terça-feira, 30 de março de 2010

Acabou o jogo e não a poesia

Ele nos deixou. Apenas mudou de endereço. Talvez para descansar mais. Mas, com certeza sempre estará presente a sua maneira elegante, bonita e apaixonante de falar e escrever sobre esporte e simplesmente dos personagens do futebol.

Se fosse para traduzir em nome de filme, ele seria o "ao mestre com carinho". Um dos profissionais que mais respeitava as modalidades esportivas com o mesmo peso e atenção. Sabia como poucos valorizar o talento. Um cronista de primeira linha. Aliás, jogava na linha dos maiores. Se por um lado os craques produziam em campo por outro necessitavam de sua batuta para mostrar, encantar o apaixonado assistente com a emoção pós-jogo. Na leitura do dia seguinte, no programa que nos faz companhia e informa.

Armando Nogueira, um homem de história, aliás, todos têm uma história, mas, a sua é para contar. Vale à pena.

Introduziu os programas esportivos na televisão. Pode, para os historiadores e críticos afirmarem que em época de ditadura e na Globo era para enganar o povo, o ópio, a mostra do circo, mas para o criador, acredito que foi uma oportunidade de colocar em prática algo que ele mais amava: trabalhar com os gênios.

E trabalhar era o que mais gostava. O trabalhar com as palavras. Brincar de encantar com o simples. Simplesmente, buscava nos momentos simples dos gênios, o start para alavancar produções ricas e duradouras para a história da crônica esportiva brasileira.

Observava como ninguém.

Sentia o gingar mágico e estonteante de Garrincha. Era cutucado pelo toque sutil de um Ganso, o passear para frente, dos adversários, sem dó nem piedade de um Rei Pelé em busca do gol, na facilidade de um baixinho em colocar a menina em contato com a rede, na alegria de participar da festa, sempre, de um fenômeno, na facilidade de voar como um Ademar e na leveza encantadora, flutuante e rápida de um gênio como Cielo. Esses nomes são talentos e muito mais, quando observados pela paixão do esporte deste homem que, não conheci pessoalmente, mas, rendo o reconhecimento e agradecimento pela nossa valorização profissional.

Afirmo com certeza, se para muitos é o jornalismo esportivo o menos importante das editorias foi justamente nela que tivemos gênios, é nela que o amante da boa leitura busca na prateleira da memória qualidade do bom texto, nomes como Nelson Rodrigues e agora, para nossa tristeza, Armando Nogueira.

Nessa hora que descobri a diferença e semelhança dos craques dos campos, quadras, ginásios, pistas e piscinas dos craques da crônica esportiva:

Semelhança: ambos amam e vivem do esporte.

Diferença: uns atletas param e entram para a história, jornalistas morrem para
entrar para a eternidade.

Salve nosso eterno Armando Nogueira!

Alberto Chammas

http://portalimprensa.uol.com.br

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