sexta-feira, 27 de junho de 2008

ABL abre a exposição "Machado vive"

Em 1876, em 'O Mosquito', Rafael Bordalo Pinheiro caricaturou Machado de Assis esculpindo o busto de uma mulher, alusão a Helena, que O Globo publicava em folhetim/ Reprodução

A Academia Brasileira de Letras abre esta sexta-feira, para o público, a exposição "Machado Vive!", em homenagem ao centenário de morte do autor de "Dom Casmurro". Com curadoria do poeta Alexei Bueno, apresenta, entre outras novidades, uma foto inédita de Machado de Assis jovem, pertencente ao acervo de Manoel Portinari Leão. Dividida em 14 módulos, começa mostrando a máscara mortuária de Machado, pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico, numa sala em penumbra. Em seguida, volta-se à infância do escritor, uma das fases menos conhecidas da vida dele, que nasceu em 1839 e cresceu no Morro do Livramento, onde sua família foi agregada na chácara de uma rica viúva. Quando ainda era criança, Machado perdeu a mãe.

- Reconstituo sua ascendência até os avós maternos e paternos. O Machado era um mulato claro, filho de portuguesa pura com mulato claro, que era pintor e dourador, ou seja, um artesão de certo nível, e assinante do Almanaque Laemmert. Em outras palavras, nunca foi tão miserável como dizem, e muito menos tão preto quanto dizem.

No fundo, o Machado era muito mais lusitano do que outra coisa, filho de portuguesa, afilhado de portuguesa muito rica, marido de portuguesa, freqüentador assíduo do Real Gabinete, etc. O Rio, como aliás todos sabem, é a cidade mais lusitana do Brasil, ou, como disse o Luís Edmundo, ao conhecer Portugal na década de 1900, "igualzinho a Lisboa, só que com menos pretos e menos portugueses" - afirma Alexei Bueno.

Depois da infância, a exposição continua com módulo dedicado a sua poesia, com o título "Um poeta canhestro". Seu primeiro livro de poesia é "Crisálidas", de 1864. Em sua juventude, Machado freqüentava o círculo literário que costumava se reunir no Largo do Rossio, ou Praça da Aclamação, atual Tiradentes. Conta-nos Alexei Bueno que, na Praça, "o ponto de encontro preferido dos homens de letras e dos aspirantes a tanto era a loja de Paula Britto, livreiro, poeta e jornalista".

Segundo Bueno, era o ambiente no Largo do Rossio era o de de uma "tertúlia jocosa". Diz ele que "na imediata vizinhança do maior teatro da Corte, o São Pedro de Alcântara - exatamente onde hoje se ergue o João Caetano - Machado de Assis se lançou no caminho sem volta das letras". Em 1861, mesmo antes de lançar seu livro de poesia e antes ainda de se lançar como romancista, publica a comédia "Desencantos".

A exposição mostra, ainda, a influência do romantismo no início da sua carreira literária, sua ligação com a música (ele era um melômano), sua relação com a mulher, a amada Carolina Xavier de Novais, a gênese de romances como "Memórias póstumas de Brás Cubas", que escreveu em 1878 e publicou em 1881, com o qual marca a sua virada de autor das grandes obras pelas quais é sobretudo conhecido (como "Dom Casmurro" e "Memorial de Aires", seu último livro, de 1908). Também há módulos sobre o Machado de Assis "funcionário público exemplar", as influências literárias que sofreu, suas amizades e inimizades. Os módulos finais são "A doença, a dor, a loucura e a morte", "Essa glória que fica, eleva, honra e consola" e "O leito derradeiro".

O próprio Alexei Bueno, colecionador de objetos antigos, mostra na exposição algumas peças suas: um lindo cartão postal, como diz, todo escrito pelo Machado, sobre o céu de uma Avenida Central recém-inaugurada, em 1906.

O Globo

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