Agir (saiba como faturar um exemplar no quadro "Concorra"). Num estilo confessionalmente cristalino, a obra coloca em perspectiva uma novíssima tendência da medicina mundial: dotar de discussões sumamente espirituais os pacientes em estado terminal. "Embora em geral eu esteja em excelente forma física, tenho dez tumores no fígado e me restam apenas alguns meses de vida. Sou pai de três crianças e sou casado com a mulher dos meus sonhos. Seria cômodo ficar me lamentando, mas isso não faria bem a eles nem a mim", escreve o professor de ciência da computação, nerd ao osso e um dos maiores especialistas em realidade virtual do mundo.

A trajetória de Pausch, titular da universidade Carnegie Mellon (EUA), tornou-se notória quando subiu ao palco diante de um público de 400 pessoas para apresentar sua palestra de despedida. Cinqüenta dias depois, o registro em vídeo já havia gerado milhões de visitas no YouTube. "Uma coisa é certa: eu não queria que a última aula se concentrasse em meu câncer. Já remoera o suficiente sobre a saga de minha doença. Não me interessava discursar, por exemplo, sobre minhas percepções da doença, como eu a enfrentara ou quanto ela me abrira novas perspectivas. Talvez muitos esperassem uma palestra sobre a morte, mas eu trataria da vida", escreve Pausch em "A Lição Final".

O professor, na tentativa de se pôr a salvo do câncer, tentou de tudo. Submeteu-se à chamada "Operação Whipple", procedimento batizado em homenagem ao médico que o inventou, na década de 1930. Esse tipo de cirurgia, até 1970, matava até 25% dos pacientes a ela submetidos. Por volta do ano 2000, esse risco caiu para 5%. Foi assim que Pausch teve removidos não apenas seus tumores, mas a vesícula, um terço do pâncreas, um terço do estômago e parte do intestino delgado. Depois, passou dois meses no Centro de Oncologia Dr. Anderson, em Houston, submetendo-se à quimioterapia e a doses cavalares diárias de radiação no abdome. Seu peso caiu de 83 para 62 quilos, e ele mal conseguia andar. As urgências pânicas geraram resultados maciços: ele passou a recuperar as forças e as tomografias não mais registravam sinais de câncer.

Mas coube a um oncologista, Carter Wolf, dirigir-se à mulher de Pausch, Jai, e decretar o idôneo testemunho do que estava por vir. "O que estamos tentando fazer é prorrogar o tempo restante de Randy para que ele possa ter a melhor qualidade de vida possível. Porque, na situação atual, a medicina não dispõe de recursos que possam mantê-lo vivo por um período de vida normal." Em seguida, embora repelindo eventualidades improváveis, Dr. Wolf relatou a Jai o pedido de Pausch. "Ele falou em aplicar a quimioterapia paliativa [tratamento que não visa à cura, mas diminui os sintomas e possivelmente prorroga a vida por alguns meses] e buscar meios para mantê-lo bem enquanto o fim se aproxima." E isso vem sendo feito desde então.
Numa imorredoura atmosfera de esperança, o livro de Pausch é, sem dúvida, um astrolábio poderoso para tratativas da morte. Ele simplesmente apaga esse vocábulo do dicionário e o troca pelo apego à vida. E, como bom cientista que é, o professor sistematizou alguns conselhos: o tempo deve ser administrado com precisão, assim como o dinheiro; é sempre possível mudar de plano, desde que se tenha outro; pergunte a si mesmo: está gastando tempo com as coisas erradas?; desenvolva um bom sistema de arquivos; repense o telefone; aprenda a delegar tarefas; tire férias, que "não serão reais se você ficar lendo e-mails ou procurando mensagens".

E, não sem uma dose de ironia e conservadorismo, Pausch decreta: "Prefiro sempre as pessoas sóbrias às modernosas, porque o modernoso tem vida curta, e o sóbrio é duradouro. A sobriedade tem sido altamente subestimada. Ela vem da essência, ao passo que o modernoso tenta impressionar com base na superfície. Gente modernosa adora a paródia. Mas não existem paródias eternas, não é mesmo? Respeito mais as pessoas sóbrias, que realizam algo capaz de durar gerações e que os outros sentem necessidade de parodiar".

A saga de Pausch é emblemática de toda uma tendência, digamos, espiritualizante, na qual muitos médicos e terapeutas têm tentado aninhar-se em nome do bem-estar do paciente. Esses cuidados têm ganhado a definição genérica de "paliativos". O termo deriva do vocábulo latino pallium, que significa manto ou coberta. "Quando a causa não pode ser curada, os sintomas são 'tapados' ou 'cobertos' com tratamentos específicos, como analgésicos. Em inglês, o termo pode ser traduzido como aliviar, mitigar, suavizar. Refere-se ao care (cuidar) em vez de cure (curar), segundo os pioneiros ingleses", diz Léo Pessini, professor no mestrado de bioética do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo. Ele é autor do texto "Vida e Morte, uma Questão de Dignidade", parte do livro "A Arte de Morrer: Visões Plurais" (Editora Comenius), organizado por aquele que é tido como o maior representante, no Brasil, dos médicos que ajudam pacientes em seu caminho final: Franklin Santos, geriatra que comanda a cadeira de pós-graduação em emergências clínicas, na Faculdade de Medicina da USP.

Coordenador do programa Tanatologia, Curso de Educação para a Morte: uma Abordagem Plural e Interdisciplinar, Santos é categórico: "Até meados do século 20, o assunto ainda era um tabu no mundo acadêmico. Para a medicina e a filosofia ocidentais, a morte torna-se, muitas vezes, um ato solitário, mecânico e desumano. Como conseqüência, ela passa a ser não só temida como negada", diz o especialista em tanatologia (do grego tanathos=morte e logos=estudo).

Despreparo existencial

Santos constata a realidade viva e constante da morte nos corredores dos hospitais, sobretudo para aqueles que trabalham na área da saúde - médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais -, notadamente nas salas de emergência e UTIs. "Observa-se aí um despreparo filosófico, psicológico, técnico e até mesmo existencial dos profissionais para lidar com a morte iminente, para falar sobre ela com os familiares dos assistidos e como discuti-la de maneira interdisciplinar", afirma o médico.

A morte é uma experiência humana universal. Questões sobre o seu significado e o que acontece quando morremos são preocupações centrais em todas as culturas desde tempos imemoriais. Diante dela, o ser humano coloca-se frente a questões essenciais. Morrer bem, ter uma morte tranqüila, bem assistida, com amparo médico, social, familiar - tudo isso faz parte do processo educativo para a morte. Trata-se de educar a sociedade para cercar o ato de morrer dos melhores cuidados possíveis. Mas a educação para a morte vai além, porque toca em todos os aspectos interdisciplinares antes mencionados e deveria começar desde as primeiras fases da infância, constituindo um elemento da educação das novas gerações. Eis as bases do curso de tanatologia desenvolvido por Santos na USP.

Discípulo da norte-americana Elisabeth Kubler Ross, papisa da tanatologia médica, o geriatra divide as fases de gente que enfrenta o mesmo problema que Randy Pausch da seguinte forma: "Primeiro há a negação. Depois vem a raiva. Em seguida, aquilo que Ross chama de 'barganha' - como as promessas a Deus, digamos. E aí vem a depressão, que precisa ser vivenciada para que a pessoa interiorize seu problema. Por fim, alcança-se a aceitação". Mas Santos identificou um sexto comportamento. "A esperança está sempre presente, em todas essas fases. Sabe por quê? Simplesmente porque ela é a última que morre", diz.

O médico informa que, na Europa, a tendência é "que até médicos discutam coisas como pós-morte". E relata casos de cegos que, após paradas cardíacas, puderam relatar com detalhes "como eram as roupas, as expressões e os rostos dos médicos que estavam tentando salvá-los". Tudo isso, refere Santos, tem levado a medicina a ser multidisciplinar na tentativa de quebrar seus próprios tabus. "O paciente terminal deve ressignificar seus valores, estabelecer prioridades e equacionar as pendências afetivas", diz. Aparentemente, Pausch tem alcançado esse rumo nos instantes derradeiros de seu vôo.

A tendência de humanizar a morte e dar ao paciente capacidades plurais de rever sua situação tem outros pontos de excelência no Brasil em iniciativas ligadas ao budismo, em especial no Centro de Dharma da Paz, em São Paulo, criado pela terapeuta Bel César. Formada em psicologia clínica e em musicoterapia no Instituto Orff, em Salzburgo, na Áustria, ela escreveu cinco livros sobre filosofia budista tibetana e é conhecida internacionalmente pelo trato de pacientes terminais. "Ninguém muda, jamais, porque está diante da morte. O que muda é o desejo de mudar, a pessoa amadurece no confronto com desafios. A chave está no desejo de mudar", diz Bel (leia entrevista com a terapeuta no quadro "A morte é um despertador para o significado da vida").

De fato, o poder da terapia é tsunâmico quando aplicado com eficácia em pacientes terminais. Até mesmo um cientista lógico como Sr. Spock tem seu lado Capitão Kirk aflorado por ela. Analise as palavras de Randy Pausch: "A terapeuta que eu e Jai freqüentamos tem me ajudado bastante a descobrir estratégias para evitar meu descontrole durante os estressantes exames periódicos da doença. Passei boa parte da vida duvidando da terapia. Hoje, contra a parede, vejo que pode ser extremamente útil. Gostaria de visitar departamentos de oncologia explicando isso para pacientes que tentam resistir sozinhos."

Entre a terapia e a espiritualidade

O engenheiro Claudio Pineda é o coordenador da equipe de voluntários que atuam no Centro de Dharma da Paz. "Prestamos serviços aos necessitados independentemente de sua classe social, credo, raça e religião. Nosso atendimento é complementar à medicina ocidental e está pautado na energia de amor e compaixão", diz. Quanto aos outros credos, muitos têm posições firmes quanto à morte assistida (leia o quadro "E a outra opção?").

Já a jornada do presbiteriano Randy Pausch tingiu-se de poucas matizes religiosas. "Fui criado por pais que acreditavam que a fé era algo muito pessoal. Não discuti religião em minha palestra de despedida, porque queria falar sobre princípios universais que se aplicam a todas as crenças", escreve em "A Lição Final". Mas a fé exerce seu papel: "Desde que recebi o diagnóstico, o pastor tem sido prestativo".

Noves fora, Pausch tornou-se uma celebridade instantânea. Seu ídolo William Shatner (sim, o Capitão Kirk de "Jornada nas Estrelas") enviou-lhe uma foto autografada com uma mensagem positiva. Al Gore discursou ao seu lado na Carnegie Mellon. E George W. Bush mandou-lhe uma carta com o selo presidencial. Isso sem falar nas milhares de mensagens que chegam até ele. Agora o mundo quer saber de sua morte.

Há quem chame de curiosidade mórbida. Outros preferem celebrar seu exemplo. Em entrevista publicada na revista "Time" em abril, respondendo às questões enviadas pelos leitores, Pausch não escondeu que os afagos midiáticos e de anônimos lhe fazem bem: "Tanta gente preocupada comigo protege meu espírito".

Até o fechamento desta edição, em 18 de junho, o site no qual o professor atualiza as informações a seu respeito segue mesclando esperança e más notícias. "Tive um ótimo Dia dos Pais [nos EUA, comemorado em 15 de junho]. Quanto à minha saúde, estou me recuperando da última sessão de quimioterapia. Minha tomografia mais recente mostrou que o câncer segue se espalhando, mas a taxa de crescimento é mais lenta do que deveria ser, o que é bom." A aula de Randy ainda não acabou.


Claudio Julio Tognolli
Galileu, Edição 204 - Jul de 2008

http://revistagalileu.globo.com


MENSAGENS EM UMA GARRAFA

Leia trechos de "A Lição Final", gentilmente cedidos pela Editora Agir

"- 'Acabou', falei para Jai. 'Estou ferrado.'
- 'O que você está querendo dizer?', ela perguntou.
Então mostrei-lhe minhas tomografias e comecei a contar: 'Um, dois, três, quatro, cinco, seis...'
- Ouvi a voz de Jai, em pânico: 'Não me diga que você está contando tumores!'
- 'Sete, oito, nove, dez...' E percebi tudo. O câncer avançara para o meu fígado.

A pretexto de promover uma palestra acadêmica, tentei me colocar dentro de uma garrafa que um dia aportasse à praia, para meus filhos. Se eu fosse pintor, teria pintado para eles. Como sou professor, dei uma aula."

"Agradeci a presença da platéia, contei umas piadas e disse: 'Se olharem minhas tomografias, verão aproximadamente dez tumores em meu fígado. E os médicos disseram que me restam de três a seis meses de boa saúde. E isso há um mês, portanto podem fazer as contas.' "

"Tenho me perguntado se, em parte, eu represento quando estou diante dos outros. Muitos pacientes que sofrem de câncer sentem-se obrigados a aparentar coragem. Será que eu também ajo assim?"

"De algum modo, com o passar do tempo e com os prazos que a vida nos impõe, o certo é nos rendermos"

"Alguém me perguntou o que quero que escrevam na lápide de meu túmulo. E eu respondi: 'Randy Pausch, viveu trinta anos depois de receber o diagnóstico de uma doença terminal'. Garanto que iria me divertir muito nesses trinta anos. Mas, se não tivesse feito isso, me contentaria em me divertir no tempo que me resta."

"Quero que meus filhos me conheçam, conheçam minhas convicções e todas as formas pelas quais as amei. Por causa de suas idades [6, 3 e 1 ano e meio], esquecerão boa parte. Gostaria que elas pudessem entender que tento desesperadamente não deixá-las."


E A OUTRA OPÇÃO?

Oito pontos para refletir sobre a morte assistida, ou eutanásia.

O que segue, com exceção do número 8, são extratos do texto "Aspectos Éticos Referentes à Abreviação da Vida", de autoria da psicóloga Maria Julia Kovács. Ele é parte do livro "A Questão Ética e a Saúde Humana", organizado pelo médico Marco Segre (Editora Ateneu, 2006).

1. Uma pesquisa feita nos EUA com 200 pacientes terminais verificou que apenas 8,5% deles pediram que se apressasse suas mortes.

2. A "Declaração sobre a Eutanásia", de 5 de maio de 1980, é o documento mais completo sobre o tema na religião cristã. A eutanásia é condenada como violação da lei de Deus, ofensa à dignidade humana e crime contra a vida. Mas isso não quer dizer que se tenha de preservar a vida a todo o custo, prolongando o sofrimento.

3. A lei japonesa reprova o suicídio e penaliza aqueles que ajudam os outros a cometê-lo. Entretanto, o auxílio é permitido se no processo houver sofrimento intolerável. É o que acontece no hara kiri, quando o samurai, rasgando seu próprio abdome, tem um auxiliar que o degola.

4. No islamismo, a vida humana é sagrada e tudo deve ser feito para protegê-la. O corpo não deve ser mutilado em vida ou depois da morte.

5. Nos EUA há grupos chamados de "pró-morte com dignidade". O mais famoso deles se chama Sociedade Hemlock - o termo significa cicuta, veneno que o filósofo Sócrates ingeriu como pena capital por ter corrompido a juventude ateniense.

6. Em 2006, a Sociedade Hemlock contabilizava 160 mil membros. Já a Sociedade pelo Direito de Morrer, também nos EUA, somava 147 mil integrantes no mesmo ano.

7. Derek Humphry, autor norte-americano de vários livros sobre eutanásia, também escreveu "Jean's Way: a Love Story" (1976), em que narra como realizou o suicídio assistido de sua esposa.

8. Especula-se que o ex-beatle Paul McCartney teria submetido sua mulher Linda à eutanásia. Ela morreu em 1997, de câncer de mama. Ele nega.


"A MORTE É UM DESPERTADOR PARA O SIGNIFICADO DA VIDA"

Bel César acompanha pacientes terminais utilizando fundamentos filosóficos do budismo tibetano

Autora de cinco livros sobre budismo, a psicóloga Bel César presidiu por 16 anos o Centro de Dharma da Paz Shi De Choe Tsog. Sua seriedade no budismo tibetano fez dela a latino-americana mais próxima do lama Gangchen Rinpoche, que trouxe ao Brasil em 1987. Desde 1992, Bel tem acompanhado de perto seis pacientes terminais a cada ano. Ela é mãe do lama Michel Rinpoche, que, aos 12 anos e por decisão própria, retirou-se ao monastério de Sera Me, na Índia, onde dedica-se aos estudos do budismo tibetano.


Galileu: Você diz que ninguém muda diante da morte. E afirma que o que muda "é o desejo de mudar". Como potencializar esse desejo de mudança num paciente terminal?

Bel César: Lama Guelek Rinpoche disse certa vez que podemos nos preparar para a morte assim como quem se prepara para uma viagem. Se fizermos isso com antecedência, teremos mais chance de lembrar de tudo o que queremos levar. Depois disse: "Quando eu for, não quero ir com raiva, insatisfação, apego ou arrependimento. Eu quero ir como um pássaro que levanta vôo do topo de uma montanha. Quero ir como um espírito livre". Ou seja, o sentido da vida é sair mais leve do que se entrou. Para potencializar esse desejo de mudança, podemos cultivar posturas internas saudáveis. Aqueles que desenvolveram qualidades internas como generosidade, paciência e gratidão em vida saberão melhor como atender suas necessidades emocionais diante da morte. Ela é como a vida: um constante aprendizado de deixar o ressentimento do passado e mover-se para a evolução no futuro. É preciso ter familiaridade com a sensação de uma continuidade positiva. Temos de saber que acumulamos causas positivas e, portanto, teremos efeitos positivos. Uma tarefa para a vida inteira. O budismo nos fala que na hora da morte "devemos prolongar os resultados do bom karma", isto é, focar nossa mente onde acumulamos méritos. Também é fundamental dar um sentido para a sua morte.

Galileu: Relate o caso de Dona Nora, uma senhora de 85 anos que você acompanhou até o final de seus dias.

Bel: Acompanhar Dona Nora foi inesquecível. Já idosa e querida por todos, era uma católica praticante, mas lhe faltava passar por uma compreensão que está além do racional. Um dia, ouvi a clássica pergunta: "O que acontece depois da morte?". Respondi: "Tudo que eu disser pouco vai ajudar se você não estiver se sentindo confiante sobre sua capacidade de entrega. Vamos fazer uma coisa. Feche os olhos e se imagine em um lindo jardim, passeando de mãos dadas com Jesus. É o jardim das quatro estações. Primeiro vocês visitam a primavera. Você diz para Jesus olhar as borboletas e Ele lhe mostra os botões das flores se abrindo..." Dona Nora e Jesus chegaram ao jardim do inverno, onde sentaram-se para descansar sob um grande carvalho sem folhas. O chão estava frio. Em silêncio, eles fecharam os olhos. Dona Nora deitou-se no ombro de Jesus e então Ele lhe disse: "Nora, você sente quanta vida há debaixo da terra pronta para nascer?". Neste momento, ela abriu seus olhos e me olhou emocionada. Apenas disse: "Entendi, Bel, entendi".

Galileu: Fale sobre a pós-adolescente que "clonou" um tumor da própria mãe.

Bel: Acompanhei Marina, uma linda garota de 19 anos que morreu do mesmo câncer que vitimara sua mãe seis meses antes. Ela expressou sua personalidade vibrante e determinada ao estabelecer o momento em que seria sedada. Senti nela o prumo de quem tem a confiança de estar familiarizada consigo mesma. Durante nossos encontros, enquanto ela ainda estava consciente, apesar de não conseguir mais falar, trocamos olhares e eu pude lhe dizer frases inspiradas pela energia calma que ela própria emanava: "Quem sabe lidar com a solidão sabe que tudo está interligado. Portanto, não existem separações, apenas um modo diferente de viver cada momento". Nesse instante, seu pai comentou que ela tinha viajado, aos 16 anos, sozinha, durante vinte dias, pelas praias de Santa Catarina. No dia seguinte, ela escreveu para seu pai e sua irmã: "Estou indo, mas vou cuidar de vocês". Não havia solidão em sua mensagem. Ela confiava na certeza de que se manteria ligada àqueles que amava.

Galileu: Para que o paciente terminal encare bem sua passagem, é necessário que acredite em reencarnação?

Bel: Não. Procuro ajudar os pacientes terminais a superar o medo da separação que surge diante da morte. Criamos situações em que eles possam relaxar até sentirem-se tocados pela sensação de que algo continua. Particularmente, não me envolvo com as possíveis versões que cada religião propõe para esse momento. Acredito que o importante é a pessoa sentir-se confiante em seu estado de entrega. Para tanto, procuro entrar no mundo da pessoa e me sintonizar com uma imagem arquetípica que possa lhe ajudar. Exercícios de visualização, acompanhados da música certa, são ferramentas de grande ajuda.

Galileu: O que é a morte?

Bel: A morte é um despertador que quer nos acordar para o significado da vida a todo momento.


OUTRAS DESPEDIDAS

As lições de outros pacientes terminais

Ao longo de sua pródiga carreira jornalística, o repórter Claudio Julio Tognolli teve a oportunidade d e estar pessoalmente com dois pacientes terminais célebres: Timothy Leary, psicólogo e guru de John Lennon, e o jornalista Paulo Patarra, fundador da revista "Realidade".

Leary escolheu passar seus últimos dias em sua casa, em Los Angeles, recebendo jornalistas para falar sobre o prazer de encarar a morte depois de ter vivido intensamente. Já Paulo Patarra navegou seus últimos dias, sempre de bom humor, na Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo.


Para ler

• "A Lição Final", Randy Pausch. Agir. 2008

• "A Questão Ética e a Saúde Humana", Marco Segre (org.). Ateneu. 2006.

• "A Arte de Morrer: Visões Plurais", Franklin Santos (org.). Comenius. 2007.

• "Mania de Sofrer", Bel César. Gaia. 2006.
 
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