segunda-feira, 28 de julho de 2008

Asimov e seu prenúncio no conto "A Sensação do Poder"

Quando você precisa discar um número de telefone escrito num papel, memoriza os oito algarismos e disca todos direto? Ou lê os quatro primeiros, disca-os, depois lê os quatro seguintes e disca? Se você se encaixa no segundo caso, fique sabendo: sua memória precisa de exercício.

Quanto à turma que se habituou a digitar texto em vez de manuscrevê-lo, o efeito é arrasador.
Quando não há computador por perto e a pessoa precisa pegar na caneta, só saem garranchos, muitas vezes ilegíveis mesmo por quem escreveu.

E fazer conta? Consegue calcular de cabeça ou usa lápis e papel? Pois, pasme - a grande maioria recorre mesmo à calculadora.

Segundo Erin McCauliff, da Universidade de Villanova, nos EUA, se a criança usar demais a calculadora quando estiver dando os primeiros passos na trilha da matemática, poderá enfrentar dificuldades mais adiante. Se o aluno for ensinado a depender da calculadora, mesmo que apenas para confirmar o resultado de suas contas, sua autoconfiança aritmética poderá ficar abalada quando o aparelho for retirado de cena. Se forem usadas em tenra idade, calculadoras podem dificultar o aprendizado de algoritmos computacionais.

Há quem discorde em parte, como os cientistas Hembree e Dessart que, em estudos feitos em 1986 e 1992, concluíram que a calculadora eletrônica não afetou a capacidade mental dos estudantes que pesquisaram.

Mas é só sair por aí perguntando a seus amigos e conhecidos e a unanimidade será quase total. O uso costumeiro e cada vez maior de ferramentas tecnológicas vem atrofiando a capacidade de raciocínio, memorização e cálculo mental do usuário comum.

Se a coisa continuar como vai, nossos descendentes vão se tornar mais e mais incapazes de usar o cérebro para as mais simples operações, pois terão acesso facilitadíssimo a hardware, software e conexões de alta velocidade que, em conjunto, farão o "trabalho sujo" por eles.

Em 1958, o escritor de ficção científica Isaac Asimov (1920 - 1992) lançou um conto intitulado "The Feeling of Power" (A Sensação de Poder). Nele, Asimov imagina um futuro em que todo humano terá à mão um pequeno computador, que será usado, entre outras coisas, como calculadora. As pessoas perderão o interesse em fazer contas mentalmente ou mesmo no papel.

A Humanidade acabará por se esquecer completamente como é que se faz conta com as quatro operações.

Até que um belo dia, um técnico envelhecido e sem importância, funcionário burocrático, desenvolverá um inusitado passatempo: copiar num papel os números que verá na calculadora. E começará a brincar com eles.

O final é surpreendente. Leia o conto em português, só 11 páginas, em http://tinyurl.com/5wfhen , e depois dê sua opinião .

Carlos Alberto Teixeira - O Globo

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